Campo de treinamento recém-construído, alojamento para dezenas de jovens, equipe multidisciplinar para assistência aos atletas. Time talentoso, que soma títulos recentes como a Copa Votorantim e o Metropolitano sub-15. A estrutura invejável montada em Colombo pertence ao Clube Atlético Paraná, ou simplesmente ?Capa?, novo parceiro do Atlético Paranaense na categoria infantil. Só resta uma interrogação: toda essa estrutura realmente funciona em benefício do Rubro-Negro?
Na prática, o Atlético terceirizou seu futebol infantil ao Capa, em atividade desde o ano passado. São cerca de 40 atletas de 12 a 15 anos oriundos de várias partes do País, que moram, comem e treinam no CT do Caqui, ampla área na zona rural de Colombo. Nas competições, o time gerenciado pelo Capa usa a camisa atleticana.
O projeto iniciou há um ano e três meses e tem projeção de lucro a longo prazo. Segundo o presidente do clube, Luís Carlos Silveira, também gerente do Sítio do Caqui – local que abriga o CT e espaço para eventos – o orçamento mensal do Capa é de aproximadamente R$ 25 mil. Os custos incluem alimentação, manutenção do alojamento para 24 jovens e demais instalações, transporte dos atletas à escola (eles são obrigados a estarem matriculados) e custos com pessoal. O Atlético fornece apenas a comissão técnica.
A perspectiva de retorno para a empresa é superior a cinco anos. ?Não há qualquer reembolso do Atlético. Só entrará dinheiro quando um jogador for vendido. É um negócio de risco?, diz Silveira, que afirma não saber o percentual destinado ao clube quando um jogador formado ali for negociado.
O Atlético tem a preferência de escolher os atletas que passam ao juvenil, categoria controlada pelo clube. Os demais ficam livres para buscar outro destino, mesmo que seja um rival da capital.
Os custos são bancados pelo empresário Marcos Aurélio de Abreu Rodrigues e Silva, dono de toda a área do Sítio do Caqui, investidor do PSTC, de Londrina, e proprietário da empresa Employer. Sua antiga amizade com o presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Mário Celso Petraglia, é bastante conhecida.
Apesar de ter se livrado do alto custo para formação dos jovens, a terceirização do departamento é uma faca de dois gumes para o Rubro-Negro, pois ao mesmo tempo perde a totalidade do lucro numa futura negociação. Por outro lado, há tempos o Furacão não fatura com um atleta saído de suas categorias de base, com exceção daqueles oriundos do PSTC, como Kléberson, Jádson, Fernandinho e Dagoberto. Se o convênio com o Capa é um bom negócio, só o tempo dirá.
Vida dura do futebol
Virar uma das promessas do Capa-Atlético não é fácil. Diariamente os candidatos surgem através de indicações, inscrições espontâneas ou encaminhamento de algum dos olheiros espalhados pelo País, e então passam por uma seleção rigorosa.
Hoje, o CT do Caqui acomoda cerca de 40 garotos de 12 a 15 anos – o número não é exato porque o time vive período entre temporadas. Além das atividades futebolísticas, os jovens são acompanhados por psicólogos e pedagogos e podem participar de atividades extracurriculares, como teatro, capoeira ou curso de línguas. ?Temos papel importante na formação destes jovens, que muitas vezes são carentes. Se a carreira como atleta não decolar, formamos um cidadão?, diz o presidente do clube, Luís Carlos Silveira.
A partir dos 16 anos, o atleta pode assinar seu primeiro contrato. Antes disso, segurar os meninos no clube nem sempre é uma garantia. Jovens que se destacam são assediados por empresários, que oferecem pequenos benefícios em troca de uma procuração para negociá-los. Seduzidos pela oportunidade, muitos pais acabam concordando e entregando o destino do garoto ao novo procurador. Assim vários jovens talentos deixam o País rumo a centros do segundo escalão do futebol, antes mesmo de vestir a camisa de um clube profissional brasileiro. ?Não podemos fazer nada. Nem é nossa política entrar em atrito. Só tentamos mostrar aos pais que o menino tem muito mais estando vinculado a um grande clube?, comenta Silveira.
Nesta semana, os atletas do Capa voltam das férias e começam a preparação para a 6.ª Copa Brasil sub-15, a partir do dia 21, em Londrina.
