O Atlético-PR vem se tornando um case de sucesso no combate à violência no futebol, além de importante aliado dos órgãos responsáveis pela segurança pública no Paraná. Graças ao seu sistema de biometria que cadastra e identifica todo torcedor presente aos jogos na Arena da Baixada, o clube tem ajudado na captura de criminosos, mesmo os envolvidos em delitos não relacionados a eventos esportivos. Não à toa, situações em que indivíduos são pegos de surpresa pelo policiamento ainda nas catracas do estádio vêm se repetindo.

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Na última quarta-feira, por exemplo, quando a reportagem do Estado esteve no local, duas pessoas que tinham mandados de prisão expedidos foram capturadas antes da partida entre os donos da casa e o Vasco, em jogo atrasado da 15ª rodada do Brasileirão. Foi a 13ª ocorrência deste tipo desde que a biometria passou a ser adotada em 100% da arena, em setembro do ano passado.

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A tecnologia já havia sido implementada em 2015, mas apenas para registrar integrantes de torcidas organizadas, como acontece também nos estádios de Grêmio e Internacional, em Porto Alegre. Há quase um ano, mesmo os fãs do time visitante na Arena precisam estar devidamente catalogados. Caso contrário, não entram.

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“O sistema da biometria tem colaborado de forma efetiva para a segurança do Estado. Ele possui dois aspectos fundamentais: repressivo e preventivo. Repressivo na medida que é retirado de circulação aquele indivíduo que já tem contra si um mandado de prisão ou o baderneiro que já foi impedido por meio de uma medida restritiva judicial de comparecer ao evento. E preventivo porque esse torcedor que sabe que tem algo em aberto na Justiça também não comparece ao jogo”, diz Ricardo Henrique Ferreira Jentzsch, juiz auxiliar da 2ª Vice-Presidência do TJ-PR (Tribunal de Justiça do Paraná). Todos que entram na Arena da Baixada são obrigados a passar pela biometria.

Ela, por si só, não explica o sucesso da empreitada. O xis da questão é ter um banco de dados interligado entre clube e poder público. No Paraná, cerca de dois terços dos seus mais de 11 milhões de habitantes já fizeram o cadastramento biométrico. Graças a um convênio do Atlético-PR com TJ-PR, Detran-PR, Secretaria de Segurança Pública e Celepar (Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná), o sistema da Arena está conectado à essa base digital.

“O Atlético não tem acesso às informações das pessoas. Na verdade, o sistema informa se aquela biometria corresponde mesmo à da pessoa”, diz Ronildo Finger Barbosa, coordenador de segurança do clube paranaense. Assim, se o cidadão em dívida com a Justiça tentar entrar no estádio, os dados fornecidos pela sua impressão digital vão gerar um código de erro barrando imediatamente o acesso. É quando um supervisor do clube que trabalha nas catracas é chamado e, caso confirme que se trata de impedimento por delito cometido, avisa o policiamento.

“A gente não sabe do que se trata, se é um mandado porque o cara roubou, se é traficante… Não é nossa função nos envolvermos nisso. É até melhor. Imagina se fico sabendo e falo para o supervisor: ‘Olha, hoje na sua catraca vai aparecer um cara que já matou uns 15’. Vai passar mal”, explica Barbosa.

Além de identificar criminosos pregressos, o sistema de segurança ajuda a solucionar novas ocorrências durante os jogos. O coordenador mostrou ao Estado imagens captadas pelas 130 câmeras de alta resolução espalhadas pelo estádio que flagraram um furto durante o jogo contra o Corinthians, em novembro passado. A vítima avisou que tivera sua bolsa furtada e desconfiava de um rapaz sentado atrás dela. Mostrou uma selfie tirada pouco antes, na qual o suspeito aparecia. Munida das informações do ingresso que indicavam exatamente em qual cadeira ela estava sentada, a equipe de segurança buscou imagens que flagraram a ação. Confirmado o furto, rastrearam o sujeito para saber por qual catraca ele havia entrado. Com os dados gerados pela biometria, já tinham as informações necessárias para fornecer aos órgãos competentes.

EXEMPLO – De acordo com Barbosa, representantes de vários clubes do Brasil e do exterior já trocaram informações com o Atlético-PR sobre o sistema. Autoridades de outros Estados têm se interessado pelo modelo de parceria com o Poder Judiciário. Neste ano, membros da Federação de Futebol, do Ministério Público e da Secretaria de Segurança do Rio visitaram a Arena. Para se aplicar o modelo no Brasil, porém, há dois problemas: custo (as catracas com recursos da biometria custam R$ 30 mil cada) e dificuldade em reunir uma base digital de dados. O Paraná já deu esse passo.

TORCIDA APROVA – A maioria dos torcedores abordados pela reportagem no dia do jogo contra o Vasco, quarta, quando mais de 12 mil foram ao estádio, aprova a biometria obrigatória na Arena. Por outro lado, alguns lamentam o fato de não poderem mais ceder seus ingressos para que amigos ou parentes possam utilizá-lo caso tenham problema de última hora que inviabilize a presença.

“Esse é o único ponto negativo. Sou sócia há muito tempo e não consigo mais passar a carteirinha para outra pessoa”, disse a turismóloga Daiana Marcos, de 37 anos. Ela admitiu, porém, que a medida era útil no sentido de coibir outro problema recorrente nos estádios e extinto dos arredores da casa atleticana: os cambistas.

O próprio clube admite a perda de sócios-torcedores desde que a biometria passou a valer a todos. Mas aposta que o clima de segurança compense eventuais quedas de arrecadação. “Eu me sinto bem mais segura. Meus filhos tinham o hábito de ir ao Maracanã, isso aqui está perfeito”, contou Silvana Aparecida Andrade, 40 anos, que recentemente trocou o Rio por Curitiba e estava acompanhada dos filhos Matheus, 11, e Bruno Costa, 7.

“Como o cadastro está interligado, dá essa sensação de que estamos mais seguros mesmo. Não vejo nenhum problema em ser revistado ou passar pela biometria”, concordou o professor Rogério Luiz Zeni, de 54, ao lado da filha Mariana e de uma amiga dela, Anette, ambas de 16.

Nem todos, porém, veem tanta diferença com as novas regras. “O problema é fora e não dentro do estádio. A segurança maior é para o clube, não para nós”, opinou a dentista Ana Carolina Cerci, 31, ao lado da amiga, a psicóloga Cauhana Pinheiro.