A Arena se transformou num verdadeiro salão de festas. Nas últimas cinco partidas do Atlético dentro de casa, o time conquistou apenas um ponto. Os outros 14 foram dados de presente para Gama, São Paulo, São Caetano, Ponte Preta e até para o cambaleante Internacional. Ontem, foi a vez dos gaúchos chegarem ao Joaquim Américo e saírem de campo com uma vitória e a reabilitação na bagagem para Porto Alegre. Com a derrota por 3 a 2, o Rubro-Negro caiu para a 15.ª posição e já fica ameaçado de rebaixamento.
Era a estréia do técnico Abel Braga e a expectativa era de que a maré baixa fosse afastada com uma chacoalhada no elenco. Até um “motivador” foi chamado “de fora” para pôr em ordem a cabeça do elenco. Segundo apurou a reportagem da Tribuna, até o presidente Mário Celso Petraglia teria se emocionado com as palavras do misterioso profissional (o nome e sua função não foram divulgados).
A pilha extra dada pelo “motivador” e pela presença de Abelão quase deram certo no primeiro tempo. Parecia outra equipe ou aquela que o torcedor gosta de assistir e pede sua volta. O Furacão envolvia os gaúchos com jogadas trabalhadas, disposição e categoria. O Inter apelava para o pontapé para parar os rápidos atleticanos. A torcida cumpriu a sua parte e apoiava o time, que esbarrava na falta de pontaria ou na tarde inspirada do goleiro Clêmer.
Mesmo a com a desvantagem no placar, já que os colorados abriram o placar com Mahicon Librelatto, o time não se acanhou e foi para cima buscar o empate. A jogada saiu após uma roubada de bola de Adriano, que serviu Alex Mineiro. O atacante voltou a marcar e ensaio uma paz com a torcida. Não deu.
Se o time criou e perdeu várias chances na primeira metade da partida (e por isso foi aplaudido na ida para o vestiário), no segundo tempo, tudo mudou. A equipe gaúcha desempatou logo no início, através de Luis Alberto, e nem com um jogador a mais fez o Atlético convencer a torcida de que as coisas iriam mudar. Nem o técnico ajudou. Tirou um zagueiro para colocar o meia Rodrigo, que já entrou vaiado e pouco acrescentou. Logo em seguida, atendeu o pedido da torcida para substituir Alessandro e acabou tirando Cocito para colocar mais um marcador. O time virou uma bagunça só. Aos 28, a pá de cal. O zagueiro Luís Alberto fez o seu segundo gol no jogo e deu a deixa para a torcida Os Fanáticos virar de costas e a galera rubro-negra começar a deixar a Arena cantando “vergonha, vergonha” e “cachaça, cachaça”. O lateral-esquerdo Fabiano ainda diminuiu o placar, mas ouviu uma sonora vaia pelo tento anotado.
Petraglia se irrita e põe cargo à disposição
O presidente Mário Celso Petraglia, do Atlético, colocou ontem seu cargo à disposição após mais um vexame de seu time, em casa, pelo campeonato brasileiro. O desabafo veio após a notícia de que torcedores rubro-negros estariam depredando alguns carros de jogadores. Revoltado com a posição da torcida, ele lembrou que o Rubro-Negro não é invencível e que os resultados ruins fazem parte do esporte.
“Eu prometi que nessa gestão nós faríamos um esforço muito grande para terminar a nossa Baixada. Se a torcida não quiser, eu me demito amanhã (hoje) e vem outro e continua o nosso trabalho”, ameaçou. O dirigente lamentou o descrédito do torcedor em relação ao time e até pela sua gestão. “Eu não prometi o bicampeonato. Eu reconheço que cada um tem o livre arbítrio para julgar as coisas. Mas, algumas coisas chateiam. Mais chateado do que ninguém estou eu, que sou presidente do clube”, disparou.
Apesar de dar o direito do torcedor protestar, Petraglia não concordou com a agressividade de parte da torcida, que partiu para cima dos jogadores. “Quando a torcida é irracional, a gente fica com vontade de ir cuidar de outras coisas, quem sabe, contribuir com orfanatos. Porque, eu vou continuar me doando para coisas nobres. Eu achei que o Atlético era, não me arrependo, a causa do Atlético era nobre, mas continuaremos ajudando.”
Baixada a poeira, o time tem uma semana inteira para se preparar e encarar um campeonato à parte dentro do Brasileirão. Novas providências deverão ser tomadas, entre elas, mudanças no elenco e comissão técnica. “Nós vamos nos reunir, toda a direção e a comissão técnica. Temos pela frente o Atletiba, que é um jogo emblemático, e não gostaria de perder. Nós estamos fazendo aquilo que nossa consciência manda”, finalizou.
Torcida apedreja carros
A tensão entre torcida e jogadores do Atlético descambou para a violência após a derrota de ontem para o Internacional. Vários atletas foram atacados e tiveram seus carros apedrejados após deixarem a Arena. A revolta só foi contida com a atuação da Polícia Militar, que dispersou os torcedores que ficaram na Rua Coronel Dulcídio esperando os atletas.
Entre os jogadores que ficaram no prejuízo estavam os atacantes Alex Mineiro e Dagoberto e o meia Adriano. Todos eles tiveram os vidros de seus carros quebrados, além da lataria amassada. Segundo testemunhas, Alex só conseguiu fugir furando o sinal e saindo em disparada. O mais aguardado na saída era o ala-direito Alessandro, mas este conseguiu sair antes e conseguiu se livrar da fúria da torcida.
Durante a partida, a facção organizada Os Fanáticos, de costas para o campo, cantou uma música dizendo que o clube não precisava mais do jogador. Esta não foi a primeira vez que aconteceu conflito entre as partes. Em Florianópolis, na quarta-feira passada, o time teve que esperar mais de uma hora e meia para deixar o Estádio Orlando Scarpelli após derrota para o Figueirense. Só conseguiu iniciar viagem de volta a Curitiba com a ajuda da PM catarinense. Mesmo assim, o ônibus levou uma pedrada.
Time
É com esse clima nervoso que a equipe vai se preparar para enfrentar o Coritiba, sábado, na Arena. Ainda por cima, o técnico Abel Braga não poderá contar com o ala-esquerdo Fabiano (suspenso pelo terceiro cartão amarelo) e Gustavo (expulso). As novidades deverão ser a volta de Kléber ao ataque, de Ivan na ala-esquerda e, provavelmente, Wellington Paulo na zaga.
