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Coração Valente fez dois, |
O elenco atleticano não tem bola de cristal, mas acertou em cheio a previsão de um jogo difícil em Campinas. Ontem, no Moisés Lucarelli, o time bateu a Ponte Preta por 3 a 2 e passou sufoco em alguns momentos, especialmente na segunda etapa. No entanto, o que valeu no final das contas foram os três pontos, que mantêm o Furacão no topo da tabela e a quatro rodadas do bicampeonato brasileiro. De quebra, o atacante Washington, com 32 gols, se transformou no maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro, desde 1971.
Com um esquema bem amarrado, a Ponte Preta entrou em campo tomando a iniciativa e tentando quebrar a velocidade atleticana. E nem sempre quem tenta consegue. Aos 9 minutos, Jádson cobrou rapidamente uma falta e serviu Denis Marques, que cruzou redondo da linha de fundo. Washington só precisou tocar para a rede.
A vantagem no marcador deu mais tranqüilidade à equipe, que esperava a Macaca vir para cima e, nas roubadas de bola, partia em contra-ataques venenosos. Em um deles, Fernandinho avançou pela direita e cruzou na cabeça de Marinho, que surgiu como elemento surpresa, ampliando.
Tudo corria às mil maravilhas quando veio o intervalo. E com ele uma mexida de efeito do técnico Nenê Santana. Ao escalar Roger no ataque, o time ganhou mais técnica no setor ofensivo e o time voltou com tudo na etapa final. Um pouco desligado, o Rubro-Negro acabou pagando pela distração. Aos 6 minutos, Roger tentou, Diego deu rebote e nenhum defensor estava marcando Alecsandro, que diminuiu. O goleiro, injuriado, reclamou muito com seus companheiros.
Se já estava melhor que o Furacão, com o gol a Ponte ganhou mais ânimo ainda e passou a dominar o jogo do meio para frente. Acuado na defesa, as chances do Atlético escassearam e chegou-se a temer o pior. Mas quem tem Washington nunca desiste. Aos 32 minutos, fugindo um pouco do tradicional, o artilheiro tomou para si a responsabilidade de cobrar uma falta na diagonal. Confiante, bateu rasteiro e correu para o abraço.
Lutando muito, a Ponte correu mais uma vez para mudar o placar e conseguiu com mais uma forcinha da defesa atleticana. No toque de cabeça para cabeça, Alecsandro deixou mais um. Curiosamente, o algoz atleticano é filho de Lela, craque dos anos 80 do Coritiba que infernizou muitas vezes a defesa rubro-negra.
Mas os dois gols da Ponte não foram suficientes para acabar com a festa atleticana, que tem apenas mais quatro jogos pela frente para confirmar o título.
Levir não gosta dos erros da defesa
Foi bom, mas poderia ter sido melhor. Com essa frase de efeito, o técnico Levir Culpi reconheceu que, apesar de satisfeito com o resultado do jogo, o time teve falhas.
"Hoje houve um desequilíbrio entre sistema defensivo e ofensivo. A defesa não se houve bem", disse o treinador. De fato, os dois gols do adversário vieram em bobeadas da defesa. No primeiro, Diego teve que fazer uma defesa à queima-roupa, deu rebote e ninguém tirou. No segundo, os adversários tabelaram de cabeça, sem que a zaga interceptasse a bola. No entanto, apesar de crítico, o técnico reconheceu que a defesa tem sido o ponto de referência do time. "Eles vêm bem e hoje foi uma exceção", disse.
Para o treinador, o primeiro tempo foi muito bom e na segunda etapa o time desandou um pouco e deixou a Macaca chegar. "Não podemos deixar isso acontecer a essa altura do campeonato. Estamos a quatro rodadas do término do campeonato e todo o cuidado é pouco", diz Levir.
Por isso mesmo, durante a semana, o treinador promete pegar forte nos treinamentos de preparação para a partida contra o Grêmio, que será domingo, em Erechim. Como nenhum jogador pendurado tomou cartão – Diego, Marcão e Alan Bahia estão com dois – mais uma vez Culpi contará com força total contra o Tricolor. O elenco folga hoje e volta aos trabalhos na terça-feira pela manhã, no CT do Caju.
CAMPEONATO BRASILEIRO
42ª Rodada
Local: Estádio Moisés Lucarelli.
Árbitro: Carlos Eugênio Simon (RS).
Assistentes: Altemar Hausmann e Villi Tissot (RS).
Gols: Washington aos 9, Marinho aos 31 minutos do 1º tempo; Alecsandro aos 6 e aos 40 e Washington aos 32 minutos do 2º tempo.
Cartão amarelo: Bill e Flávio
Público pagante: não divulgado.
Renda: não divulgada.
Ponte Preta 2×3 Atlético
Ponte Preta: Aranha; Ângelo (Danilo), Gustavo e Alexandre; Bill, Marcus Vinícius, Romeu, Ricardo Conceição e Flávio (Vander); Alecsandro e Júlio César (Roger). Técnico: Nenê Santana.
Atlético: Diego; Marinho, Rogério Correia e Marcão (Igor); Fernandinho, Fabiano (Pingo), Alan Bahia, Jádson e Ivan; Washington e Denis Marques (Willian). Técnico: Levir Culpi.
Meu nome é Washingol
A poeta paranaense Helena Kolody, em uma de suas obras, diz que Deus dá a todos uma estrela. E que uns fazem dela um sol, outros nem conseguem vê-la. Certamente, o atacante Washington se encaixa no primeiro caso: tem uma estrela de quinta grandeza. Exemplo de superação, o jogador parece ter vindo ao mundo pra bater recordes e derrubar obstáculos. Há tempos ele já havia se consagrado como maior artilheiro atleticano em Brasileiros – Kléber e Alex Mineiro marcaram 17 cada um.
Ontem, no estádio Moisés Lucarelli, ele bateu mais um. E bem mais saboroso. Com os dois gols marcados contra a Ponte, ele chegou à impressionante marca de 32 gols, passando o atacante Dimba, que no ano passado marcou 31. "É um dos dias mais felizes da minha vida", disse o goleador, que chorou de alegria quando assinalou o segundo gol do jogo. Agradecido, ajoelhou-se no gramado e olhou para o céu, numa prece silenciosa. Os companheiros de equipe se juntaram a ele e comemoraram como se fosse um gol de título. Apesar de estar torcendo contra o Atlético, a torcida alvinegra se rendeu à festa e aplaudiu o jogador. Por coincidência, foi justamente com a camisa da Ponte Preta que ele quase conquistou a primeira artilharia da carreira. Foi em 2001, quando perdeu a disputa para Romário na última rodada. "Estávamos empatados com 18 e ele acabou me passando na última rodada. Agora, ninguém me pega", comemora.
Entretanto, apesar de toda a felicidade, Washington não se diz satisfeito. Com ou sem artilharia, o que o matador quer de verdade é ser campeão. "É o nosso objetivo maior. Sei que os gols ajudam nessa busca. Mas alegria total só terei mesmo quando formos campeões." Aliás, traçar sempre novos objetivos é o lema de Washington, que parece sempre querer mais. "O ser humano não tem limites. Temos que sempre traçar objetivos e ter força para chegar a eles. Eu estou tendo."