Atlético é um na Libertadores e outro, bem pior, no Brasileiro

Tal qual O médico e o monstro, o Atlético continua vivendo sua dupla personalidade. Enquanto na Copa Libertadores está entre os oito melhores da América e em busca do título inédito, no Campeonato Brasileiro segue o seu calvário, perdeu a sexta partida seguida na pior estréia da história, é lanterna e já começa a deixar a torcida preocupada quanto ao rebaixamento. Ontem, nem a estréia de Antônio Lopes salvou o time. Jogando um péssimo futebol, sucumbiu ao modesto Botafogo por 2 a 0, no Rio de Janeiro.

Depois da heróica classificação pelo torneio internacional, diante do Cerro Porteño, seria quase impossível fazer com que os jogadores pensassem em outra coisa se não a partida contra o Santos. Nem o Peixe parece ter se concentrado no Nacional e também perdeu. Pior para o Rubro-Negro, que não conseguiu sequer marcar um ponto no Brasileiro, já está a quatro pontos do penúltimo, a seis pontos da fuga do rebaixamente e a 15 do líder. A situação só não é desesperadora para o vice-campeão do ano passado porque a Libertadores já é a redenção da temporada com a melhor campanha na história.

Na partida de ontem, pouca coisa mudou em relação às derrotas para Ponte Preta, Juventude, Santos, Corinthians e Internacional. Muitos passes errados, pouca armação e quase nenhum ataque. Não bastasse isso, Cléo sentiu uma lesão e não jogou, Aloísio só pôde entrar no segundo tempo, e jogadores importantes como Fabrício, Rodrigo e Lima não reeditaram atuações anteriores. Nem a garra mostrada em Assunção esteve presente na Arena Petrobras. Até Diego falhou e permitiu que Rafael Marques cabeceasse uma bola para o gol aos 52 segundos de partida.

A reação atleticana foi apenas territorial. O time de Antônio Lopes ganhou espaços, tocou a bola, mas as conclusões esbarraram na trave ou nas mãos de Jéfferson, mas foram poucas e mal trabalhadas. Líder, apesar de não mostrar um grande futebol, a equipe de Paulo César Gusmão usou a velha fórmula de explorar os contra-ataques depois de ter aberto o placar. Com a exposição da defesa rubro-negra, não foi difícil fazer o segundo e poderia até ter surgido um terceiro gol. O meia Almir teve a incubência de sacramentar o placar ainda no começo do segundo tempo após várias tabelas na defesa do Furacão.

Todo mundo pro divã no Rubro-Negro

O lado psicológico do Atlético volta a ser o ponto principal atacado pelo técnico Antônio Lopes na véspera da partida contra o Santos, pela Copa Libertadores. Já são oito derrotas nas últimas nove partidas e o time ainda tem que conviver com desfalques. Após a derrota para o Botafogo pelo Campeonato Brasileiro, o treinador perde o zagueiro Baloy e o lateral-esquerdo Marín, que vão servir suas seleções e não atuam contra o Peixe na quarta.

?Temos que trabalhar a parte psicológica nas reuniões, na cabeça dos jogadores, já conversamos com eles e o trabalho que tem que fazer é que o grupo é bom, é competente e tem condição de sair dessa situação?, aponta Lopes. Segundo ele, a equipe sente a falta de vários titulares afastados, mas não dá para ficar lamentando. ?Não adianta a gente ficar chorando estes problemas de jogadores lesionados. O importante agora é trabalhar e a gente vai ter que ter uma arrancada boa?, projeta.

Para ele, o time se aplicou bastante na partida no Rio de Janeiro. ?A equipe errou um pouco na parte técnica, principalmente no fundamento passe, um pouco dispersa, faltando trabalhar a velocidade e o sistema de marcação que tem que melhorar também?, analisa. De qualquer forma, ele elogiou o adversário e considerou o resultado justo. ?A gente poderia ter um resultado melhor, mas o Botafogo foi mais competente porque conseguiu fazer os dois gols?, finaliza.

Diante do Santos, partida programada para as 19h15 de quarta-feira, na Kyocera Arena, o treinador poderá contar com a volta do volante Alan Bahia. Para a zaga, a tendência é de Danilo permanecer na equipe e Cocito atuar como líbero. No ataque, Cléo e Aloísio poderão formar a dupla de ataque. Os ingressos para este jogo começam a ser vendidos hoje nos postos tradicionais do clube.

Reforços passam a ser prioridade

O Atlético mantém o mistério, mas promete três ou quatro reforços para as próximas horas. Os homônimos Adriano, do Cruzeiro e do Galo, podem ser os primeiros a chegarem à Baixada nesta semana. Um é zagueiro e está praticamente confirmado. O outro, só depende do acerto do salário para retornar ao clube onde fez sucesso. Além deles, o Furacão tenta o meia David Ferreira (América de Cali/COL), o atacante Mota (dispensado pelo Sporting/POR) e Arce (futebol árabe).

CAMPEONATO BRASILEIRO
6.ª Rodada
Local: Luso Brasileiro (Rio de Janeiro)
Árbitro: Sálvio Spínola Fagundes Filho (Fifa-SP)
Assistentes: Ednílson Corona (Fifa-SP) e Vicente Romano Neto (SP)
Gol: Rafael Marques a 1 do 1.º tempo; Almir aos 17 do 2.º tempo
Cartão amarelo:
Etto, Ticão, Marcão, Lima

Botafogo 2 x 0 Atlético

Botafogo
Jéfferson; César Prates, Rafael Marques, Émerson e Bill; Túlio, Jonílson, Glauber (Joílson) e Almir; Caio (Ricardinho) e Alex Alves.
Técnico: Paulo César Gusmão

Atlético
Diego; Baloy, Danilo e Marcão; Etto, Cocito, Ticão, Rodriguinho (Fabrício) e Leandro; Lima e Rodrigo (Aloísio). Técnico: Antônio Lopes

Coisa de maluco

Cahuê Miranda

Mais de dois mil quilômetros de viagem, de ônibus. Ir até outro país e voltar, em pouco mais de dois dias. Tudo para ver um jogo de futebol. Quem pensa que isso é coisa de louco, está certo. Na noite da última quarta-feira, cerca de oitenta loucos pelo Atlético Paranaense saíram de Curitiba rumo a Assunção, no Paraguai, para assistir à partida de volta entre o Furacão e o Cerro Porteño, pelas oitavas-de-final da Taça Libertadores da América.

Motivos para não fazer tal viagem sobravam, para quem analisasse com os olhos da razão. As últimas atuações do time foram péssimas e o triunfo na partida de ida parecia fruto do acaso em meio a seguidas derrotas. Uma eliminação no Paraguai aparentava ser o desfecho mais provável da aventura que estava por vir. Mas nada disso importava para os que se reuniam na sede da torcida organizada Os Fanáticos. ?Estamos indo presenciar um momento histórico. Pela primeira vez o Atlético pode ficar entre os oito melhores do continente?, lembrava o presidente da organizada, Júlio César Sobotta, o Julião. Ao contrário da maioria, todos ali acreditavam.

Uma semana antes, no jogo de ida, alguns torcedores do Cerro estiveram na Baixada. Foram amistosamente recebidos e prometeram retribuir a boa acolhida. Mas no começo da tarde de quinta-feira, quando os dois ônibus da excursão chegaram à capital paraguaia, os atleticanos não imaginavam o empenho com que os cerristas cumpririam a promessa.

O esforço que fizeram para agradar ficou claro já no lugar onde os brasileiros foram recebidos. Em meio a calorosos cumprimentos, desembarcaram em frente a um bar temático sobre futebol, num dos mais nobres bairros de Assunção: o ?Café Fanáticos?. Várias cervejas depois, todos pareciam antigos companheiros e os cânticos de ambas as torcidas tomaram conta do ambiente. Até uma batucada foi improvisada em frente ao bar, misturando a batida do samba com as belas canções da torcida paraguaia.

Voz atleticana na panela de pressão do Cerro

Quando chegou a hora de ir para o local do jogo, os atleticanos sabiam que iriam enfrentar um clima bem diferente. O estádio ?La Olla?, a ?panela de pressão? onde o Cerro costuma cozinhar os seus adversários, com a ajuda de sua massa de aficcionados, era o que esperava pelos fanáticos rubro-negros. Porém, quem está acostumado a fazer ferver o Caldeirão do Diabo não se intimida facilmente. Em meio à festa de mais de vinte mil paraguaios, os atleticanos conseguiram marcar sua presença. A torcida cerrista era soberana em alguns momentos, mas o barulho que vinha do canto rubro-negro do estádio era alto e incessante.

Em campo, os jogadores do Furacão parecem ter sentido a vibração. Na base da raça, o Atlético suportou a pressão do Cerro e o marcador de 2 a 1 para o time da casa levou a decisão da vaga para os pênaltis. Oito cobranças perfeitas aconteceram antes da batida de Santiago Salcedo, o Sasa, ídolo da torcida cerrista e artilheiro da competição, parar nas mãos de Diego.

?A bênção, João de Deus…?, pediam em coro os fiéis do Furacão. E abençoado foi o chute de Evandro. Gol do Atlético. Euforia total de quem sempre acreditou no que a maioria dizia ser impossível. Enquanto os paraguaios deixavam, mudos, o seu estádio, os heróis atleticanos, agradecidos pelo apoio, corriam para escalar o alambrado em frente à torcida rubro-negra.

A festa atleticana continuou na noite de Assunção. De volta ao Café Fanáticos, era bem menor o número de torcedores do Cerro que aguardavam os brasileiros, mas sem ressentimentos pela eliminação. Tempo para apreciar o sabor da cerveja e a beleza das morenas paraguaias. Já era madrugada quando os ônibus partiram em direção a Cidade do Leste.

Na agitada cidade da fronteira, em meio às incontáveis barracas de camelôs, a presença dos atleticanos parecia não agradar aos cerristas. Ao contrário, fazia a festa dos torcedores do Olimpia, que aproveitavam a presença dos rubro-negros para caçoar dos rivais.

Nos primeiros minutos da manhã de sexta-feira, quando a excursão chegou a Curitiba, quem dormia nas casas que ficavam no trajeto até a Baixada foi acordado pelos gritos dos loucos atleticanos, que ainda encontravam forças, depois de mais de 50 horas de viagem, para entoar seus cânticos. Com um

deles, causavam inveja aos que ficaram no Brasil e debochavam dos que não acreditavam. ?Só eu sei, porque eu não fico em casa?…

Cahuê Miranda é o nosso ?maluco? especial que embarcou nesta aventura junto com a galera da Fanáticos.

De avião pra encarar o CAP

O presidente do Santos, Marcelo Teixeira, confirmou na noite de ontem, após a derrota de sua equipe para o Palmeiras, em São Paulo, que o Peixe vai fretar um avião para poder contar com Ricardinho e Robinho no jogo desta quarta-feira, entre o alvinegro praiano e o Atlético, pela Libertadores.

Teixeira está negociando com a CBF para conseguir a liberação da dupla. A intenção é fazer com que a entidade permita a ambos participarem da primeira partida das quartas-de-final da Libertadores.

?A diretoria da CBF entendeu a necessidade do Santos, e nada interferirá nisso. Nós nos comprometemos a fretar um vôo para os dois atletas. O Santos já tem um elenco limitado na Libertadores e gostaríamos de contar com os atletas dessa qualidade?, comentou em entrevista à Jovem Pan.

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