A torcida aplaudiu o |
Era muito difícil, quase impossível, mas a torcida não deixou de acreditar em nenhum momento. Lotou a Arena, fez a sua parte, jogou junto, mas não foi correspondida pela equipe do Atlético. Mostrando um futebol apático, irreconhecível até, o Rubro-Negro entrou em campo para vencer o Botafogo e torcer pelo Vasco. Não fez sua obrigação ao empatar por 1 a 1, nem adiantou ficar de ouvido no jogo do time de Eurico Miranda. Mesmo assim, o Furacão saiu aplaudido de campo com o segundo lugar no Campeonato Brasileiro e a vaga na Copa Libertadores.
Enfrentando uma equipe desesperada com a possibilidade de rebaixamento, mais uma vez o time de Levir Culpi teve que enfrentar jogadores dando a vida pelo resultado. Foi assim desde o início. O Atlético poderia ser campeão, mas era o Botafogo quem queria o gol. O abatimento pela derrota para o Vasco era sensível. Poucos lances e quase nenhum perigo depois, a torcida pediu "raça". A arquibancada antevia o pior e quase o gol alvinegro saiu dos pés de Caio, que meteu uma bola na trave.
Mostrando que estava mais acesa que os jogadores e mesmo com o Santos vencendo o Vasco, a torcida comemorou um fictício gol do Vasco para tentar incendiar o time. Nada feito. Os jogadores não entenderam nada e continuaram na mesma toada. Uma vaia tímida foi ouvida na saída para o intervalo.
No segundo tempo, o filme era o mesmo. Botafogo em cima do Atlético e novos pedidos de "raça". Nem um gol incrível perdido por Washington foi o suficiente para os rubro-negros mostrarem a força e o futebol vistoso que encantou o país. Muito pelo contrário, naquele momento na zona de rebaixamento, o Botafogo partiu para cima e Ricardinho (que entrou no lugar de Caio) cruzou para Scrwenck só completar.
Mesmo assim, a torcida voltou a apoiar, Washington pegou a bola, colocou no centro do campo e partiu para o ataque. Da cabeça dele saiu o empate, após cruzamento de Marcão. Depois disso, nada mais. Se, de um lado, o Botafogo só queria catimbar o jogo, do outro, o Atlético não conseguia superar os próprios erros e ameaçar a meta de Jéfferson.
CAMPEONATO BRASILEIRO
46.ª Rodada
Local: Arena da Baixada
Árbitro: Carlos Eugênio Simom (Fifa-RS)
Assistentes: Altemir Hausmann (Fifa-RS) e Villi Tissot (RS)
Gol: Schwenck aos 23 e Washington aos 34 do 2.º tempo
Cartão amarelo: Marinho, Rogério Correia, Ruy, Alex Alves, Jádson, Túlio, Alan Bahia
Renda: R$ 420.992,00
Público pagante: 20.061
Atlético 1 x 1 Botafogo
Atlético
Diego; Marinho, Rogério Correia e Marcão; Fernandinho, Alan Bahia, Fabiano (Pingo), Jádson e Ivan (Morais); Dênis Marques e Washington. Técnico: Levir Culpi
Botafogo
Jéfferson; Ruy, Gustavo, Scheidt e Jorginho Paulista; Fernando, Túlio, Valdo e Caio (Ricardinho); Schwenck (Tiago Xavier) e Alex Alves (Almir). Técnico: Paulo Bonamigo
Definitivamente entre os maiores do Brasil
Poderia ter sido melhor, poderia ter sido o título, mas o segundo lugar no Campeonato Brasileiro consolida o Atlético como uma das principais equipes do País. Poucos clubes brasileiros cresceram tanto e conquistaram tanto como o Rubro-Negro nos últimos anos. Além da estrutura invejável, o Furacão mostra que já é uma das potências do futebol e parte agora para conquistar a América. Com a força da torcida.
Nem tinha acabado a partida, e as arquibancadas entoavam o hino do clube. "Atlético, Atlético, conhecemos o seu valor e a camisa rubro-negra só veste com amor". O time nem tinha mais forças para vencer o Botafogo, nem o Vasco ameaçava o Santos, mas os torcedores reconheciam o quanto valia a segunda colocação e a vaga na Copa Libertadores. Vibração total, apesar do resultado. Quem cobrou "raça" durante a partida aplaudiu o esforço e a dedicação dos jogadores ao longo do ano. O que fez por merecer estar na disputa, pela terceira vez, do principal torneio sul-americano.
"O Atlético provou que é um time de ponta", vibrou o técnico Levir Culpi, após a partida. Mesmo com uma ponta de tristeza por estar tão perto da segunda estrela dourada e a ter deixado escapar, o treinador só confirmou o que o Brasil vem assistindo nos últimos anos. Desde 1999, o Rubro-Negro vem se tornando um dos principais protagonistas do futebol nacional e disputando títulos quase todos os anos.
Em 1999, ganhou o torneio seletivo e foi à sua primeira Libertadores; em 2000, esteve nas finais da Copa João Havelange; em 2001, campeão brasileiro; em 2002, vice da Copa Sul-Minas e, em 2004, vice-campeão brasileiro. Nada mal para quem iniciou 1995 sem estrutura e apanhando para o arquirrival Coritiba. Hoje, tem um milhão de torcedores (segundo pesquisa do Ibope) e deve continuar angariando cada vez mais adeptos nos próximos anos.
Não bastasse isso, a torcida rubro-negra tem mais do que se orgulhar. O clube coloca o atacante Washington na história do Brasileirão como o maior artilheiro da competição em todos os tempos. O Coração Valente se despediu da camisa rubro-negra marcando seu 34.º gol no Brasileirão, 12 a mais que o segundo colocado, Alex Dias, do Goiás. E mais, o clube ainda conseguiu ser o terceiro colocado em público pagante. Foram mais de 13 mil fanáticos por partida e olha que não cabem mais de 22 torcedores na Arena. A torcida atleticana já deve estar sonhando com as partidas contra Independiente de Medellin (Colômbia), Libertad (Paraguai) e mais o vencedor da seletiva entre America de Cali (Colômbia) e Mineros da Venezuela.
Campeões no reconhecimento
Enquanto os botafoguenses vibravam com a permanência na Série A, o goleiro Diego se dirigia a cada um dos companheiros de Atlético para comemorar, com um abraço, o bom trabalho do ano. Este gesto, aliás, mudou o ânimo dos cabisbaixos atleticanos após o apito de Carlos Eugênio Simom. Ele tinha razão. Assim como os torcedores, os jogadores não poderiam menosprezar a segunda colocação do Campeonato Brasileiro e também passaram a enaltecer a conquista.
"Nós estamos tristes, porque não conseguimos o nosso objetivo, mas tiramos várias lições e não dá para desvalorizar esse trabalho", analisou o goleiro Diego. O zagueiro Marinho concordou com o companheiro. "A sensação é maravilhosa. Superamos as dificuldades do início do campeonato e chegamos na última rodada disputando o título", apontou o defensor. O reconhecimento foi total. Os jogadores deram as mãos e foram até a torcida apoiar o incentivo. Quando o gramado da Arena já estava quase deserto, Diego voltou para saudar mais uma vez os torcedores e jogar seu uniforme para a galera.
Para o técnico Levir Culpi, o segundo lugar também foi "maravilhoso". "Se você considerar tudo o que aconteceu no campeonato, terminamos de uma ótima forma", apontou. Segundo ele, ontem foi dia de parabenizar o Santos, que teve mais competência para chegar ao título. "Temos mais felicidade do que sentimento de perda. O campeonato foi muito difícil, o mais difícil do ano", destacou.
Futuro
O técnico Levir Culpi saiu da Arena deixando no ar a possibilidade de continuar no comando do Atlético em 2005. No entanto, ele está mais para Belo Horizonte, no Cruzeiro, do que para o CT do Caju. Junto com ele deve ir o volante Fabiano. Para o Verdy Tokyo vão o atacante Washington e o zagueiro Marinho, os volantes Raulen e Pingo e o lateral Ronildo têm seus contratos até o final do mês e dificilmente devem ficar.
Um ano de altos e baixos
No dia 2 de janeiro, o Atlético se reapresentou no CT do Caju para apagar da memória o fiasco dos anos da ressaca pós-2001. Os dirigentes anteciparam os trabalhos com um pacote de contratações e o objetivo claro de recolocar o Rubro-Negro na conquista de títulos. Não conseguiram o intento, mas chegaram perto nas competições que disputaram. Apesar disso, o clube viveu altos e baixos, com uma série de percalços.
O primeiro trauma foi perder o título do Campeonato Paranaense para o arqui-rival Coritiba. O time estava invicto, Washington em grande fase, mas o técnico Mário Sérgio resolveu inventar na primeira partida da decisão. Mudou tudo no primeiro jogo, humilhou publicamente o artilheiro. Na segunda partida, o Coração Valente se machucou e a vaca foi pro brejo através dos pés de Tuta.
Hecatombe na Arena. Cadeiras quebradas e frustração por ver o Coxa comemorar pela primeira vez um título no Joaquim Américo. A saída de Mário Sérgio foi inevitável e o time iniciou o Campeonato Brasileiro com o titubeante Júlio Piza como interino. Sem comando, conseguiu perder para o São Paulo, na estréia, mesmo com dois jogadores a mais em campo.
Já com Levir Culpi no comando, o time começou a dar sinais de recuperação.
Goleadas
O bom momento em campo não refletia os problemas extra-campo, que não pararam de jorrar. Primeiro, a própria equipe teve que se reunir, separada da comissão técnica e da diretoria, para lavar a roupa suja. Ninguém se entendia e ninguém entendeu nada o que foram aquelas goleadas impostas e sofridas em sequência. Aparadas as arestas internas, veio a contusão de Dagoberto. O craque rompeu os ligamentos do joelho esquerdo contra o Paraná e ficou afastado das últimas 12 rodadas. Denis Marques mostrou que era um bom substituto, mas não era um craque.
Na mesma semana em que ficava sem Dago, o clube viu ruir toda a sua competente estrutura. Toda a eficiência do melhor estádio do Brasil foi colocada em xeque por um copo no gramado.
Perdeu um mando de jogo e sofreu na pele a perseguição do programa Terceiro Tempo, da Rede Record, que a todo momento pedia a interdição da jóia da coroa. O noticiário se dividiu entre os gols de Washington e o tapetão do STJD, mas o clube tirou de letra as novas investidas dos adversários e manteve o bom futebol dentro de campo.