O clima já era inflamável, e bastou a fagulha da crise dos ingressos para incendiar os bastidores do clássico entre Atlético e Paraná. A animosidade entre as diretorias ganhou corpo ontem, após troca de farpas e declarações irônicas dos dois lados.
O presidente José Carlos de Miranda confirmou que o Paraná vai comprar antecipadamente ingressos destinados à torcida tricolor, conforme exigência do Atlético. Mas, nitidamente irritado, alfinetou repetidamente o rival ao explicar o procedimento do Tricolor no episódio. ?O Atlético enviou ofício assinado por uma funcionária (na verdade, a diretoria financeira Maria Aparecida Gonçalves). Talvez os três chefes – o Mário, o Celso e o Petraglia – estivessem ausentes e faltou alguém para dar ordens?, detonou. O presidente tricolor designou Pedro Poitevin, do setor financeiro, para calcular o número de ingressos a serem comprados com base na média da freqüência de paranistas na Arena. ?O assunto será tratado por funcionários?, emendou.
O pedido da compra antecipada desagradou o Paraná, que alega quebra de um acordo de cavalheiros. Segundo Miranda, os três clubes da capital combinaram que os ingressos dos visitantes nos clássicos seriam vendidos em consignação, e a sobra, ignorada. ?Foi o que ocorreu no último jogo, quando (os atleticanos) pediram 1.500 e apenas 738 foram vendidos. Nada foi cobrado pelo restante, como sempre procedemos?, falou.
Ao lembrar que haverá venda de meio-ingresso aos paranistas, Miranda novamente cutucou o rival. ?Até ontem (terça-feira) não havia meio-ingresso, hoje já mudou. Falta credibilidade ao que dizem?, falou.
Questionado sobre coluna inserida semana passada no site oficial do Atlético, no qual o personagem ?Professor Mirinda?, que se autodenomina ?laranja?, liga para outro chamado ?Gegê? – claras alusões a Miranda e ao presidente do Coritiba, Giovani Gionédis -, o mandatário paranista rebate. ?Eles têm site? Só acesso o do Paraná. Mas sou presidente eleito por voto direto dos associados, e não sei se lá é assim. Poderemos mostrar quem é laranja comparando quem manda nos dois clubes?, espinafrou.
Do outro lado da Engenheiros Rebouças, o Rubro-Negro inseriu em seu site o ofício enviado ao Paraná, após as reclamações dos tricolores. E uma carta assinada por Petraglia, também publicada na página oficial, põe mais lenha na fogueira pré-clássico. De cara, o presidente do Conselho Deliberativo convoca a torcida ao jogo sem citar o nome do Paraná Clube, mas o ?outro representante paranaense na primeira divisão?. ?É mais um time que tenta rivalizar com o Atlético Paranaense. Mas há um bom tempo, o Atlético Paranaense não tem rivais dentro do Estado?, dispara.
Mais à frente, o chefão rubro-negro diz que ?os rivais de factóides (…) tentam se equiparar a nós, seja em um conluio, com o objetivo de obstruir a óbvia opção pela Kyocera Arena como sede para a Copa do Mundo de 2014, seja em provocações isoladas na mídia, buscando uma nivelação forçada com o único clube que verdadeiramente rompe as barreiras de nossa província, o Atlético Paranaense?. Por fim, Petraglia decreta que o Furacão é ?a viga de aço do chamado Trio de Ferro?. ?Deixemos os co-irmãos com suas pantomimas e nos concentremos na grande verdade que é o Atlético Paranaense.?
Clubes estão de relações cortadas
Uma soma de fatores transforma o clássico de domingo num dos mais acirrados dos quase 18 anos de confrontos entre Atlético e Paraná.
Em primeiro lugar, a partida é decisiva para o futuro dos times, que brigam contra o rebaixamento no Brasileirão. A rivalidade entre ambos cresceu muito nos últimos dois anos, quando representaram sozinhos o Estado na 1.ª divisão. O fim do tabu de vitórias paranistas na Baixada, na semifinal do Estadual-07, com direito a provocações de jogadores tricolores junto à torcida atleticana, apimentou ainda mais a relação entre os adversários. Politicamente, o Atlético afastou-se definitivamente do Tricolor quando este defendeu o Pinheirão para a subsede curitibana na Copa de 2014, em detrimento da Arena. A briga pegou fogo de vez quando o Paraná acusou o Atlético de estar por trás da queixa do Náutico sobre a suposta irregularidade da condição de jogo do volante Batista.
Atlético coloca ingresso mais barato
Cahuê Miranda
Foto: Valquir Aureliano |
Mais lenha no Caldeirão para o clássico contra o Paraná. |
Às vésperas do clássico contra o Paraná, o Atléti- co decidiu colocar ainda mais lenha na fogueira do Caldeirão. Para aproveitar ao máximo a força da torcida, a diretoria anunciou mais uma redução no preço médio dos ingressos e a liberação na Baixada de faixas e adereços.
A partir de domingo, o torcedor do Furacão terá à disposição mais 6,5 mil ingressos ao preço de R$ 15. As cadeiras localizadas nas curvas da Arena, que antes faziam parte do setor ?retas? e custavam R$ 20, foram unidas ao setor ?gols?. Vale lembrar que o valor dos bilhetes já havia sofrido redução de 50% antes do jogo contra o Atlético-MG.
Além de ingressos mais baratos, a galera também ganhou mais liberdade para fazer a festa na Baixada. As tradicionais caveiras, que estavam banidas da Arena, podem voltar. As organizadas também poderão estender suas faixas, mas bandeiras com mastros e bandeirões continuam proibidos. Com a mudança na setorização, a torcida Os Fanáticos voltará a ocupar a curva da Buenos Aires. ?Assim estaremos em uma localização mais central e fica mais fácil espalhar a festa pelo estádio inteiro?, comemora Juliano Rodrigues, vice-presidente da organizada.