A saída de dois atletas infantis do Coritiba para o Atlético levantou um debate sobre ética no futebol paranaense. Quando o meia-atacante Raul e o atacante Choco, ambos com 15 anos, atravessaram a cidade, do CT do Atuba para o do Sítio Cercado, mais uma vez entraram em xeque as brechas na legislação esportiva que permitem às jovens revelações mudar de ares sem consentimento do clube formador.
A transferência dos meninos provocou uma reação indignada do presidente coxa-branca, Giovani Gionédis, que acusou o Atlético de "roubar" atletas de outras equipes em vez de formá-los, e ameaçou entrar com ação judicial para reparar os danos. Por sua vez, o presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Mario Celso Petraglia, disse em entrevista à Rádio Transamérica que não responderá a Gionédis, seu "ex-amigo", e desafiou o chefe alviverde a procurar seus direitos se assim entender.
Paulo Antônio Padilha, o ?Nino?, jogador profissional do Pinheiros nos anos 80 e pai de Raul, disse que a mudança foi uma iniciativa dos meninos. Os motivos, no caso do filho, seriam uma indisposição interna no Coritiba e a maior "atenção" dada pelo Atlético – leia-se apoio financeiro extra-oficial, como o pagamento de remédios caros à mãe do garoto, portadora de uma doença grave.
Proteção
A Lei Pelé, em vigor desde 1998, ampara o jogador menor de 16 anos, que não pode se profissionalizar antes dessa idade. A única garantia que o clube pode ter é um "contrato de formação" entre os 14 e os 16 anos. O documento assegura uma indenização dos gastos com a bolsa-aprendizagem, calculada de acordo com o tempo que o garoto passou na agremiação. "O que se observa é uma situação anti-ética. Mas legalmente não há o que impedir, e cabe ao menor escolher onde vai ficar", aponta o presidente do Tribunal de Justiça Desportiva, Bôrtolo Escorsin.
Como a indenização é baixa, os clubes reclamam que não vale a pena investir em menores de 16 anos. Alguns preferem apostar em jogadores formados em outras equipes – o Atlético, criticado por Gionédis, já "tirou" do Paraná Clube os jovens Kaio e Anderson Aquino.
Para acabar com a confusão, Escorsin sugere uma mudança na lei. "Uma saída seria um contrato anual, que permita ao jovem sair espontaneamente ao fim do período e ao mesmo tempo garanta uma indenização ao clube", propõe o presidente do tribunal. O pai de Raul concorda que a lei não é favorável aos clubes. "Mas a vontade do menor deve prevalecer. Cabe às equipes tratarem de forma diferenciada suas pérolas", observa.