A interpretação dos atletas sobre o critério de classificação para os Jogos Pan-Americanos de São Domingos, em agosto, causou muita polêmica, ontem, no primeiro dia de competições do XXII Troféu Brasil Caixa de Atletismo, no Ibirapuera. A comemoração de Matheus Inocêncio, o segundo nos 110 metros com barreiras, virou choro. E a frustração de Márcio Simão de Souza, quinto colocado, virou motivação quando soube que a vaga era sua, na condição de primeiro do ranking brasileiro (com 13s40). O vencedor da prova, Redelen Melo dos Santos (13s68) a deixar a pista sem dúvidas – sua primeira vitória em um Troféu Brasil o coloca na delegação que vai ao Pan.
O presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), Roberto Gesta de Mello, convocou uma reunião com os técnicos dos clubes para esclarecer os critérios. Os atletas achavam que dentre os que tinham índices (fazer a marca fixada pela CBAt é obrigatório), os dois primeiros do Troféu Brasil ficariam com as vagas. Mas o critério não é esse: serão donos das vagas, o campeão do Troféu Brasil e o primeiro do ranking brasileiro. Se for o mesmo atleta, o segundo colocado do torneio será o classificado.
Foi o que ocorreu nos 200 m, em que André Domingos, o primeiro do ranking venceu também a prova, com 20s56. Três atletas tinham índice e a outra vaga ficou com o segundo ontem, Claudinei Quirino (20s80). A única chance de Cláudio Roberto Rosa, o terceiro atleta com índice, será fazer um tempo melhor que o de André e tornar-se o primeiro do ranking até o dia 29, último prazo para a obtenção de índices.
André, de 30 anos, mas “num corpinho de 15”, como assegura, disse que está se despedindo da seleção este ano, após as disputas do Pan e do Mundial de Paris, ambas em agosto. O velocista, que disputou três Olimpíadas, participou das conquistas das medalhas do revezamento 4×100 m, bronze em Atlanta/96, e prata em Sydney/2000. “Quero me despedir com pódio no Pan, fechar minha participação na seleção com chave de ouro.”
A primeira competição de André na seleção foi o Sul-Americano Juvenil no Paraguai, em 1991. O maior orgulho foi conhecer Carl Lewis, que ganhou nove medalhas olímpicas. Nem as recentes denúncias de que Lewis usou doping diminuem a admiração de André. “Nós aqui ganhamos comendo arroz e feijão e treinando duro no sol. Mas sabemos que muitos usam doping. Não me sinto trapaceado, mas injustiçado.”