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Atletas acima do peso driblam preconceito e brilham no hipismo

O cavaleiro olímpico José Roberto Reynoso Fernandez Filho é chamado de “Fenômeno” e “Gordo” entre os amigos mais próximos. Os apelidos fazem referência ao ex-atacante Ronaldo que, no final da carreira, apresentava uma forma física mais “cheinha”, diferente dos outros atletas. Com 1,86m e 96kg, Reynoso faz parte do grupo de cavaleiros que foge dos padrões físicos tradicionais. A exemplo do que acontece em outras modalidades, os atletas do hipismo são majoritariamente magros. Um jóquei em corridas de cavalo não passa dos 50kg, por exemplo.

“Consigo usar meu peso a meu favor. Não tenho grandes dificuldades. Para um cavaleiro, o importante é encontrar o ponto de equilíbrio”, diz Reynoso, que defendeu o Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres-2012 e está convocado para integrar o Time Brasil na qualificatória sul-americana para os Jogos Pan-Americanos de 2019 – está sendo disputado neste mês, na Argentina. Ele disputa as provas de salto.

A relação “peso e altura” é um tema polêmico em diversas modalidades. No futebol, por exemplo, alguns clubes simplesmente não divulgam o peso dos atletas. É um tabu. No vôlei feminino, a líbero Suellen convivia com questionamentos sobre o peso. Ela tinha 1,69m e 95kg. Decidiu ser submetida a uma cirurgia bariátrica e perdeu 32 quilos.

“Existe um estigma associado ao excesso de peso e que fica mais nítido nas profissões que classicamente estão associadas ao menor peso corporal. Isso não vai implicar necessariamente em menor rendimento. Importante sempre é individualizar a análise”, avalia Maria Edna de Melo, endocrinologista da USP e presidente da Abeso (Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).

No hipismo, o sobrepeso realmente não impede a obtenção de bons resultados. Reynoso é tricampeão brasileiro senior top 2015/2017/2018, atual líder do ranking brasileiro e um dos mais experientes do hipismo brasileiro.

Fato semelhante acontece com o paulista André Parro. Com 1,81m e 90kg, ele foi medalha de bronze por equipes no sul-americano deste ano, sua quarta participação na competição, e esteve presente nos Jogos Olímpicos de 2000 e 2004. “Em 2019, meu plano principal é integrar a equipe brasileira no Pan, no Peru, e competir no Campeonato Mundial de cavalos de novos, na França”, afirma.

Os dois cavaleiros encaram a questão com naturalidade. Parro questiona a existência de uma forma física ideal. “Fico na dúvida se existe o biotipo ideal para os esportes. O que vejo é uma maioria de pessoas com mesmo biotipo. Na maioria das vezes, aquele que foge à regra do biotipo tem mais talento. No hipismo acredito que seja igual”, argumenta o cavaleiro de 41 anos. “Obviamente existem alguns atletas muito altos e outros acima do peso ideal. Se eles tiverem boa técnica, equilíbrio e talento, podem ter resultados expressivos”, avalia o cavaleiro que disputa o Concurso Completo de Equitação (CCE).

A Sociedade Hípica Paulista promoveu um encontro entre Reynoso e três modelos plus size da Ford Models Curve, novo departamento da agência voltado para os manequins 44 ao 48. O encontro foi realizado na véspera do Campeonato Brasileiro de Seniores 2018, no mês passado. De maneira simbólica, Reynoso usou sua imagem e prestígio para mostrar que é um “atleta plus size”. E vencedor.

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