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‘Assédio é ruim e triste para o futebol, mas é muito comum’, diz jogador abusado

Pessoas que viram o depoimento de Ruan Petrick Aguiar de Carvalho à Delegacia de Repressão e Combate à Pedofilia, denunciando o coordenador das categorias de base do Santos, Ricardo Marco Crivelli, conhecido como Lica, por abuso sexual, disseram que cada palavra demorava a sair.

A reportagem do Estado teve a mesma impressão ao conversar com o jogador de 19 anos nesta quinta-feira pelo telefone. O meia fala como se estivesse pisando em cacos de vidro. E fala pouco. A resposta mais longa somou 37 segundos no gravador. Ele afirma que o abuso sexual mudou o seu jeito de ser. Até hoje.

Por que você demorou oito anos para contar o que houve?

Fiquei com medo de acabar minha carreira. Se contasse, não seria mais jogador. E o tempo foi passando. Tinha vergonha daquilo. Sabia que era uma coisa errada.

O que levou você a falar?

Quando soube que ele (Ricardo Marco Crivelli) continuava no Santos, eu pensei que aquilo que poderia ter acontecido com outras pessoas e senti que tinha de falar.

Você acha que existem mais vítimas na base do Santos?

Com certeza. Se aconteceu comigo, com certeza em todos esses anos deve ter acontecido com outros garotos.

Como você está se sentindo?

Estou aliviado por ter tomado essa decisão. Sem peso da consciência. Eu me sinto tranquilo e renovado.

Esse fato atrapalhou a sequência de sua carreira?

Atrapalhou bastante. De uma forma ou outra, aquilo ficou dentro de mim. Acabou mudando a minha personalidade, mudando quem eu sou.

E em relação aos clubes?

Pelo fato de rejeitar (o assédio) na segunda vez, eu fui afastado e dispensado do Santos. Depois disso, tomei um rumo diferente na minha vida.

Como assim?

Não conseguia me firmar em lugar nenhum e até me envolvi com bebida.

Você quer continuar jogando futebol?

Sim, mas ainda não sei o que vai acontecer. Meu pai está resolvendo a situação. Existem alguns clubes que me chamaram para um teste.

O que pensa sobre tudo isso?

Penso que é uma coisa ruim e triste para o futebol, porém é muito comum. Não sou o primeiro nem o último. E só fiz o certo para que isso acabe de uma vez por todas. Pelo menos eu acho que fiz o certo.

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