Messi consegue se reinventar a cada jogo. Depois de ter sido mortal nos primeiros jogos ao anotar quatro gols e dar uma assistência para Di María, realçando sua faceta mais conhecida, o craque correu, marcou, fez faltas e tocou a bola de lado contra a Bélgica. Foi menos individualista e mais coletivo, mas igualmente inteligente. Qual será o Messi que vai se apresentar nesta quarta-feira no jogo mais importante de sua carreira, na semifinal contra a Holanda? A Argentina vai precisar dos dois, do artilheiro e do “operário”.
Messi já deu 17 chutes a gol na Copa. Desse total, nove foram no alvo e conseguiu quatro gols. Deu sete arrancadas em direção à meta, sua jogada característica. Tem 398 gols em jogos oficiais e se tornou o segundo maior artilheiro da seleção argentina, depois de Batistuta. Nesse contexto, a mudança tática e comportamental dos últimos dois jogos, notadamente no último, foi tão flagrante que chamou a atenção dos companheiros. “É um pouco estranho quando o Lionel Messi tem poucas chances. Mas tanto Leo como Higuaín deram a vida quando não tinham a bola e marcaram muito bem”, afirmou Mascherano, que enxergou nas atuações dos jogadores mais ofensivos uma importante contribuição para o sistema defensivo.
O próprio camisa 10 reconheceu a mudança de estilo. “Fiz uma partida que não estou acostumado a fazer, de correr. Fomos uma equipe acima de tudo”, afirmou após a histórica classificação para as semifinais – a Argentina não chegava à fase decisiva desde 1990. “Messi e Higuaín foram importantes, porque ajudaram ao segurar a bola no ataque, abrindo espaço e dando uma esfriada no jogo. É importante ter dois ou três jogadores que dão respiro para as duas linhas, sobretudo em uma fase como esta quando os jogos são mais duros”, completou o técnico Alejandro Sabella.
Messi foi o melhor em campo em quatro das cinco partidas da Argentina na Copa. Só não o foi exatamente quando privilegiou a função tática. O melhor em campo foi o autor do gol, Gonzalo Higuaín.
A evolução de Messi na Copa foi tão importante porque a Argentina precisa de um equilíbrio entre ataque e defesa, como diz o técnico Alejandro Sabella. Com jogadores eminentemente ofensivos – Messi, Higuáin, Di María (contundido) Messi precisa, pelo menos, ocupar espaços e não só esperar a bola no pé para fazer o time atacar. “Ele não é útil só para marcar gols, mas também para ter posse de bola, para atrair os zagueiros. Quando tem a bola ou quando se desmarca, ele leva perigo ao adversário”, afirmou Sabella ao comentar a mudança de perfil da última partida.
“Não me interesso só por gols. Ele nunca perde a bola, cria espaços. Messi é como água no deserto. Encontra soluções quando pensamos que não existem”, elogiou Sabella. Esse argumento da participação tática também justificou a entrada de Lavezzi no time. Ele deve ser mantido nesta quarta mesmo com a recuperação de Sergio Agüero, titular nas Eliminatórias Sul-Americanas.
CICLO – Coincidentemente, Messi tem a oportunidade de se apresentar como um jogador ainda mais completo – que cria, finaliza e que também marca – diante de um adversário que tem uma importância singular em sua carreira. Na Copa de 2006, oito anos atrás, Messi jogava sua primeira partida como titular exatamente contra o rival desta quarta.
Aquela partida, no entanto, não tinha o caráter crucial deste jogo no Itaquerão. Era apenas a terceira rodada do Grupo C. Classificados com antecedência para as oitavas de final, Holanda e Argentina empataram por 0 a 0 e os argentinos ficaram com o primeiro lugar da chave. Com 19 anos, o craque já havia feito um gol contra a Sérvia, na partida anterior, e foi escalado por José Pékerman, mas saiu aos 25 minutos do segundo tempo para dar lugar a Julio Cruz. Era o início de um ciclo. Desde aquele jogo, Messi entrou em campo mais 11 vezes, dez como titular, e nesta quarta, mais protagonista do que nunca.