Depois do julgamento, o colombiano e o presidente Gionédis foram agradecer aos juízes do tribunal. |
E só faltou a torcida. A observação indiscreta de um habitual freqüentador da Federação Paranaense de Futebol mostra o quanto foi importante para o Coritiba o julgamento do atacante Aristizábal, ontem à noite. O jogador, expulso na partida contra o Rio Branco, foi suspenso por mais uma partida, além da cumprida – com isso, fica fora do jogo contra o Londrina, no domingo. Foram seis julgamentos, e quase três horas de sessão.
Estava todo o staff do Coxa. Marcavam presença na sala de sessões do TJD o presidente Giovani Gionédis, o vice Domingos Moro, os diretores André Ribeiro e Luís Barbosa Jorge, o gerente de futebol Oscar Yamato, o coordenador técnico Sérgio Ramirez, o técnico Antônio Lopes, o preparador físico Manoel dos Santos e até o volante Roberto Brum. Além, é claro, de Ari, que ficou ao lado do seu “algoz” Tiago Soler (que pertence ao Cori) durante todo o julgamento.
Antes da sessão, o colombiano confessava sua surpresa com tudo que via. “Eu só tinha vindo a sessões como essa para assistir. Como protagonista, é a primeira vez que eu venho”, disse. Ele parecia tranqüilo, até porque percebera que o Coritiba vinha “completo” para o julgamento – em ocasiões normais, apenas o advogado Fernando Barrionuevo iria ao tribunal.
A presença de tantos alviverdes sacudiu o TJD. O presidente Bortolo Escorsin chegou a interromper a sessão para saudar a presença de Antônio Lopes, “que tanto fez pelo futebol brasileiro”.
A primeira peça de defesa apresentada pelo Coritiba foi uma fita (com imagens da CNT), mostrando as agressões de Tiago Soler e também as expulsões de Júnior Gaúcho e Baiano, do Rio Branco. “Nessa fita, vê-se claramente que o auxiliar não viu a agressão do jogador do Rio Branco no Aristizábal”, disse Barrionuevo.
Nos depoimentos, uma surpresa: Tiago Soler foi testemunha da defesa. Antes dele, falou Ari. “Não sei se a intenção dele era me agredir, mas ele foi agressivo. E eu quis sair da discussão, e graças a Deus que eu não atingi o rosto dele”, disse. O zagueiro do Rio Branco afirmou que não foi agredido. “Ele não teve a intenção de me bater”, declarou. O depoimento de Soler foi contestado pelos auditores.
Para agitar ainda mais a sessão, Domingos Moro foi o advogado de defesa. Em seu inspirado “discurso”, o vice alviverde saudou advogados veteranos (como José Cadilhe de Oliveira), usou do seu já conhecido estilo e garantiu que “não se agride alguém sem olhar alguém”. “Se houver a punição, nós vamos estar privando o futebol paranaense da participação de Aristizábal no campeonato estadual, na Copa Libertadores e em um terço do campeonato brasileiro”, afirmou.
Moro fechou com uma metáfora escolar, lembrando de seus tempos de colégio. “Quando eu ia para a aula, eu levava a bola, e com ela podia escolher o campo e os times, e sempre vencia. E esse homem de 32 anos estreou contra a Adap, marcou um belíssimo gol e levou a bola para casa. É esse o homem que agride?”, argumentou, para inéditos aplausos.
O relator do processo, Levi Rocha, se emocionou ao proferir seu veredicto. Irmão de Ivo, um dos maiores jogadores da história do Coritiba, o advogado afirmou que a imprensa paranaense “dá vazão às coisas ruins do futebol” e pediu que Ari tivesse seu caso desqualificado para o artigo 255 (ato de hostilidade), com suspensão de uma partida. A opinião de Rocha foi seguida pelos auditores.
Confusão
O Rio Branco também foi julgado ontem por causa das confusões na partida com o Coritiba. Segundo o advogado parnanguara, “o que aconteceu foi motivado pela paixão do esporte”, e chegou-se a culpar a imprensa pela briga entre Giovani Gionédis e o prefeito Mário Roque. O clube foi absolvido, e apenas o lateral Baiano foi punido com dois jogos de suspensão.
De repente, as estrelas reunidas em outro palco
Uma noite que a Federação Paranaense de Futebol há tempos não vivia. Apesar do julgamento de Aristizábal ter tomado as atenções do Tribunal de Justiça Desportiva, dirigentes e advogados dos três clubes da capital povoaram a sala de sessões, dando ao julgamento de ontem um caráter de “espetáculo”, reforçado pela ampla presença da imprensa.
Aquele salão, reservado apenas para jornadas “escondidas” e as já folclóricas reuniões arbitrais dos campeonatos da Federação Paranaense de Futebol, voltava a ter uma sessão concorrida. Em apenas um lado do auditório, figuras conhecidas do futebol paranaense marcavam presença, ao lado de nomes históricos do Tribunal, como o advogado José Cadilhe de Oliveira, com mais de 40 anos de julgamentos.
E eram três dos principais jogadores do trio de ferro na pauta de ontem. O primeiro a ser julgado foi o meia Athos, do Paraná (expulso na partida contra o Prudentópolis), que chegou acompanhado do superintendente de futebol Ricardo Machado Lima. “Acho que não aconteceu nada de mais grave, e já paguei minha pena com a suspensão”, disse o armador.
Mas as coisas não andaram tão bem para o Tricolor. O depoimento do árbitro Maurício Batista dos Santos foi decisivo. “Houve uma prática antidesportiva repetida”, disse aos auditores.
Depois da leitura do novo Código Brasileiro de Justiça Desportiva, houve uma reviravolta. Os auditores se confundiram nas interpretações (“Está uma salada”, brincou o presidente do TJD Bôrtolo Escorsin), e somente o voto de minerva do presidente salvou Athos da suspensão – ele foi desqualificado para o artigo 250 e pegou um jogo de “gancho”, que já foi cumprido. Com isso, o meia poderá enfrentar o Prudentópolis na segunda.
Marcão, lateral-esquerdo do Atlético, foi o próximo. Ele era acusado no mesmo artigo do CBJD que Aristizábal – o 253, que fala sobre agressões sobre adversários ou árbitros. O lance do jogo contra o Roma foi apresentado pela defesa (representada por Gil Justen Santana e outros advogados rubro-negros), que também apontou problemas na súmula do árbitro.
O lateral foi claro em seu depoimento. “Eu obstruí a passagem do meu adversário”, disse Marcão. Após a explanação dos advogados do Atlético, os auditores decidiram absolver o jogador, que assim fica à disposição de Mário Sérgio para o jogo contra o Malutrom.
Imprensa argentina não alivia Coxa
Não pense que eles se dobram facilmente. Apesar de o Coritiba ter vencido sem sustos o Rosario Central, a sempre assoberbada imprensa argentina nem falou sobre o sucesso coxa. Para eles, foi o time local quem perdeu, jogando mal e sofrendo o desgaste de três jogos em um período de seis dias.
No diário esportivo Olé, o mais importante da Argentina, o título da matéria que fala do jogo é “Ficou sem gasolina”, lembrando o fato do Central estar em uma seqüência de jogos. “O time sentiu o esforço dos jogos em seis dias e perdeu bem para o Coritiba”, escreveu o jornalista Hernán Claus.
De elogios ao Cori, apenas a Reginaldo Nascimento (“seguro na defesa”), Adriano (“subia ao ataque com critério”) e Aristizábal (“gerava perigo”). Quanto às críticas, Roberto Brum – que entrou na confusão do primeiro tempo – de “louquinho” e o técnico Antônio Lopes de “homem de cabeça grande, com muita tinta no pouco cabelo e com um andar sem garbo. (…) Parece o Cérebro dos desenhos animados”, segundo a jornalista Vanesa Mitelberg.
No principal jornal de Rosario, o La Capital, elogios à Curitiba (“uma cidade belíssima”) e alfinetadas no Coxa. “O Central perdeu não porque o Coritiba teve uma noite iluminada. Foi o mesmo time fraco que jogou no Gigante”, escreveu o repórter Sergio Faletto, que esteve no Alto da Glória.
De repente, um zagueiro artilheiro
“Agora já deixou de ser novidade, né?”. Nem tanto, Reginaldo Nascimento. O hoje zagueiro – e capitão do Coritiba – marcou na quarta o seu sexto gol com a camisa alviverde (em quase sete anos de clube), e décimo na carreira. E todos foram de cabeça, prova que os treinamentos dos últimos tempos surtiram efeito. Ainda mais no momento em que ele é considerado pelo técnico Antônio Lopes um dos melhores defensores do futebol brasileiro.
E nem pense na hipótese do treinador coxa recolocar Nascimento no meio-de-campo. Ele só sai quando estiver lesionado ou suspenso – caso da partida de domingo contra o Londrina (16h, no Estádio do Café), quando cumprirá a suspensão pelo terceiro cartão amarelo. O companheiro de zaga Miranda não se contém em elogios. “O Nascimento dá muita segurança, é um dos melhores zagueiros do Brasil”, escancara.
E, além disso, o capitão alviverde faz gols. São poucos, é verdade, mas sempre importantes. Contra o Beltrão, foi o da virada coxa, e contra o Rosario Central o que abriu o caminho da vitória. “Eu fico feliz, porque isso é fruto do trabalho e da cobrança do professor Lopes, que me exige muito nessas jogadas”, comenta Nascimento. “Claro que a preocupação inicial é defender, mas no ataque as coisas também estão dando certo”, completa.
Na partida da Libertadores, um gosto ainda melhor, porque foi em cima do grandalhão Carbonari, que era temido tanto no ataque quanto na defesa – ele chegou a ser centroavante nos minutos finais do jogo de quarta. “Reginaldo Nascimento ganhou de Carbonari e fez 1×0 com um ?cabezazo?”, contou o diário argentino Olé na sua edição de ontem. Com isso – e “tantos” gols, o capitão é uma das armas da “artilharia aérea” do Cori. “Aos poucos eu vou fazendo os meus golzinhos”, brinca o volante-zagueiro. E a América que se cuide.
Lesão
Reginaldo Nascimento é um dos desfalques do Coritiba para a partida contra o Londrina. Ele vai aproveitar o tempo fora para recuperar-se da fisgada na coxa direita que o tirou do jogo contra o Rosario Central, no momento em que era o melhor jogador alviverde em campo. “Não dava para continuar, mas acho que não é um problema tão grande”, comenta. O capitão coxa volta ao time na última rodada da segunda fase do paranaense, no outro final de semana, contra o Paranavaí.