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Após tombo ‘decisivo’, Bia Haddad evolui, vai ao seu 2º Grand Slam e sonha alto

Um escorregão em casa, uma dura queda no chão e um saldo de três vértebras fraturadas. O acidente doméstico em dezembro passado atrapalhou a pré-temporada de Beatriz Haddad Maia. Mas ajudou a tenista número 1 do Brasil a dar um salto no circuito profissional da WTA. A lição aprendida com dor e muito repouso traz consequências até hoje para Bia, que jogará na chave principal de Wimbledon nesta semana.

Nas semanas em que precisou parar os treinos físicos e o trabalho em quadra, a atleta de 21 anos reforçou a confiança e mudou a sua mentalidade. “O tombo que levei em casa foi, com certeza, um diferencial”, disse a paulistana, que mora no Rio, em entrevista ao Estado. “Fiquei muito bem de cabeça, mais positiva. Comecei a ver as coisas de uma maneira diferente”, afirmou.

A evolução foi evidente nesta primeira metade da temporada. Ela deu um salto de 76 posições no ranking, faturou dois torneios de nível ITF (logo abaixo do status das competições da WTA), foi campeã em duplas em Bogotá (Colômbia) e entrou na chave principal de um Grand Slam pela primeira vez, em Roland Garros. Também obteve o seu melhor ranking da carreira recentemente: a 94.ª posição. Neste intervalo, venceu favoritas e até uma ex-Top 10 – a australiana Samantha Stosur.

O fortalecimento mental era a peça que faltava no encaixe da carreira de Bia Haddad Maia . Ao mesmo tempo em que se recuperava do tombo, ela iniciava trajetória com o técnico German Gaich, de 30 anos. Para Bia, a pouca experiência é o trunfo do argentino nesta parceria. “Estamos crescendo juntos no circuito”, disse a tenista, que atribui a Gaich a sua evolução tática.

Fora de quadra, a boa convivência favorece a superação das dificuldades da rotina viagem-torneio-viagem-treinos. “Ele é muito engraçado e isso é importante na hora de aguentar os perrengues do circuito”. O trabalho de German Gaich é complementado pelo preparador físico Alex Mattoso e pelo fisioterapeuta Paulo Carvalho, que tem status de mentor esportivo e intelectual da tenista. Todos atuam na Tennis Route, onde Bia Haddad Maia e alguns dos principais tenistas brasileiros treinam, no Rio.

O clima familiar nos treinos e competições é garantido pelo namorado Thiago Monteiro, atual número 98 do mundo no ranking da ATP. Em Roland Garros, no mês passado, o casal de tenistas ficou hospedado em um apartamento com equipe completa. “Seguimos a mesma rotina, nos entendemos bem. No apartamento, o clima ‘tava’ muito gostoso com todo mundo. Até cozinhamos juntos”.

Bia Haddad Maia e Thiago Monteiro, que também começa a se estabelecer no circuito profissional, se conheceram na adolescência, quando treinavam juntos em Camboriú (SC), sob o comando de Larri Passos, famoso treinador de Gustavo Kuerten. A evolução do casal é semelhante e o apoio é mútuo. “É um prazer ver quem você gosta crescendo, trabalhando junto”.

Ao mesmo tempo que aproxima, a rotina de tenista também afasta. É comum passarem semanas distantes um do outro, comunicando-se somente por mensagens e ligações por vídeo. Bia Haddad Maia garante que não planeja o seu calendário esportivo com o namorado. “Se (o planejamento) cruzar, cruzou. Nosso foco sempre foi o tênis. Trabalhamos duro para isso. Viemos para a Europa para jogar, não pra fazer turismo”.

Se equilibra o coração com o carinho do namorado, Bia Haddad Maia aposta na meditação para fortalecer a mente. “Comecei faz um ano e só agora passei a sentir a diferença nos jogos”. O “mantra” é ditado pelo treinador. “Ele diz para eu entrar em quadra para cumprir os objetivos (técnicos e táticos). Se ganhar, melhor. Tentamos manter a nossa cabeça no presente: zero expectativa”.

Tudo isso vem resultando em uma confiança digna de uma atleta que se consolida entre as 100 melhores do mundo. “Comecei a perceber que as coisas boas também estão com a gente, não só com os adversários. Sou grande, forte, canhota. Quantas meninas também queriam ser assim? Tem gente que fala que ser grande é ruim porque deixa mais lento, mas posso trabalhar minha velocidade. Quem é pequenininho não pode crescer”, disse Bia Haddad Maia, bem-humorada.

A nova mentalidade vem sendo ferramenta necessária na realidade atual da tenista, que já vê ídolos se tornando rivais do outro lado da quadra. “Minha referência é a checa Petra Kvitova. Absorvi muita coisa dele, mas hoje pode ser que eu precise jogar contra ela”, afirmou, ainda espantada com a possibilidade de enfrentar uma campeã de Grand Slam. “No tênis tudo pode acontecer. Tenho que seguir acreditando em mim a todo momento. Não sei até onde posso chegar”.

Para Larri Passos, treinador de Bia Haddad Maia entre os 13 e os 18 anos, a ex-pupila está “no caminho certo”. “Ela sabe defender, sabe atacar, faz variação. Está formada! E o circuito vai fazer a Bia amadurecer cada vez mais”, previu o mentor de Guga, também em entrevista ao Estado.

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