Lucas Lee tinha 11 anos quando arrumou as malas e partiu para uma aventura impensável para a maioria das famílias: foi morar sozinho nos Estados Unidos, para jogar golfe. Com um detalhe: até então, ele nunca havia praticado essa modalidade. As férias de verão na casa dos primos em Los Angeles, um ano antes, motivaram o garoto de origem coreana a insistir que os pais o deixassem “fazer a América”, e praticar esporte era o melhor argumento. Dezesseis anos depois, ele pode se gabar de já ter superado Tiger Woods no ranking mundial e, no domingo, comemorou a chegada à elite do golfe, o PGA Tour.

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“Meus pais não queriam me mandar. Vim de férias, tinha 10 anos. Queria vir morar aqui e insisti, mas quando vim, vi que não era férias. Nas férias você vai para os parques, fica até a noite brincando, comendo salgadinho, então pensei que iria ser assim morar aqui”, conta Lee, que até hoje mora em Los Angeles. “O começo foi difícil. Fui morar com meu treinador, ele falava só coreano. Mesmo sendo de família coreana, meu coreano não era bom. E eu também não falava inglês.”

Lucas é um ano mais novo do que a prima Ângela, com quem passou aquelas férias no verão de 1998. Nove anos depois, ela se tornaria a primeira brasileira a chegar ao LPGA, o principal circuito profissional feminino de golfe. Entre 2007 e 2010, ganhou mais de US$ 2 milhões em prêmios, alcançando o oitavo lugar do ranking mundial. Depois, abandonou a carreira.

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Acompanhando os passos da prima, Lucas se formou no golfe dos Estados Unidos. Por causa do esporte, teve bolsa para cursar a tradicional UCLA (Universidade da Califórnia). Quando se tornou profissional, em 2009, entrou no PGA Tour Canadá, um circuito de terceiro nível.

“O tour latino-americano não era parte do PGA. Quando eles foram comprados pela PGA, eu já estava no Canadá, já era mais familiar com os campos, já tinha mais know-how de como viajar e tal, e meu espanhol não era muito bom”, conta Lucas, que não ganhou mais do que US$ 124 mil em cinco anos, o que não é suficiente para se manter jogando.

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Mesmo assim, não desistiu. Se arriscou no Tour da Ásia e, lá, ganhou credencial condicional para jogar o Web.Com Tour, esse sim um circuito de acesso ao PGA. Poderia jogar os primeiros eventos do ano, mas só continuaria se tivesse resultados. Mas ninguém esperava que fosse emplacar dois vice-campeonatos seguidos, em Dallas (Texas) e Naples (Flórida).

Após 14 torneios, está no 23.º lugar do ranking financeiro do Web.Com Tour, com US$ 164 mil, o que garantiu a ele uma das 25 credenciais para o PGA Tour da próxima temporada. Pelo complexo sistema do golfe profissional, entretanto, isso não dá direito a ele de jogar os principais eventos da próxima temporada (os Major, equivalente, no golfe, do que é o Grand Slam no tênis).

“Faltam mais quatro torneios da temporada da Web (cada um deles com US$ 1 milhão em prêmios). Preciso jogar bem lá para poder ganhar uma categoria maior”, explica Lucas, que tem a garantia de jogar pelo menos 19 torneios do PGA Tour na próxima temporada.

Estará competindo contra os melhores do mundo, entre eles Tiger Woods, a quem chegou a ultrapassar no ranking mundial de duas semanas atrás. “Eu nunca pensei que ia acontecer. Ninguém sonha estar na frente do Tiger, mas ele esteve jogando mal. Só que como ele joga todos os torneios, pôde subir rapidamente. Espero que agora eu possa subir rapidamente também.”

Nesta segunda-feira, Lucas aparece como o número 293 do ranking mundial do golfe, enquanto Woods é o 266.º. No ranking olímpico, que considera descartes, uma vez que cada país pode ter apenas três representantes no Rio-2016, o brasileiro é o 56.º colocado e não precisaria utilizar o convite destinado ao país sede. O mesmo vale para Adilson da Silva, o 59.º, gaúcho que joga o circuito da África do Sul.

Lucas escolheu estar em um circuito mais forte e agora chegou à elite do golfe. Antes dele, só Jaime Gonzalez, entre 1985 e 1986, e Alexandre Rocha, entre 2011 e 2012, tiveram credencial do PGA Tour. Rocha, que chegou a US$ 614 mil na temporada 2012, hoje disputa o circuito latino-americano, de terceira divisão. Em 2015, ainda não chegou a US$ 25 mil – os valores recebidos em prêmios definem o ranqueamento nos circuitos.

Luciane Lee, irmã de Lucas, é uma das quatro profissionais brasileiras que constam no ranking mundial, na 883.ª colocação, a última entre as compatriotas. A melhor do País na lista é Miriam Nagl, alemã naturalizada, que recentemente voltou às competições após ter bebê. Ela é a 597.ª colocada e ficaria com o convite brasileiro para o Rio-2016 se o ranking olímpico fechasse agora.