Bicampeão mundial, dono de uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004 e uma de prata em Pequim-2008 e, pela sexta vez, disputando a Volvo Ocean Race, a regata de volta ao mundo. O espanhol Xabi Fernández, 41 anos, tem currículo e idade para estar aposentado das competições.
Tem também mulher e duas filhas em Ibarra, na Espanha, a pele esturricada pelo sol e as mãos ásperas que poderiam fazê-lo deixar de lado esse desejo de sair por aí a desbravar os sete mares do mundo. Mas não. Xabi Fernández está em Itajaí, no litoral de Santa Catarina, nos últimos preparativos para seguir adiante rumo a Newport, nos Estados Unidos, no comando do barco espanhol da Mapfre, na oitava etapa da regata de volta ao mundo – a largada está programado para domingo.
“Ainda tenho esse sonho. Estou na competição pela sexta vez consecutiva e estou em busca desse título”, afirmou o capitão em entrevista ao Estado.
Como todo bom capitão e craque da equipe, Xabi veste a camisa 10 de sua embarcação que conta com outros oito velejadores. São sete homens e duas mulheres no total. Nesta quinta-feira, a reportagem do Estado teve a oportunidade de acompanhar de perto um pouco da rotina do veleiro espanhol em uma regata que simulava a competição.
Xabi dava as ordens sem gritar e passava tranquilidade, mesmo com dez convidados a bordo, um tanto perdidos, que atrapalhavam o subir da vela, deixavam o barco mais inclinado para um lado e a passavam mal com as marolas. Essa calma, ele conta, veio da experiência olímpica.
“Há que ser muito detalhista e muito meticuloso. E isso se aprende em barcos pequenos, especialmente em uma Olimpíada. Essa experiência de competir em provas menores, com menos gente, te deixa mais calmo. É tudo muito diferente aqui, mas o que aprendi nos Jogos Olímpicos foi muito importante”, afirmou.
Xabi não pretende ir aos Jogos de Tóquio-2020. Ele diz que seu ciclo olímpico terminou em Londres-2012 e que agora pretende apenas seguir competindo com grandes embarcações. Ele gosta mesmo é de “passar perrengue”.
A rotina durante uma etapa que dura aproximadamente 15 dias é para lá de exaustiva. Além de enfrentar temperaturas congelantes, ondas imensas, ventos de 50km/h, a infraestrutura oferecida dentro de um barco da Volvo Ocean Race são mínimas.
Os nove tripulantes são divididos em duplas. Um sobra como curinga. Sempre há ao menos dois na parte de cima da embarcação. Outros dois no planejamento e monitoramento das condições de navegação. A ideia é que outros quatro descansem. Isso quando está tudo calmo. E descansar não significa dormir. Dorme-se muito pouco.
Há quatro macas nas extremidades no piso inferior da embarcação que servem como cama. E cada um pode dormir no máximo três horas por dia. Xabi admite que conforto é uma palavra que não existe em alto mar. “A gente só dorme porque está muito cansado”.
Nessa última regata, a mais complicada dos últimos anos devido aos fortes ventos, o barco da Mapfre teve um problema no mastro logo no início da competição e chegou com cinco dias de atraso. Os problemas fizeram com que a tripulação tivesse que racionar comida. “Mas não foi um grande problema. Sabíamos que estávamos perto de chegar e diminuímos a refeição para duas vezes ao dia.”
Normalmente, há três refeições completas – café da manhã, almoço e jantar – e três lanches entre os períodos. Agora, a expectativa do capitão da Mapfre é superar o problema e retomar a liderança na classificação geral, perdida nessa última etapa para os chineses da Dongfeng Race Team.
“Estamos um ponto só atrás. Esperamos voltar para a primeira colocação ao chegar em Newport. Vamos ver”, finalizou. No que depender da regata teste desta quinta-feira, tudo certo. Com a equipe de reportagem do Estado à bordo, a Mapfre terminou em segundo lugar, atrás apenas do barco holandês Brunel.