Na tentativa de animar os jogadores para uma partida que ele mesmo definiu como “inútil”, o treinador da Holanda, Louis van Gaal se vale do fato de a seleção sob seu comando ter a oportunidade de encerrar sem derrotas a participação na Copa. Se vencer neste sábado a seleção brasileira, a equipe holandesa, além de se tornar a terceira colocada no Mundial, terá garantida a invencibilidade na principal competição futebolística do planeta.
A motivação encontrada por Van Gaal lembra o famoso episódio do “campeão moral”, expressão cunhada pelo técnico da seleção brasileira na Copa de 1978, Cláudio Coutinho (1939-1981). O Brasil ficou na terceira colocação, sem derrotas. A Argentina campeã – e sede daquele Mundial – foi derrotada na primeira fase pela Itália, por 1 a 0. Coutinho disse, então, que o Brasil era o “campeão moral” da Copa. Van Gaal não ousaria tanto, até porque já confessou, logo após ser eliminado nos pênaltis na semifinal contra a Argentina, quarta-feira passada no Itaquerão, que acha que a partida que define o terceiro e o quarto colocados jamais deveria ser disputada. “Há uma taça só”, falou na ocasião.
Na entrevista coletiva organizada nesta sexta-feira pela Fifa em Brasília, o treinador da Holanda repetiu que ele e os 23 jogadores estão ainda muito tristes e decepcionados, pois o foco da preparação era conquistar para a Holanda o inédito título de campeã mundial. “Estou decepcionado. Viemos para cá com um objetivo. Não somos os melhores, mas somos o time mais difícil de ser derrotado. Falei isso antes da Copa e se confirmou. Podemos voltar para casa sem ter perdido uma partida nessa Copa”, afirmou o treinador.
Agarrar-se à condição de invicto é o que restou a Van Gaal e comandados. Ele assegura que os jogadores entrarão estimulados e dispostos a mostrar que só não estão na final contra a Alemanha porque perderam na cobrança de pênaltis. “Tudo é decepcionante, mas ainda há coisas a fazer aqui. Podemos ainda escrever história aqui. Não perdemos nenhuma partida ainda. Quero sair da Copa sem perder nenhum jogo. Espero que possa preparar meus jogadores para ganhar do Brasil e ficar em terceiro lugar. Desta forma estaríamos escrevendo a história”, disse.
Como sempre aconteceu nesta Copa, Van Gaal não anunciou previamente o time ou o esquema que empregará contra o Brasil, que precisa tentar a reabilitação depois do massacre de 7 a 1 imposto pela Alemanha.
Entre os jornalistas holandeses que acompanham a seleção desde que Van Gaal assumiu o cargo, antes das eliminatórias, titulares como Robin van Persie e Nigel de Jong poderão ficar de fora, pois não estão na forma física ideal. Ambos recuperam-se de contusões. Os dois participaram do treino leve no estádio em Brasília. Reservas como Klaas-Jan Huntelaar, Jordy Clasie e Joel Veltman podem ter a chance de começar jogando.
Van Gaal ainda demonstra inconformidade com a eliminação nas semifinais. “Estamos nos recuperando. Os jogadores estavam muito tristes. O sonho acabou e não vai voltar. Eles queriam ser campeões. A sensação dos jogadores era que seria possível ganhar o título. Por isso disse na última coletiva que era melhor perder por 7 a 1 do que como perdemos, porque aí você realmente sabe que foi inferior, que merecia perder. Não foi o nosso caso, perdemos nos pênaltis”, acrescentou.
Na entrevista, o técnico da Holanda repetiu que considera o Brasil beneficiado pela tabela. Desta vez, porque os brasileiros tiveram um dia a mais que os holandeses para se recuperar do desgaste das semifinais. Na primeira fase, Van Gaal reclamou que o Brasil jogaria na última rodada já sabendo quem poderia vir a encontrar nas oitavas de final. O treinador Luiz Felipe Scolari, sem citá-lo, disse que quem havia falado isso era “ou burro ou mal intencionado”. “Sempre me atenho aos fatos e o fato é que o Brasil (…) na última partida (da primeira fase) jogou depois de nós. Agora voltaram a jogar antes. Estes são os fatos. Acho que o senhor Scolari tem de pensar”, concluiu.