Os jogadores da Inter de Milão ainda estavam suados e baqueados com a derrota contra o Liverpool, nesta terça-feira, quando o técnico Roberto Mancini causou um silêncio seco no vestiário do estádio Giuseppe Meazza, talvez mais duro que a própria eliminação da Copa dos Campeões.
"Mesmo com ainda quatro anos de contrato, creio que estes serão os meus últimos dois meses e meio na liderança da Inter", foi o anúncio repetido aos jornalistas, minutos depois do jogo perdido em casa por 1 a 0, e que marcou a quarta eliminação consecutiva do time italiano no principal campeonato europeu de clubes.
Depois de quase quatro anos de trabalho conjunto, a reação de jogadores e equipe técnica não poderia ser outra: espanto e grande sentimento de tristeza.
Mesmo carregando a marca de treinador com maior número de vitórias pela Inter nos últimos 40 anos, mesmo com a atual liderança isolada no campeonato italiano e com a total estima do presidente Moratti — que, em 2007, renovou o contrato de Mancini por mais quatro anos –, a derrota na Champions convenceu o técnico a deixar a Inter no final da temporada.
"Já comuniquei minha decisão a Moratti (…), mas não saio por causa desta eliminação. Serão os últimos dois meses e meio na Inter e em um time italiano", completou o técnico, com poucas palavras e um rosto de difícil interpretação.
Não houve tempo sequer para pensar nos lances da derrota contra o Liverpool, no gol sofrido aos 63min (com o chute rasteiro do atacante espanhol Fernando Torres), nas boas defesas de Júlio César e nas várias chances de gol desperdiçadas pelos atacantes Julio Cruz e Ibrahimovic. O anúncio do técnico interista chega de surpresa. Ninguém esperava a notícia, ninguém sabia de nada.
Mesmo sem maiores explicações, parece claro que ter falhado na Champions durante toda a carreira na Inter — duas eliminações nas quartas-de-final, contra Milan e Villareal, e mais duas nas oitavas, contra Valencia e Liverpool — foi um fator essencial para a decisão de Mancini.
O técnico garantiu que não brigou, em nenhum momento, com o presidente do clube, mas em ano de centenário de fundação (comemorado pelo clube neste fim de semana), Moratti certamente esperava um percurso mais longo na Liga dos Campeões.
Contratado em 2004, Mancini venceu dois campeonatos nacionais, duas Copa Itália e duas Supercopa italianas. Atualmente com 64 pontos (seis à frente da Roma, segunda colocada na tabela nacional), faltam-lhe 11 partidas para segurar a vantagem e vencer o terceiro título italiano sob sua batuta.
"Agora temos um campeonato para vencer, esse time merece. A Inter é uma grande sociedade e um grande clube, transcendendo quem o treina", foram as últimas palavras de Roberto Mancini antes de deixar um Meazza lotado, mas de brilho triste e ofuscado, ainda que ninguém soubesse da notícia.