Na continuação da entrevista em que admitiu pela primeira vez o uso de substâncias proibidas durante a sua carreira, o ex-ciclista Lance Armstrong admitiu que deseja voltar ao esporte. No ano passado, o norte-americano perdeu todos os seus sete títulos da Volta da França após a Agência Antidoping dos Estados Unidos (USADA, na sigla em inglês) apresentar um relatório em que detalhava o esquema de doping utilizado por ele.

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“Se você está me perguntando se eu quero competir de novo, a resposta é claro que sim”, disse Armstrong, de 41 anos, na segunda parte da entrevista para Oprah Winfrey, exibida nos Estados Unidos nesta sexta-feira, ao ser questionado se estava fazendo a confissão com a intenção de voltar ao esporte. “Eu sou um competidor. É o que fiz em toda a minha vida. Eu amo o treinamento. Eu amo correr”, completou.

“Francamente, esta pode não ser a resposta mais popular, mas acho que eu mereço. Talvez não agora, (mas) se eu pudesse voltar no tempo e dizer, ‘OK, vocês estão propondo uma mudança na minha história por uma suspensão de seis meses? Porque é isso que os outros receberam”, disse.

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Onze ex-companheiros de equipe de Armstrong, incluindo vários que anteriormente testaram positivo em exames antidoping, testemunharam sobre o uso de substâncias proibidas na equipe US Postal em troca de punições menos severas. O ex-ciclista disse que sabia que o seu destino foi selado quando seu velho amigo e parceiro de treinamento George Hincapie, que participou com ele em suas sete vitórias na Volta da França, confirmou as denúncias. “Então, eu recebi pena de morte e eles receberam seis meses”, disse “Eu não estou dizendo que é errado, necessariamente, mas eu estou dizendo que é diferente”.

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Armstrong disse que decidiu admitir o uso de substâncias proibidas após ver o seu filho o defendendo das acusações das autoridades antidoping. Segundo ele, a sua decisão de confessar não tem relação com a perda de US$ 75 milhões em patrocínios, a necessidade de deixar o comando da instituição de caridade Livestrong, chamada por ele de “sexto filho”, no que considerou a parte mais humilhante do escândalo, ou o banimento do esporte.

O que pesou foi um outro efeito colateral, que Armstrong admitiu que não estava pronto para encarar. “Eu vi meu filho me defendendo e dizendo: ‘Isso não é verdade. O que você está dizendo do meu pai não é verdade'”, disse Armstrong. “Foi então que eu soube que eu tinha que dizer a verdade”, completou o ex-ciclista, revelando como foi o diálogo com o seu filho mais velho, Luke, de 13 anos.

“Eu disse: ‘Olha, tem havido muitas perguntas sobre o seu pai. Minha carreira. Sobre se eu usei ou não usei drogas. Eu sempre neguei e tenho sido cruel e desafiador no assunto. Você já viu isso. Provavelmente é por isso que confiou em mim’, o que me faz me sentir pior?”, disse. “Eu disse: ‘Não me defenda mais. Não faça isto’. Ele disse: ‘Tudo bem. Eu te amo, você é meu pai. Isto não irá mudar'”.

Armstrong também revelou que sua ex-mulher, Kristin, só aceitou que ele voltasse ao ciclismo em 2009 se prometesse que não iria mais utilizar substâncias proibidas. “Ela disse, ‘Você só pode voltar com uma condição: que nunca cruze essa linha novamente’.”. “E eu disse, ‘Eu prometo’. E eu nunca traí a respeito”.

O relatório da USADA apontou Armstrong como líder de um sofisticado esquema de dopagem e possui testemunhos de ao menos três ex-companheiros de equipe do ex-ciclista que dizem que Kristin Armstrong participou ou pelo menos conhecia sobre o esquema. O ciclista Jonathan Vaughters disse que ela entregou comprimidos de cortisona envolvidos em papéis de alumínio aos ciclistas.

Winfrey afirmou que a história de Armstrong é épica e perguntou qual era a moral. “Não tenho uma boa resposta para isso. Eu olho para o que fiz. Fazer trapaças para ganhar corridas, mentia sobre isso, intimidava as pessoas. É claro que não se deve fazer essas coisas. É o que nós ensinamos aos nossos filhos”, disse o ex-ciclista, que, emocionado, fez várias pausas durante a entrevista. “O pior crime é a traição de todas pessoas que me apoiaram e acreditaram em mim. Eu menti”.