Victoria Bassi é uma garota como inúmeras outras. Gosta de brincar na rua, desenhar e jogar videogame, mas também ocupa cerca de três horas de seu dia andando de skate. No entanto, diferentemente de suas colegas de classe do sexto ano do Ensino Fundamental, Bassi, como gosta de ser chamada, já encara, aos 11 anos, a responsabilidade de ser uma das 21 atletas que foram convocadas para a seleção brasileira de skate e que concorrem a uma vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020.

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De risada fácil, a paulista de Ribeirão Pires (SP) leva o desafio numa boa. Mais do que isso: encara como uma grande brincadeira. “Quando vou para campeonatos, vou com o objetivo de me divertir, andar e cumprir minha missão que é dar o meu melhor, independentemente de perder ou ganhar. Então, fico super tranquila”, diz a bicampeã brasileira na categoria park, que une elementos do vertical, bowl e street.

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Apesar de ter só quatro anos na época, Bassi lembra do primeiro contato que teve com um skate. “No meu aniversário, ganhei um patins, um patinete, um skate e uma bicicleta. Aí, no meio da festa, peguei o skate e sai andando”, conta.

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A atitude deixou até mesmo os amigos de seu pai, que deram os presentes, impressionados. “Eles perguntaram para o meu pai se eu já tinha andado e ele respondeu que eu nunca tinha subido em nada que tivesse rodinhas”, lembra, orgulhosa.

Do skate, ela não desceu mais. Desde então, Bassi sofreu inúmeras quedas, quebrou o pé duas vezes, trincou o cotovelo e já se envolveu até em um acidente com um carro. A pequena não tinha completado nem seis anos quando tomou gosto por descer a rua em que morava, tanto sentada quanto de pé. Numa dessas descidas, bateu de frente com um carro que fazia a curva, por sorte em baixa velocidade.

“Meus pais ficaram muito nervosos, mas não me machuquei muito, foi só o susto mesmo. Lembro da minha mãe dizer que eu só voltaria a andar de skate se fosse em uma pista”, recorda a menina.

Victoria, então, passou a ir até a pista mais próxima, na cidade vizinha de Mauá, também na Grande São Paulo. O esforço valeu a pena, porque foi lá que a garota descobriu que o skate, além de ser um passatempo, é um esporte. Viu gente mais velha fazendo manobras e quis aprender também.

Para isso, contou com a ajuda de seu pai. Ele a segurava e ela tentava, quantas vezes fosse necessário, até conseguir. Foi com um desses truques aprendidos com o pai que ela conquistou o seu primeiro campeonato, aos cinco anos.

COLEÇÃO DE TROFÉUS – “Quando ganhei, pensei: nossa, quero correr outro”, relembra. E assim o fez. Hoje em dia, já são mais de 40 troféus em seu currículo. Aos oito anos, ela percebeu que estava fácil demais e decidiu competir na categoria open, com atletas de todas as idades. “Corria com as crianças e nem me esforçava tanto para ganhar, então falei para o meu pai que queria subir de categoria. Foi quando percebi que tinha de evoluir mais ainda.”

Além da exigência do pilates para fortalecimento muscular e os treinos mais intensos e frequentes, outra diferença que os novos torneios trouxeram foi em relação às despesas.

Os gastos em viagens com gasolina, passagem, hospedagem e alimentação começaram a pesar no bolso da família. “Eles deixaram de pagar contas de água e luz para me levar para os campeonatos”, conta a skatista. “Às vezes também faltava dinheiro para a comida, então comíamos pão com mortadela ou só pão mesmo.”

A situação piorou quando Thiago Bassi, pai de Victoria, precisou passar por uma cirurgia no pé. Por causa das seletivas para os Jogos de Tóquio, ele desistiu de ser submetido a uma nova operação e também de voltar a trabalhar como técnico de comunicação para acompanhá-la nas viagens internacionais com a seleção brasileira. Thiago optou por apostar na carreira de motorista de aplicativo.

Faltando um ano e meio para Tóquio-2020, Victoria Bassi está confiante e acredita que pode realizar o sonho de participar de uma Olimpíada com apenas 13 anos. “Os Jogos de Tóquio vão começar dois dias depois do meu aniversário. Tomara que seja meu presente”, torce.

Se ela tem chances? Bom, no que depender de autoconfiança, sua vaga na corrida pelo ouro está garantida. “Apesar de ser pequena, tenho muitos méritos. Para chegar onde estou, já caí e levantei muitas vezes. As meninas têm o mesmo nível do que eu, mas estou me esforçando bastante, então quero ir e quero ganhar.”