Tapa na cara

Análise: a força de uma negra e a covardia da internet

Foto: Albari Rosa

O Brasil inteiro se comoveu com a história de Rafaela Silva, a nossa primeira medalhista de ouro na Olimpíada do Rio de Janeiro. De família pobre, criada na favela, viu no judô a possibilidade de dar um futuro melhor para a família – e também mostrar a outras crianças que é possível sonhar mesmo sem ter as condições ideais de vida.

Essa campeã tem seu passado destrinchado desde muito tempo, pois venceu o Mundial juvenil em 2008 e disputou a Olimpíada de 2012 em Londres. Mas há quatro anos não houve comoção, e sim agressão. A mesma Rafaela que lutou pela vida e pelo esporte foi atacada gratuitamente via internet depois de ser eliminada por um golpe ilegal.

Houve ataques racistas, machistas, sociais. Chamaram-na de “macaca”, disseram que era a vergonha da própria família, que não tinha capacidade para defender o Brasil, que era uma mulher incompetente. Frases vomitadas pela internet, por pessoas que geralmente escondem o rosto, por pessoas que se aproveitam do anonimato e da covardia para se julgarem os donos das opiniões verdadeiras e os juízes de tudo e todos.

Rafaela não esqueceu. Quando venceu a atleta da Mongólia por waza-ari, ganhou por ippon dos imbecis da internet. Esses que se consideram superiores aos outros só porque têm um teclado e um computador, ou mesmo apenas um smartphone de última geração. “Falaram que lugar de macaco é na jaula e não na Olimpíada”, relatou. Perguntada se queria dar uma resposta, foi perfeita: “Não tem recado, tem medalha no peito”.

Muitos desses idiotas da internet que atacaram Rafaela em 2012 agora devem estar dizendo que ela é nosso exemplo de superação. Estão certos, mas não por causa das atitudes ridículas de quem vive no mundo virtual e não tem coragem para fazer o que prega no mundo real. Quantos não falam absolutamente tudo de atletas, treinadores, dirigentes e até jornalistas em redes sociais?

O motivo para tamanha ignorância? Geralmente o fato de ser de outro clube, outro esporte, outro estado, de ter outra opinião, de não conseguir um resultado. Que são coisas do esporte – afinal, ainda não inventaram uma prática esportiva em que haja competição e todos vençam. Alguém tem que vencer e alguém tem que perder.

Até esta terça (8), os idiotas com teclado estavam ganhando. Falavam o que queriam, atacavam por todos os lados, achavam-se superiores. Mas Rafaela Silva ganhou de vocês sem precisar usar da mesma arma de intolerância. Ganhou e virou uma referência do nosso esporte. Uma referência negra, pobre, favelada e campeã. E os que a atacaram? Perderam. E na verdade vão perder sempre.

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