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Ana Sátila tira até do bolso por treinador italiano na canoagem slalom

Para se adequar a “uma nova realidade econômica e estrutural”, a Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa) anunciou mudanças na comissão técnica da canoagem slalom para o próximo ciclo olímpico. O italiano Ettore Ivaldi deixou o comando da modalidade depois de cinco anos de trabalho e foi substituído pelo brasileiro Cássio Ramon Petry, que será auxiliado por treinadores nacionais. Apesar de elogiar a iniciativa da entidade de valorizar as “pratas da casa”, a canoísta Ana Sátila não aceitou a decisão e deseja manter a parceria com o europeu até os Jogos de Tóquio, em 2020.

“A gente tinha uma sintonia muito boa. Não pretendo parar de treinar com ele ainda, independentemente de ele estar fora da confederação. É um grande treinador, os resultados que consegui com ele até hoje na canoagem mostram isso”, disse.

Integrante da seleção permanente em Foz do Iguaçu (PR), Ana tentará conciliar a agenda para continuar sob a tutela do estrangeiro. Para isso, planeja um período de treinamento na Europa, mesmo que tenha de pagar do próprio bolso. No último ciclo olímpico, era contemplada pelo programa Bolsa Pódio do governo federal, recebia auxílio mensal de cerca de R$ 8 mil da entidade e contava com apoio da Força Aérea Brasileira.

A canoísta tentou conversar com o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e com a Confederação Brasileira de Canoagem, mas a saída de Ettore Ivaldi foi sacramentada. O salário pago pela CBCa ao treinador era de R$ 20.939,36 por mês, somado os benefícios. “Vou tentar continuar em contato com ele o máximo possível. Vai ser difícil, será como um trabalho à parte para mim. Mas valerá a pena”.

A decisão, por outro lado, gera controvérsia. “O problema será conciliar uma estrutura aprovada pela Lei de Incentivo Fiscal ao Esporte. Não parece plausível a atleta pretender as benesses do projeto (em especial a receita mensal) e não acatar ou aceitar as ingerências impostas. Imagine se na seleção de futebol cada jogador escolher um treinador?”, apontou Antonio Pinto, supervisor da canoagem slalom brasileira.

Mas Pinto garante que o caso será estudado. “A Ana Sátila é hoje a principal atleta da equipe permanente e, assim como o Pepe (Pedro Henrique Gonçalves), deve chegar a Tóquio com chances de duas medalhas. Para o Brasil é importantíssimo que ambos estejam trabalhando satisfeitos”. Em relação ao planejamento, ele indica que poucas mudanças na parte técnica serão implementadas. Na preparação física, entretanto, promete um trabalho mais exigente com os atletas.

Ao lado de Ettore, Ana deu notoriedade para a canoagem slalom ao conseguir a vaga inédita na categoria K1 (caiaque) para os Jogos Olímpicos de 2012. Em Londres, a atleta tinha 16 anos e era a caçula da delegação brasileira. Ela brilhou nas disputas juvenis, conquistou as medalhas de ouro (C1 – canoa) e prata (K1) nos Jogos Pan-Americanos de Toronto/2015, e, em setembro, levou a prata na K1, em Praga, pela Copa do Mundo.

E foi o pódio na República Checa que deu novo ânimo para a atleta de 20 anos depois da frustração na Olimpíada. No Rio, acabou eliminada na primeira fase. “Foi um alívio. Ter saído dos Jogos decepcionada e, logo em seguida, conseguir essa medalha inédita mostrou que eu era capaz, me incentivou a treinar ainda mais”, afirmou.

Apontada como esperança de medalha para o Brasil nos Jogos do Rio, Ana Sátila vê o tropeço como aprendizado. “Eu já me cobrava bastante. Era a quarta no ranking mundial e isso acabou colocando em mim um pouco de pressão, um pouco de adrenalina na hora da prova. Agora isso tudo foi uma experiência. Tenho de saber controlar para a próxima vez”.

Com a confiança restabelecida, conquistou o oitavo título brasileiro na K1 e venceu também na C1, categoria que foi oficializada no programa olímpico dos Jogos de Tóquio-2020. Ela já se prepara para o desafio duplo e, para os próximos quatro anos, tem uma meta ambiciosa: ser número um do ranking mundial nas duas categorias. E não se intimidada: “É possível”.

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