O placar da final entre Argentina e Alemanha, domingo, começa empatado por 1 a 1. Nas duas finais disputadas até agora entre esses gigantes do futebol mundial, um título para cada lado. O Maracanã será o palco do tira-teima. “É uma oportunidade de vingança para os dois lados. Para eles e para nós. A briga está um a um, e agora vamos decidir o vencedor. Esta é a terceira partida”, confirma Carlos Bilardo, coordenador de seleções nacionais da Argentina.
Bilardo é figura importante dessa história. Ele foi o técnico da seleção argentina campeã em 1986. E tudo o que passou naquele histórico 29 de junho ainda está fresco na memória do senhor grisalho, que fala aos trancos, sempre com as mãos. A final do Estádio Azteca estava empatada por 2 a 2. A Argentina abriu 2 a 0, gols de Valdano e Brown, mas permitiu o empate da traiçoeira Alemanha, que parecia ter virado para si a tábua do jogo.
Aos 38 minutos do segundo tempo, apenas três depois de Rudi Völler ter empatado o jogo e colocado em todos a expectativa de uma prorrogação. Maradona deu um toque na bola. De primeira, lançou na direita para Burrochaga que avançou meio campo e tocou na saída do goleiro Schumacher para fazer o 3 a 2. Foi o único momento em que Maradona conseguiu respirar. E, nesse momento, deu um sopro de vida ao claudicante time argentino. Era a segunda conquista mundial da Argentina, a última desde então. De lá para cá, desde aquele toque genial, que valeu por uma Copa inteira, nenhuma outra taça foi levantada.
Mas a Alemanha não desiste nunca. Quatro anos depois, em 1990, as duas seleções decidiam a Copa da Itália. O palco era o Estádio Olímpico, em Roma. A história do 8 de julho pendeu para o lado germânico. A Argentina tinha um jogador a menos – o zagueiro Monzón havia sido expulso aos 20 minutos do segundo tempo -, e o 0 a 0 persistia. Aos 39 minutos, o árbitro mexicano Edgardo Codesal marcou pênalti de Sensini em Völler em um lance polêmico. No momento da transmissão da tevê pela TV Globo, o comentarista Arnaldo Cezar Coelho afirmou que não havia sido pênalti. O lateral Brehme cobrou e conseguiu vencer o goleiro Goycochea, que havia defendido quatro penalidades no Mundial. A Alemanha era tricampeã do mundo.
O tira-teima de domingo atualiza a rivalidade daquelas duas finais consecutivas – esta é a final que mais se repetiu na história das Copas -, mas seus alicerces são as trajetórias que as duas seleções tiveram nos anos que se seguiram. A Argentina viveu um declínio e voltou a figurar entre as quatro melhores seleções do mundo após 24 anos – a última vez havia sido exatamente na Copa de 1990.
A Alemanha se tornou uma superpotência contemporânea e, pela quarta vez consecutiva está entre as principais equipes. Foi vice-campeã em 2002 e terceira colocada em 2006 e 2010. Os alemães, orgulhosos, costumam dizer que a Copa só começa mesmo nas semifinais.
Depois daquelas duas finais, este será o terceiro duelo consecutivo entre os dois países, com supremacia dos alemães. Eles despacharam os argentinos nas quartas de final em casa e também na África do Sul, com um estrondoso 4 a 0 que fez tremular a aura santa de Maradona, então técnico da seleção argentina. Na história das Copas, são seis confrontos: duas vitórias para cada lado e dois empates, um deles, o de 2006, com triunfo germânico nos pênaltis.
Além disso, os alemães contam com um impulso que ainda não está nas enciclopédias: a implacável goleada por 7 a 1 sobre a seleção brasileira, no Mineirão, para chegar a sua oitava decisão de Mundial. “Os jogos anteriores devem ser vistos por cima. Cada partida é diferente da outra”, diz o argentino Maxi Rodríguez, presente nas duas últimas eliminações dos sul-americanos.