Cerca de 200 alemães que assistiam juntos à final da Copa do Mundo, na orla de Copacabana, não conseguiram soltar o grito de campeão quando o juiz apitou o fim do jogo, neste domingo. Estavam ocupados correndo de centenas de argentinos que, após o gol marcado por Mario Götze na prorrogação, começaram a hostilizar e atacar os vencedores com garrafas e cadeiras. A Polícia Militar, segundo os alemães, nada fez.
Depois do susto, alguns feridos, os alemães partiram em grupo para curtir a vitória em um quiosque no Leme, onde dezenas de seus compatriotas assistiram à partida. Alexandre Devrient, de 28 anos, andava mancando em direção ao Leme. Na confusão, o alemão perdeu um de seus chinelos.
“Poderia ter sido um massacre. No total, devia ter uns 10 mil argentinos lá. O que aconteceria se todos seguissem o exemplo dos que nos atacaram? Havia policiais militares lá. Eles viram tudo e não fizeram nada”, disse Devrient, que viajou por seis cidades do Brasil acompanhando sua seleção, até chegar ao Rio de Janeiro. Os planos para a noite? “Beber, beber e beber. Cantar, cantar e cantar. E descobrir onde os jogadores vão comemorar, para eu poder chegar perto da taça”, disse o alemão.
Noutro quiosque, Sebastian Gusfer, de 31 anos, já exibia sinais de uma comemoração que começou muito antes do apito final. Alegre, segurando sua latinha de cerveja brasileira, o alemão afirmou ainda não acreditar na vitória. “Esperávamos um jogo difícil, sim. O resultado da semifinal foi muito elástico, não achávamos que aconteceria algo parecido. O coração quase saiu pela boca durante o jogo, mas o importante é que ganhamos e agora vou comemorar”, sorriu o alemão, que ainda vai curtir uma semana de Rio antes de voltar à terra natal.
Após o apito final, a reportagem presenciou ocorrências pontuais envolvendo torcedores argentinos, muitas com brasileiros. As provocações vinham dos dois lados: “Maradona é maior que Pelé”, cantavam os de azul e branco. Os de amarelo e verde – ou qualquer outra cor, bastava apenas ter nascido no Brasil – faziam com mão aberta o sinal de pentacampeão mundial e respondiam a provocação ao ídolo maior do futebol argentino, lembrando seu problema com o consumo de cocaína.
Dentro da Fan Fest, argentinos chegaram a arremessar copos e garrafas de plástica contra o público da área VIP, que aparentava ser majoritariamente brasileiro e comemorou o gol de Götze. Copos foram arremessados de volta por alguns vips.
Uma enormidade de argentinos também deixou a Fan Fest da Fifa, em Copacabana, sem qualquer tipo de problema. Os 20 mil lugares da festa foram tomados – maioria absoluta de hermanos – e, ao menos pelas imagens aéreas exibidas no telão, havia mais gente fora que dentro. Próximo à água e na Avenida Princesa Isabel, que teve seus dois sentidos interditados pela quantidade de pessoas.
Ao contrário de outros jogos, os argentinos dentro da Fan Fest não cantaram tanto durante a partida. Na realidade, só mesmo ao apito final formaram um só coro. Antes, os tradicionais cânticos de arquibancada ficaram restritos a grupos espaçados. A tensão tomava conta da festa. Ao fim, foi a tristeza que reinou. Mas aplaudiram sua seleção. Quando Higuaín, que durante o jogo perdeu o que poderia ter sido o gol do título, deixou o campo substituído, os argentinos na Fan Fest o aplaudiram. O mesmo aconteceu após Messi isolar cobrança de falta no último minuto de jogo.
Muitos choraram, outros ficaram só sentados na areia, olhando incrédulos para o show do Monobloco que começou em seguida. Ao menos não precisaram assistir no telão à entrega das medalhas de segundo lugar. A transmissão oficial da Fifa foi interrompida para exibir o show no palco.
O funcionário público Ricardo Gauna, de 59 anos, viajou 38 horas de ônibus até chegar ao Rio, na manhã deste domingo. Veio num comboio de quatro ônibus, com 240 pessoas no total, que deixou a cidade de Oriente, e partiram todos para a festa na Praia. Pretendiam pegar estrada ainda neste domingo, após a partida. Antes do início do jogo, apostava na vitória da Argentina, por 1 a 0. Deu exatamente o contrário.
“Futebol é assim, mesmo. Viajamos 2.500 km, mas não estou triste”, disse o simpático argentino, que veio ao Brasil com o filho. “A Argentina depende muito do Messi e hoje ele não estava bem. Não achei a Alemanha tão bem assim. Num jogo difícil assim, o primeiro a marcar levaria o título. E foi o que aconteceu”, disse Gauna.