Em comunicados oficiais, o Atlético fala em buscar uma solução amigável para o impasse com Dagoberto. Mas tudo indica que os tribunais serão o instrumento a definir o futuro do jogador, dentro ou fora da Baixada. Num tom de claro confronto, por vezes de desdém, os advogados do clube explicaram porque entraram na Justiça para prorrogar o contrato do atacante, traçaram histórico das conturbadas negociações para renová-lo e acusaram Dagoberto de ingratidão.
Na entrevista coletiva convocada pelo clube, o advogado do Atlético, Marcos Malucelli, contou que as tentativas de renovação do contrato começaram há três meses. Após a primeira reunião, em abril, o atacante pediu reajuste salarial e 1 milhão de euros (cerca de R$ 2,78 milhões) em luvas para estender o contrato até julho de 2008. O Atlético fez uma contraproposta: contrato até julho de 2009, luvas de R$ 300 mil e 15% do valor de uma futura transferência. Foi a vez de Dagoberto e seus agentes dizerem não.
Algumas reuniões depois, o Atlético ofereceu contrato até dezembro de 2008, 25% a 30% do valor da venda e as mesmas luvas e salários. O acordo teria sido firmado, mas em 24 de maio um dos representantes, Marcos Malaquias, exigiu que a multa rescisória permanecesse em R$ 5,4 milhões para compradores nacionais. Seria apenas uma garantia contra eventuais retaliações do Atlético. ?Ninguém em sã consciência aceitaria. Jamais o Atlético ofereceu tais condições a um jogador, mas o senhor Dagoberto refutou?, falou Malucelli.
As negociações entre as partes terminaram. Diante do impasse, o Atlético contratou um escritório de Curitiba e outro de São Paulo, do ex-ministro do Trabalho, Almir Pazzianotto, ambos especializados em direito trabalhista, para entrar com ação pedindo prorrogação do contrato de Dagoberto. Na terça-feira, o juiz da 8.ª Vara do Trabalho de Curitiba concedeu antecipação de tutela, estendendo o vínculo do jogador em mais 250 dias. Mantida a decisão, o clube não corre mais o risco de ser obrigado a vender o atleta por R$ 5,4 milhões a partir de 23 de julho de 2006 (20% do valor da multa rescisória), conforme determina a lei. Assim, até 30 de março de 2007 o contrato só será rompido com o pagamento de R$ 16,4 milhões (60% do valor original).
Para Malucelli, a intenção de Dagoberto era dificultar a renovação para deixar o Rubro-Negro neste mês de julho e assim buscar um contrato mais vantajoso em outro lugar. ?Os representantes já negociam a compra dos R$ 5 milhões com clubes de São Paulo?, falou. O advogado até palpitou sobre a retrospectiva de Dagoberto no Atlético, minimizando o desempenho do jogador. ?O Atlético investiu cinco anos no atleta, inclusive custeando todo o tratamento médico. E Dagoberto nem tem histórico no Atlético. Não me lembro de uma grande decisão em que ele estivesse presente. Marcou 40 ou 45 gols, pouco para um jogador desta expressão. Mas isso faz parte do futebol, hoje o jogador busca dinheiro em detrimento ao apego a seu clube?, detonou Malucelli.
E agora, Dagoberto?
Como será o futuro de Dagoberto? A prorrogação do contrato do jogador na Justiça não significa o fim do impasse em favor do Atlético – por enquanto, ela só adia a possibilidade de o clube vender o jogador por um preço muito baixo.
A tutela antecipada concedida pela 8.ª Vara do Trabalho de Curitiba estende o contrato até 30 de março de 2008. São 250 dias a mais – contados desde 17 de outubro de 2004, quando o jogador machucou o joelho num clássico contra o Paraná Clube, até a data da alta médica. Embora tenha pedido prorrogação de 348 dias (da contusão até o jogo contra o Flamengo, no Brasileiro do ano passado, já que no primeiro retorno, contra o Coritiba, o jogador não estaria plenamente recuperado), o Atlético mostrou-se satisfeito. ?A decisão do juiz é bem fundamentada?, disse Diogo Fadel Braz, advogado e segundo vice-presidente do Conselho Deliberativo do Atlético. Segundo ele, outros dois casos semelhantes com ganho de causa dos clubes dão respaldo à ação – um no Rio Grande do Sul e outro referente ao jogador Fabrício, do Corinthians.
A decisão, porém, é passível de reformulação após a audiência do dia 10 de agosto: o contrato pode ser prorrogado em 348 dias, como quer o Atlético, em 250 dias, conforme o entendimento inicial, ou mantido no prazo original (com término em 23 de julho de 2007).
Neste último caso, o Atlético teria que ceder o jogador a quem depositasse R$ 5,4 milhões. Para não se desfazer de sua maior revelação nos últimos anos por um preço tão baixo, o Atlético teria mais duas instâncias jurídicas para recorrer: o Tribunal Regional do Trabalho, em âmbito estadual, e o Tribunal Superior do Trabalho, em Brasília.
Se for derrotado nos tribunais, ou se o jogador seguir recusando novas propostas de venda até o término do contrato – como teria ocorrido após o interesse do Hamburgo, da Alemanha, em janeiro deste ano – o Atlético tem outra carta na manga. ?Nesta hipótese haveria má-fé do jogador. Iríamos até a Fifa pedir um ressarcimento pelos prejuízos causados por ele?, falou o advogado do clube, Marcos Malucelli. (CS)