São Paulo – No dia 30, o Andirá entrará em campo depois de muito esforço para disputar mais um Campeonato Estadual. O clube conseguiu dinheiro para jogar a competição de três meses.
De cara terá parada indigesta: enfrentar o tetracampeão do Acre, o Rio Branco. Mas o Andirá está animado, pois no banco o modesto time terá Cláudia Malheiros, conhecida no estado como o ?Felipão de saias?. É a única treinadora de que se tem notícia na 1.ª divisão do futebol brasileiro.
Cláudia, uma agrônoma de 40 anos, é carioca, casada com um angolano, mãe de duas filhas e aceitou ser treinadora do Andirá pela segunda vez. Ela já havia ocupado o cargo na temporada de 2000, quando tirou o time das últimas posições – que sempre ocupou – para levá-lo à quarta melhor campanha. Tentará a proeza mais uma vez, agora com mais experiência.
?As pessoas aqui me chamam de ?Felipão de saias? e acho que faço jus à fama. Sou um pouco severa com o elenco, mas sei dar carinho, sou mãezona. Eles são carentes e às vezes dar bronca não resolve?, diz a treinadora, que não pretende largar a agronomia enquanto estiver à frente do Andirá.
Cláudia tem coragem para assumir uma função tradicionalmente ocupada por homens, sobretudo numa região que nunca deu sinais de ser tão liberal e moderna assim. ?A maioria das pessoas com quem converso me acha corajosa. Algumas mulheres me cumprimentam. Outras me olham assustadas com cara de ?como é que pode??
O Estadual do Acre é curto -¨são três meses apenas. É ganhar ou morrer. Os jogadores do Andirá recebem salário médio de R$ 600,00. Jogam com a esperança de serem vistos e levados para outras praças mais bem estruturadas. O time jamais ganhou nada no Acre.
Foi fundado em 1964. Abriu, fechou, reabriu e fechou várias vezes. Sobrevive com dificuldades. Cláudia, além de treinar o time, também foi fundamental para conseguir patrocínio para a atual temporada, pois o clube corria o risco de não atuar por falta de verba, como ocorreu ano passado.
A carreira de treinadora começou por acaso. Já morando no Acre e com fama de ex-jogadora, foi convidada para ser auxiliar-técnica de Ulisses Torres no Vasco da Gama local. O clube não ganhava nada havia 35 anos. Nas partidas finais do Estadual, o técnico foi suspenso e Cláudia ?comandou? a equipe interinamente. ?Em três jogos, somamos cinco pontos e o Vasco saiu da fila. A cidade começou a falar de mim. Virei celebridade na capital.?