As duas pernas estão no ar e o pé esquerdo acerta a bola em cheio. Messi dá uma bicicleta (chilena, em espanhol), num despretensioso futevôlei – a rede é tão baixa que chamam de fute-tênis. Messi está tão à vontade nos treinos na Cidade do Galo quanto nos jogos do Mundial. Não há mais dúvida que esta é a Copa de Lionel Messi. Até as quartas de final, neste sábado, contra a Bélgica, seu desempenho é irretocável.
Quatro jogos, quatro vezes eleito o melhor em campo, algo que nenhum outro jogador alcançou neste Mundial. São 363 minutos jogados de 390 da seleção. Quatro gols e “meio” (o passe para Di Maria na complicada vitória diante da Suíça). Jogadas individuais ate à área, sua marca: 22 quilômetros percorridos em quatro jogos. Messi foi mais importante para Argentina chegar às quartas de final do que Neymar foi para o Brasil e do que James Rodríguez foi para a Colômbia. Em resumo: nos quatro jogos ele resolveu a vida da Argentina.
“Não sei se mereço esse prêmio (contra a Suíça), o mais importante foi que vencemos”, disse depois de receber o título de Man of the Macht da Fifa. Ele mereceu. A jogada do gol foi sua e foi ele quem buscou o jogo, puxou a marcação e percebeu que Di María estava livre. Messi disse que pensou em chutar ao gol mas que achou melhor passar a bola. Gol da Argentina, a três minutos de o jogo ir para os pênaltis.
DETERMINANTE – Antes de a Copa começar, pairavam dúvidas sobre o craque do Barça. Messi chegará bem ao Mundial? Ele estará em boas condições físicas? Enfim, ele vai decidir um jogo de Copa do Mundo para Argentina? O retrospecto não o favorecia mas ele foi destruindo as previsões mais pessimistas. “O Messi está fazendo um grande Mundial, e era isto que nós esperávamos dele, nós da comissão técnica, os jogadores e o povo argentino. Obviamente ele é determinante para nós”, disse Sabella depois da vitória contra a Suíça. Ao vencer o Irã, também por 1 a 0, o comentário do treinador foi bem mais eufórico: “Todos os jogadores contribuíram para a vitória, mas claro que há um gênio (Messi) e felizmente ele é argentino.”
Messi e Neymar têm números muitos semelhantes: ambos têm quatro gols e chutaram 15 vezes ao gol em quatro partidas. Mas há outros itens, segundo dados da Fifa, que mostram que são jogadores diferentes. Neymar recupera mais bolas, desarma mais e corre mais que Messi. O argentino, no entanto, completa mais passes. Messi é mais cerebral, como no gol marcado por Di Maria. Embora seja um “falso nove”, Messi também tem liberdade para atuar como um camisa dez de fato.
O lado ruim dessa história é que a Argentina não se livra da “Messidependência”, embora Sabella negue que ela exista. As boas atuações de Di María até reforçam a tese do treinador. O eterno ídolo argentino Diego Maradona, a quem Messi não aguenta mais ouvir comparações, já não tem a mesma visão. Além de criticar a federação argentina (AFA) em seu programa na TV venezuelana, El Diez deu sua opinião sobre a seleção argentina no Mundial: “Eles precisam enfiar na cabeça que não podemos ser o Sporting Messi. Talvez ele marque um gol, mas se ele não conseguir não podemos pular no pescoço dele e culpá-lo pelo desastre argentino”.