A última sinfonia do maestro Zinedine Zidane

Arquivo
A elegância sutil a cada toque, a categoria de sempre. Isto é Zidane.

Berlim (AE) – Um humilde casal argelino, dos muitos que habitam a França, levava vida ordinária, com pouca comida, nenhum conforto. A família não tinha a expectativa de ascender socialmente, de um dia poder ver a mesa do jantar cheia de opções ou de olhar para o guarda-roupa e gastar algum tempo para escolher o que vestir. Mas tudo começou a mudar a partir do dia 23 de junho de 1972, quando nasceu um de seus filhos, a quem deram o nome de Zinedine Yazid Zidane.

Em Marselha, sua cidade natal, ainda garoto, Zidane gostava de jogar bola na rua, nas quadras de bairros populares com os amigos – e também filhos de imigrantes. Seu talento chamou rapidamente a atenção de olheiros, que o levaram para o Cannes. Aos 14 anos, já treinava na equipe e, aos 17, estreava na primeira divisão do campeonato francês. Daquele dia em diante, a vida da família Zidane passou a ser bem diferente. E o futebol francês, de pouco acima de medíocre, passou a ser grande.

Exatamente duas décadas depois dos primeiros treinamentos, o jogador disputa a última partida da carreira, justamente no mais importante evento do esporte, a Copa do Mundo. Todos os apaixonados pelo futebol ficarão ligados em França x Itália para ver a decisão da competição e se despedir de um dos maiores craques de todos os tempos. Muitos torcerão pelos franceses, só por causa de Zidane. Ele merece terminar no topo por tudo o que já fez nos campos.

Um comentário de Pelé é suficiente para resumir quem foi esse gigante. "O Zidane é o maestro, eu o colocaria entre os cinco melhores jogadores da história, nos últimos dez anos não houve ninguém como ele", diz o rei. Não seria necessário acrescentar nenhuma declaração. Mas, como muitos contestam as opiniões de Pelé, não custa lembrar que Ronaldinho Gaúcho o coloca como "um dos maiores de todos os tempos". Que Tostão afirmou que "ele está na história". Que Jürgen Klinsmann, técnico da Alemanha, declarou que "é maravilhoso vê-lo jogar". "Todos acompanharemos a final com muito interesse, é difícil comparar sua carreira com a de outros jogadores, porque a sua é simplesmente excepcional", completa Klinsmann.

O final feliz tem tudo para sair hoje. O palco, o Estádio Olímpico de Berlim, não poderia ser mais apropriado para o desfecho dessa bela história de superação. Foi justamente no local que, na Olimpíada de 1936, Jesse Owens, atleta negro dos Estados Unidos, conquistou grandes resultados e desmoralizou Adolf Hitler.

"Conseguir o título não será fácil, pelo contrário, vai ser muito difícil, mas temos as armas e verdadeiramente queremos alcançá-lo", ressalta Zidane, com a confiança de volta, após fraca temporada pelo Real Madrid. "Seria fantástico alcançar o título mais uma vez, e somos 23 para conseguir isso". Hoje, se levantar mais uma taça, vai, sem dúvida, deixar bem para trás o maior ídolo da França até seu surgimento, Michel Platini. Que tenha sorte!

Pirlo, um estilista destruindo as jogadas adversárias

Luís Augusto Monaco

Berlim (AE) – O cérebro da Itália é um homem silencioso e discreto, que impõe o ritmo do time com toques suaves, precisos. A descrição também serviria para Zidane, o craque que guia a França, mas no caso da Azzurra cabe a Andrea Pirlo. De seus pés pode surgir a vitória na final de hoje.

Foi preciso mudar de posição e recuar alguns metros para ele conquistar o reconhecimento que não conseguiu enquanto foi um meia. Como aconteceu com o colombiano Rincón, que tornou-se um volante extraordinário por combinar visão de jogo, inteligência e acerto na entrega de bola, Pirlo transformou-se uma unanimidade quando passou a cuidar da saída de bola.

O responsável por sua mudança de posição foi Carlo Ancelotti, que o dirige no Milan desde novembro de 2001. Na temporada 2002/2003, ele colocou Pirlo de volante e não o tirou mais dali. O impacto foi tão grande que levou Giovanni Trapattoni, à época técnico da seleção, a fazer um comentário entusiasmado: "Ter Pirlo como volante é como se Zico jogasse na frente da zaga".

Exagero à parte, a verdade é que Pirlo renasceu como jogador depois que passou a jogar mais recuado. Ele havia pintado como um fora de série no Brescia, time de sua cidade natal. Estreou na Série A em 95 aos 16 anos e aos 19, foi contratado pela Inter de Milão – seu time de coração nos tempos de garoto. Mas com a camisa azul e preta nunca conseguiu passar de promessa a realidade. Em 2001 o clube o vendeu sem o menor remorso para o Milan, seu grande rival.

O clube já tentou encontrar um bom reserva para ele, para que possa descansar de vez em quando, mas nenhum volante que passou por lá a partir de 2002 conseguiu se aproximar de sua eficiência na tarefa de organizar o time. Por isso, quando começa a fazer um rodízio entre os jogadores para preservar o fôlego dos titulares, Ancelotti raramente se atreve a tirar Pirlo do time.

Ele é um mestre na bola parada e em fazer a bola correr. Com seus "pés bons", expressão usada na Itália para definir quem bate bem na redonda, já resolveu muitos jogos para seu time e para a seleção. Mesmo quando está apertado, ele não "rifa" a bola. Procura sempre o toque consciente, para dar fluência e ritmo ao time. E se apresenta a todo instante como opção para receber um passe, indo buscar a bola com os zagueiros ou correndo para perto dos laterais.

Eleito o melhor em campo pela Fifa em duas partidas da Copa, contra Gana e Alemanha, Pirlo está perto de marcar seu nome na seleção como marcou na equipe que foi campeã européia de juniores em 2000. Na final, contra a República Checa, ele fez os dois gols da vitória por 2×1. Mas eram tempos em que jogava com a camisa 10, do meio-de-campo para a frente. Agora ele busca a glória como um volante refinado.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo