Mano Menezes tem uma posição clara sobre Copa do Mundo. Dentro e fora de campo. Sobre o time nacional, o técnico do Corinthians considera a seleção brasileira candidata ao título pelo trabalho que ele iniciou em 2010 e Felipão deu sequência a partir de 2012. Já sobre a onda de protestos e de manifestações, a resposta não é das mais fáceis. “É um assunto delicado, talvez o momento não seria adequado”, afirmou ele em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada nesta sexta-feira. A seguir, os principais trechos da conversa com o comandante.
Estadão – Tivemos mais um dia marcado pelas manifestações contra a Copa do Mundo, e uma delas marchou em direção ao Itaquerão, palco da abertura do Mundial e onde você comandará pela primeira vez o Corinthians no domingo. Qual é a sua visão a respeito desses protestos?
Mano Menezes – É um assunto bastante delicado de ser abordado, mas penso que a maneira como está feito está inserido dentro da educação que temos. Há poucos dias vi uma comparação ser feita por uma pessoa que achei interessante. Não tirando nunca a legitimidade das pessoas de fazerem protestos e manifestações, talvez o momento não seria o adequado, porque era como se convidasse um casal de amigos para jantar na nossa casa e durante o jantar resolvêssemos discutir a relação. É o que estamos fazendo neste momento. Convidamos todas as pessoas para vir ao nosso País, para um grande evento, e tivemos inúmeras oportunidades de fazer o que estamos fazendo agora, mas resolvemos fazer agora.
Estadão – Se tivéssemos uma consulta popular sobre a realização da Copa, qual seria o resultado?
Mano – A maioria iria votar a favor da Copa, porque o brasileiro adora futebol e você ter a oportunidade de fazer o maior evento esportivo no teu País certamente comoveria as pessoas. O problema em si não é a Copa, o problema é como determinadas coisas foram feitas para a Copa. É importante separar isto. São “n” coisas. Uma certa falta de organização. Bastante falta de organização, estamos a 30 dias do evento e estamos vendo as coisas sendo feita às pressas. E não é só no estádio, é na urbanização, no acesso, nos aeroportos vemos as mesmas coisas.
Estadão – No dia 12 de junho, o Brasil abrirá a Copa contra a Croácia. Você se sentirá frustrado e pensará que poderia ser você e não o Felipão o técnico?
Mano – O que passou, passou. Tenho por hábito fazer o melhor que eu posso, me dedicar o máximo quando estou no cargo, e exatamente para não ficar com sentimento de “ah eu poderia ter feito isto, ah, isto poderia ter sido melhor”. Quando você está lá, você tem de fazer, e acho que fiz o melhor. Se não me engano, nessa relação (de convocados) tem nove jogadores que iniciaram na seleção comigo. Foram convocados pela primeira vez comigo e isto dá uma ideia de como o trabalho foi feito, a qualidade que teve, e só por isto e a competência da sequência do trabalho é que a seleção vai chegar à Copa com a capacidade de conquistar o título.
Estadão – Quais suas impressões sobre o novo estádio do Corinthians?
Mano – A Arena Corinthians vai ficar muito bonita, acho que a grande diferença para as outras arenas é a parte interna. A parte externa fica muito parecida, o campo vai estar bonito em todos os estádios, as arquibancadas vão estar lá com as cadeiras, mas a parte interna você pode colocar mais qualidade, melhor acabamento, e nesse aspecto ficará exemplar.
Estadão – Como controlar o clima de festa, por parte da torcida, para o primeiro jogo no Itaquerão, domingo, contra o Figueirense?
Mano – Acho justa a euforia do torcedor e a expectativa que ele criou. E nós temos que saber atender a expectativa de forma positiva, separar uma coisa da outra porque as armadilhas estão colocadas. Não é a primeira vez que você enfrenta outra equipe com possibilidade maiores e condição favoráveis mas que lá dentro do campo você deixou escapar (a vitória).
Estadão – Os doze estádios novos podem contribuir de qual forma para a qualidade do futebol que se joga no País?
Mano – Não tenho dúvida (de que vai melhorar), vai mudar a velocidade do jogo que jogamos. Foi possível ver isto ontem à noite (quarta-feira) em Curitiba, porque a bola ganha uma outra aceleração, o comportamento dos jogadores a partir desta nova realidade passa a ser outro, a exigência técnica para um jogo mais veloz.
Estadão – Os estádios novos ficaram grandiosos por fora, mas o campo ficou mais próximo da torcida. Isso é bom ou ruim?
Mano – Como tudo na vida tem dois lados. Se a equipe estiver bem, se as coisas estiveram funcionando bem, vai ser muito positivo. Mas não tenho dúvida que teremos momentos difíceis em todas as arenas novas, principalmente como mandante do jogo. Quando o time não estiver bem, a proximidade faz com que o jogador que está no banco ouça a crítica, o técnico…E no Brasil o técnico leva mais a culpa de tudo. Mas tem que ir se acostumando com as novas realidades. Quem trabalha na Europa já sabe e convive com isto há mais tempo. A diferença é que o torcedor lá é mais educado para não interferir de forma tão negativa.
Estadão – O Corinthians fica mais forte com o Elias, que só pode jogar depois da Copa do Mundo. O time tem elenco para ser campeão?
Mano – Já tem elenco pra isto, sim. O que não dá para dizer é, com certeza, se vai conseguir ou não. Não dá pra falar isto. O Brasil talvez seja um dos únicos lugares onde você pode ser campeão e rebaixado. Os exemplos estão aí: campeão num ano, rebaixado no outro. O grupo nos já temos. Fizemos uma alteração até mais drástica do que imaginávamos no Paulista.
Estadão – Acabou a reformulação?
Mano – Sim, acabou, foi muito desgastante, diria grande, radical, porque não é adequado fazer isto num curto espaço de tempo como fizemos. Felizmente já conseguimos reagir.
Estadão – Por que o Corinthians tem tanta dificuldade para fazer gols?
Mano – Pois é, essa é uma questão bem complexa, são situações diferentes a cada momento. Às vezes, uma equipe foi montada privilegiando mais a questão defensiva e essa escolha pode ser sacrificando os atacantes e você não faz tantos gols. A equipe pode ser montada com mais atacantes, a bola ter chegado e eles não fazem gols, aí é uma questão técnica dos atacantes. Você também pode escolher um meio de campo mais marcador, você joga no erro do adversário e não tem tantas chances de gol. Saber diferenciar uma coisa da outra é importante. Acho que o Corinthians viveu um pouco esses três momentos num curto espaço do tempo.
Estadão – Em qual posição o Elias vai jogar neste time? Ralf, Elias, Renato Augusto e Jadson é uma formação de meio de campo possível?
Mano – É possível montar um meio-campo assim e de diversas maneiras. E eu não tenho dúvida que a equipe que queremos, que todos vão entender como o Corinthians ideal, passa pelo coração desse time, que é o meio campo, que é a hora de encontrar o equilíbrio entre atacar e defender. Com a formação ideal no meio de campo, vamos ter uma equipe que vai tomar poucos gols e que vai fazer mais gols do que vem fazendo. É exatamente esta a equação que estamos tentando resolver desde que iniciamos o ano, e o Elias é uma parte importante para esta resolução. É um jogador completo, que se defende bem, que faz a transição rápida de bola e chega na frente para definir. É um jogador completo para essa função que ele desempenha, que é a função de volante.
Estadão – É uma crítica justa chamar o Corinthians de Mano Menezes de time retranqueiro?
Mano – Qualquer treinador que receber esta crítica que organizou o sistema para se defender bem, com duas linhas próximas, como se faz em todo mundo, é injusta. É desinformação, é ignorância futebolística, porque se abrirmos as linhas, se jogarmos longe, não vamos ganhar mais grandes jogos. É só ver como todos fazem isto na Europa, na América do Sul. Por que clubes com menos dinheiro e estrutura se igualam contra equipes brasileiras? Porque se posicionam desta maneira.