Onde você estava na manhã de 1º de maio de 1994? Em casa, ao lado dos pais? Ou ao lado dos filhos? Voltando após a caminhada no Parque Barigüi? Ou começando aquele churrasco do domingão? A maioria de todos nós podia estar fazendo qualquer coisa, mas a televisão estava ligada. Quando era exatamente 9h13, uma frase de Galvão Bueno paralisou o Brasil.
“Senna bateu forte”.
Vinte e cinco anos depois do acidente que matou Ayrton Senna na curva Tamburello, em Ímola, na Itália, parece que lembramos de cada fato daquele dia estranho, silencioso, triste. O piloto, tricampeão mundial de Fórmula 1, era um ídolo difícil de ser definido para quem nasceu depois daquele 1º de maio. Porque não era apenas o melhor entre os seus, fato reconhecido até por quem não gostava dele. Mas era um herói, um solitário herói de um país tão machucado como hoje.
Por ter se estabelecido como o grande ídolo brasileiro em um momento de inflação galopante, de falta de comida, de um país que mal sabia direito o que era democracia, que perdia no futebol e não tinha muita coisa a se orgulhar, Senna era um “ser escolhido” para muitos. Aquele que não errava, que não falhava, que era o símbolo da honestidade e da decência. Quase um santo. Ou um santo mesmo.
Lógico que não era assim. Para ser gênio da Fórmula 1, não bastava e ainda não basta ser rápido e bonzinho. Era preciso saber onde se estava pisando, ser forte e até jogar pesado. Ayrton Senna fez tudo isso, e era respeitado por ser um gigante entre os grandes. Mas falhava, mas errava, era um homem.
Essa aura em relação a ele até aumentou depois da morte – estúpida, bárbara, transmitida ao vivo pela TV. Hoje, é difícil falar de um Senna real sem ser bombardeado por provas de que ele era o cara mais perfeito do mundo. E ele nem precisava disso para ser o herói nacional – Romário que diga.
Mas qualquer um de nós foi atingido pelo “Senna bateu forte”. Lembrar desse momento ainda faz dar um embrulho no estômago. Do susto ao desespero, cada brasileiro foi afetado pelo acidente de Ayrton Senna. Passaram-se então pouco mais de quatro horas de agonia, desde o resgate, a interminável demora do helicóptero, a saída do autódromo de Ímola até Bologna, as informações do hospital Maggiore. Até o relógio marcar 13h42.
“Morreu Ayrton Senna da Silva. Uma notícia que a gente nunca gostaria de dar”.
A voz grave e baixa do repórter Roberto Cabrini, de uma sala de hospital no interior da Itália, silenciou todo mundo. Não havia mais a ser dito naquele 1º de maio, de um bonito sol em Curitiba, de rodada dupla no Couto Pereira (Athletico 1×0 Cascavel, Coritiba 1×1 Iraty), de jogo em Guarapuava (Batel 1×1 Paraná). Os dias seguintes foram de luto e de um torpor coletivo, de um velório que mobilizou São Paulo e o resto do País, de um enterro que deixou como cena simbólica os pilotos carregando o corpo de Ayrton Senna.
Hoje, Senna segue em evidência. A McLaren fez um carro para homenageá-lo, que atinge 340 km/h. Homenagens acontecerão por todos os cantos do planeta, do Brasil ao Japão. O nome dele está no topo das buscas do Google. E as vitórias pelas pistas do mundo serão recordadas. E vamos lembrar, às 9h13 e às 13h42, onde estávamos naquele 1º de maio de 1994.
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