Carnes, leites e grãos produzidos nas cooperativas do Paraná chegam à mesa do consumidor final com qualidade diferenciada e valor agregado ao produtor rural

Por Danielle Blaskievicz, especial para a Tribuna do Paraná

Quando o consumidor vai ao supermercado e se depara com uma infinidade de produtos, ele pode escolher entre os itens tradicionais, das grandes indústrias, e os produtos regionais, boa parte deles com o selo de cooperativas agropecuárias. São leites, carnes, farinhas, grãos e uma série de derivados que são produzidos e industrializados por alguma das mais de 1,6 mil cooperativas agrárias no país. Ao escolher a segunda alternativa, mesmo sem saber, o comprador está impulsionando o desenvolvimento econômico da região.

O Brasil conta com mais de 6,8 mil cooperativas de diversos setores – financeiro, educacional, habitacional e outros – e quase 15 milhões de cooperados, segundo dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). O setor agropecuário é o maior e, em número de cooperados, se equipara às cooperativas de infraestrutura, ambos com cerca de 1 milhão de associados.

Mais recentemente, para ganhar espaço no mercado e aumentar o volume de produção, cooperativas brasileiras vêm formando parcerias estratégicas para minimizar custos do processo produtivo e de industrialização, aumentar os investimentos em tecnologia, industrializar a produção, melhorar a qualidade dos produtos e aumentar a rentabilidade para os cooperados. No Paraná, um exemplo é a Unium, criada em 2017 e que é resultado da parceria entre três grandes cooperativas, a Frísia, a Castrolanda e a Capal.

Investimentos conjuntos

Produtores de carne suína passaram a vender seus produtos processados até no exterior.

Para o consumidor, o resultado mais evidente é a qualidade do produto que ele adquire, resultado de investimentos em todas as etapas do processo produtivo. De acordo com o professor e pesquisador Gabriel Sperandio Milan, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), o intercooperativismo – como é chamada essa parceria entre cooperativas – é um fator que fortalece o sistema, beneficia o cooperado e que ganha competitividade no mercado.

Milan, que é pós-doutor em Administração e doutor em Engenharia de Produção, explica que esses resultados são reflexo dos processos internos adotados no modelo de intercooperativismo, que estimula a troca de informações técnicas e de mercado, o aprendizado proveniente da interação com os parceiros de negócio, os investimentos em inovação e a evolução nos modelos de gestão das cooperativas.

Estrutura

O produtor rural Ricardo de Aguiar Wolter, cooperado da Frísia em Carambeí há cerca de 30 anos, destaca a importância desse modelo para os cooperados, que têm acesso à orientação técnica especializada, estrutura comercial, preços atrativos para a compra de insumos, entre outros benefícios.

“Há outras questões importantes, como a garantia da entrega da produção, a qualidade e rastreabilidade do produto, além da rentabilidade para o associado”, afirma.

Armando Rabbers, cooperado da Castrolanda, em Castro, salienta outro fator fundamental para o fortalecimento desse vínculo: a dificuldade que o produtor individual tem para competir com os grandes players no mercado.

“O pequeno produtor não tem como concorrer. Como cooperativa, formamos uma grande organização e toda a produção é vendida diretamente para a indústria”, reforça.

Rabbers comenta que uma parte da produção é industrializada dentro da própria cooperativa, mas a parcela excedente é vendida para outras indústrias.

Leite e derivados das cooperativas paranaenses ganham espaço na mesa do consumidor

Para Lucio Cunha Drinko, que é produtor de leite e cooperado da Capal em Arapoti, a qualidade dos produtos da Unium é o grande atrativo para o consumidor. Como associado, porém, ele destaca outros pontos fundamentais para esse tipo de parceria: o apoio técnico, a troca de experiência entre as cooperativas e entre os próprios cooperados, além de todo o suporte necessário para o manejo da produção.

Comércio internacional

Para quem trabalha no comércio internacional, o selo de uma cooperativa faz toda a diferença na hora da negociação. O empresário Kleber Fontes, diretor comercial do Grupo Casco e consultor na área de comércio exterior, explica que o olhar do comprador externo avalia muito mais do que a qualidade do produto na hora de fechar negócio.

“A cooperativa é muito bem vista na hora da negociação. Além de oferecer qualidade e quantidade, é uma estrutura que conta com governança corporativa e isso chama a atenção do comprador externo. Outros segmentos deveriam se espelhar nesse modelo para ganhar espaço e competitividade internacional”, comenta.

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