Balanço da gestão

“Fenômeno Greca”: popular entre curitibanos e envolvido em polêmicas

Imagem mostra Rafael Greca, prefeito de Curitiba com chápeu visitando uma obra.
Foto: Arquivo/Tribuna do Paraná.

Personalidade que se tornou bastante popular, Rafael Greca (PSD) encerra, em 2024, o segundo mandato consecutivo como prefeito de Curitiba. Greca foi eleito prefeito da capital paranaense três vezes: a primeira entre os anos de 1993 e 1996. A segunda de 2017 a 2020, seguida pela reeleição que o garante no cargo até este ano.

E em meio aos vídeos cantando o hino de Curitiba ou falando sobre os “curitibinhas”, às polêmicas em que se envolveu, como o projeto de lei que previa multa para quem distribuísse comida para pessoas em situação de rua, até as conferências internacionais para exibir Curitiba como cidade inteligente, qual é o legado que Greca deixa?

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É inegável a presença que, aos 68 anos, o atual prefeito possui na cidade. Abraçando as características de Curitiba, Greca se mostra um grande entusiasta da cidade na qual nasceu e se formou em Economia e Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). A intimidade com a capital é tão grande que ele mesmo se torna uma espécie de símbolo da cidade.

Na relação com os eleitores, o político também possui uma troca, no mínimo, curiosa. Como ele mesmo já revelou que gosta de escrever os comentários nas redes sociais, é comum ler “respostas autênticas” dele ao responder algum questionamento.

Estratégia ou não, a popularidade de Greca parece funcionar positivamente. Um levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, realizado no dia 21 de março, mostra que, mesmo sem poder ser candidato, ele aparece com mais intenções de voto na pesquisa espontânea para prefeito de Curitiba, a qual os entrevistados não recebem opções de nomes.

“Efeito Greca”: por que acontece?

Doutor em Ciência Política e professor na Universidade Positivo, Eduardo Miranda explica que Greca pode ser considerado um líder carismático, que apresenta uma adesão muito forte com o curitibano. “Muitos enxergam isso como uma espécie de paixão, ligação, adesão muito forte com a cultura, com os valores de Curitiba. E ele tem feito uma gestão que está sendo aprovada, digamos assim, pelos curitibanos, por isso que ele está numa avaliação positiva”.

O especialista também enxerga que a postura que Greca adotou durante a pandemia da covid-19 foi fundamental para a avaliação que possui atualmente. Miranda comenta que mesmo se apresentando como um ator político de centro-direita, o atual prefeito não assumiu a mesma postura que outros políticos do mesmo lado apresentavam, como ser antivacina ou questionar os serviços públicos de saúde.

“A gente viveu isso [pandemia] nessa última gestão, foi no começo do segundo mandato do Greca e acho que Curitiba ficou muito apreensiva com a posição dele. E acho que nesse ponto ele foi sensível e soube fazer o que tecnicamente a ciência recomendava e fez uma boa gestão. Tanto é que Curitiba rapidamente, dentro do possível, contornou o grande problema que era a pandemia e que exigiu dos governos, em geral, uma gestão eficiente e super cuidadosa naquele cenário que era novo, inédito, era muito desafiador”, acrescenta Miranda.

Como fica a Prefeitura de Curitiba com a saída de Greca?

O doutor em Ciência Política comenta que a saída do Greca da prefeitura pode impactar os curitibanos. “Sempre que uma liderança de peso sai a gente fica com uma espécie de vácuo, mas temos que entender que é mais do campo de vista simbólico. Rapidamente vai ter a eleição, as disputas vão acontecer e esse vácuo, digamos assim, ele é rapidamente ocupado por um novo nome”, diz.

Outra questão importante que Miranda aponta é que a prefeitura continua em pleno funcionamento, com técnicos e servidores qualificados que seguem atuando, independente do cargo de prefeito. “Por que tem um prefeito? Para direcionar o que essa prefeitura sabe fazer. Para isso que servem as eleições municipais, para o cidadão curitibano escolher mais um norte, digamos, da cidade, mais do que propriamente a parte técnica da cidade”, afirma.

Mestre em Ciências Sociais, Másimo Della Justina analisa o cenário de forma parecida. Ele acredita que, de forma geral, os trabalhos municipais vão ganhar uma continuidade já esperada. O que pode ficar diferente com a saída de Greca é o alinhamento político e a mudança de perfil do governo, trazendo um estilo diferente.

“Talvez um estilo de menos presença do prefeito na cidade. Mas em termos de prioridades, Curitiba tem a tradição de seguir, independente de quem esteja na prefeitura, um plano estratégico de cidade que é muito bem organizado pelo IPPUC. Seja da questão social, educação, integração de transportes, eu acho que é uma continuidade, mesmo que um grupo que nem se esperaria ganhe, acho que a prefeitura não desviaria muito de um plano estratégico que de certa forma está aí, é de longo prazo e é construído de forma inteligente”, diz Justina.

O que a última gestão de Greca realizou?

Embora seja um político popular, será que Rafael Greca cumpriu com o que prometeu quando assumiu a última gestão? No dia 1º de janeiro de 2021, quando tomou posse na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), o prefeito manifestou o desejo de entregar ao sucessor uma cidade “melhor, mais bonita e mais justa”.

Ele também listou o que queria entregar até o final de 2024. “Vem aí o Bairro Novo da Caximba, para apoio dos vulneráveis, com dinheiro em caixa da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD). Foi aprovado, ontem, o Bairro Novo da Vila Divino, à beira do rio Atuba, no Norte da cidade. Vem aí o BRT do Inter 2, em 38 bairros, para ser um novo modal de transporte. Vem aí todas as transposições da Linha Verde e um ambicioso plano de iluminação pública, para estender a todos os bairros da cidade a luz [tipo] LED”, exemplificou na ocasião.

A Linha Verde que segue em obras desde 2007 ainda não está pronta. Em fevereiro deste ano, também na CMC, Greca comentou a expectativa de que as obras sejam concluídas em junho.

Também seguem na ativa as obras do Inter 2. O trânsito em algumas ruas da cidade já foi readequado para a obra que faz parte do Programa de Mobilidade Urbana Sustentável de Curitiba, que tem US$ 106,7 milhões em recursos financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para aumento da capacidade e velocidade do Inter 2/Interbairros II, além de contrapartidas do município.

Exibindo constantemente o título de Cidade Mais Inteligente do Mundo, é notável que Greca buscou trabalhar com a inovação nesses últimos quatro anos. Em março, a capital realizou a 5ª edição do Smart City Expo Curitiba, com discussões mundiais sobre soluções inovadoras e inteligentes.

O prefeito também fechou parcerias para comprar ônibus elétricos para a cidade. A medida foi anunciada em maio de 2023, mas sofreu alguns contratempos após o Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) determinar a suspensão da compra de 70 ônibus elétricos pelo valor total de R$ 317 milhões.

Em um panorama geral, a gestão atual apresenta foco na inovação e ainda conta com várias obras em andamento. Entretanto, restam alguns meses para Greca aproveitar o terceiro mandato na prefeitura e estabelecer, por fim, a marca que deixará como prefeito da cidade.

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