Em outubro de 2024 acontecem as eleições que vão eleger nomes para os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as últimas eleições municipais revelam que Curitiba apresentou um eleitorado com mais mulheres do que homens. Em 2020, eram 727.248 mil eleitoras contra 622.640 eleitores. Apesar de serem maioria na hora de votar, como as mulheres são representadas nos cargos políticos?
“A presença das mulheres na política ainda é muito tímida”, define a Mestre em Direitos Humanos e Políticas Públicas, Aline do Rocio Neves. Para comprovar isso basta olhar para os números das eleições municipais de 2020 e 2016, divulgados pelo TSE. Em 2016, de nove candidaturas para a Prefeitura de Curitiba, apenas duas eram de mulheres. Além disso, naquele ano, todos os vice-prefeitos que disputaram as eleições eram homens. Em 2024, ao menos quatro mulheres sinalizaram pré-candidatura à prefeitura.
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Em 2020 a presença feminina ganhou um pouco mais de força nas eleições municipais, mas ainda sem superar os números masculinos. Em Curitiba foram seis candidatas mulheres e 10 homens. Já entre vice-prefeitos, sete nomes eram de mulheres e nove de homens.
O mesmo padrão continua com as candidaturas para a Câmara Municipal de Curitiba (CMC). Em 2016, 794 homens concorreram como vereadores da capital, representando 66% das candidaturas. Já as mulheres representaram 33%, com apenas 396 nomes.
Em 2020 os números foram parecidos. A relação de candidatos foi de 765 homens, representando 68%, contra 349 mulheres, completando 31%. Ocupando as cadeiras atuais, a CMC possui sete vereadoras e 31 vereadores.
Maioria entre eleitores, minoria na política
Embora os homens sejam a maioria nas posições de poder, eles são a minoria do eleitorado, já que em 2020 representaram 46%, enquanto mulheres somaram 54%. Mas então, por que ainda vemos poucas mulheres na política da capital paranaense? Para Aline do Rocio Neves, esse é um problema com várias camadas que passam por vários contextos, como históricos e sociais.
“Apesar de nós termos todo um consenso em torno da emergência da redução das desigualdades, da inserção das mulheres nos espaços de poder e até de ter a legislação desde 1997 para cotas de candidaturas de mulheres, isso ainda é insuficiente. Porque essa cota para candidatura não garante que as mulheres vão ocupar as cadeiras dentro das câmaras municipais, das assembleias legislativas e do próprio congresso”, afirma.
A especialista acrescenta que muitas vezes os partidos políticos convidam mulheres ou grupos minoritários para serem candidatos apenas com o interesse de atingir o quociente eleitoral – quantidade de votos válidos que um partido soma para conseguir uma cadeira. Algumas mulheres, desconhecendo esse cálculo do sistema político, aceitam, sem saber que o próprio partido não possui a intenção de elegê-la.
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“Essas pessoas, elas vão de boa fé tentar disputar o processo eleitoral e não sabem que, na verdade, quem irá assumir essa cadeira é o critério que o partido utiliza, que é interno. E na maioria das vezes não são as mulheres e nem os integrantes dos grupos minoritários. Isso é um problema”, diz Aline.
A questão financeira também pode ser um empecilho para as mulheres que querem ingressar na política, já que muitas vezes é necessário parar de trabalhar para focar na campanha. “Se são mulheres provedoras do lar, mães solo, por exemplo, como elas vão ficar sem rendimento enquanto estão na posição de candidatas? Isso inviabiliza a candidatura”, assegura a pesquisadora.
Mesmo eleitas, elas enfrentam desafios na política
Outra fator citado por Aline é a questão histórica. “No imaginário das pessoas existe essa ideia de que a esfera pública, a política é função do homem e não das mulheres”. Ela utiliza como exemplo o tempo que levou para o direito ao voto ser concedido às mulheres. No Brasil, o voto feminino foi reconhecido em 1932, mas era facultativo. Foi apenas em 1965 que ele se tornou obrigatório, como o dos homens. Já os homens votavam em esfera nacional desde 1821.
Além disso, a especialista acrescenta que quando as mulheres são eleitas, outras questões podem aparecer. Por exemplo, é comum que essa representante feminina possua alguma relação com homens ou famílias com história na política.
“Tem estudos da sociologia, como o professor Ricardo Costa de Oliveira da UFPR, ele estuda genealogias do poder e demonstra que mulheres que estão em cargos políticos é muito raro que seja uma mulher que não tenha nenhum tipo de vínculo ou parentesco político e que tenha conseguido assumir essa posição sem nenhum tipo de vínculo com alguém de uma família que já tenha esse prestígio e influência política”, explica Aline.
Também é recorrente que a mulher eleita tenha que comprovar com frequência a competência que possui. “O tempo todo tem que estar reforçando e controlando a competência sob o risco ainda de ser classificada como exagerada”.
Desafios das candidatas de Curitiba nas eleições de 2024
Por enquanto, Curitiba possui quatro nomes de possíveis pré-candidatas à prefeitura. São elas: Andrea Caldas (PSOL), Carol Dartora (PT), Cristina Graeml (PMB) e Maria Victoria (Progressistas).
Em uma análise geral, Aline acredita que Carol Dartora possivelmente será a candidata que enfrentará mais desafios. “Porque além das questões de gênero, ela também via enfrentar as questões raciais. A candidatura da Carol para prefeitura representa muitos nichos da nossa sociedade porque vem romper a opressiva do machismo e racismo. Acho que entre as candidatas é a que mais vai ter enfrentamentos, mas é uma candidatura legítima e muito importante”, avalia.
Como é possível superar essas questões?
Educação e debate. Para Aline, essas são as duas maneiras eficientes que devem ser trabalhadas para incluir mais mulheres em cargos políticos.