Xuxa Meneghel, 59, fez um vídeo falando a respeito de uma fala do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, sobre ter “pintado um clima” com “menininhas de 14 ou 15 anos” durante uma visita a São Sebastião, na periferia do Distrito Federal. “Vote contra esse senhor”, pediu ela.
Em vídeo publicado em uma rede social, a apresentadora lembrou ter sido vítima de abuso sexual e contou que ficou “engasgada, enojada e com raiva de que ninguém está fazendo nada”. “Ele pode fazer porque ele é presidente? Ele pode porque ele é homem?”, questionou.
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“Você pode falar o que quiser e a gente não pode gritar, berrar, dizendo que isso está errado, que isso não tem que acontecer, que não pode acontecer?”, continuou. “A nossa sociedade acha isso certo, normal? As pessoas estão mais preocupadas agora se quem roubou mais ou quem roubou menos, quem está mentindo mais, quem está mentindo menos?”
A declaração de Bolsonaro foi dada em entrevista a um podcast no último dia 14. Após as falas ganharem grande repercussão nas redes sociais, ele gravou um vídeo pedindo desculpas, mas ressaltou que a repercussão negativa foi gerada por terceiros, que teriam tirado suas falas de contexto ou não teriam compreendido o que ele quis dizer.
Em sua resposta, Xuxa citou um assunto que costumava ser tabu para ela: sua participação no filme “Amor Estranho Amor” (1982), no qual aparece em cenas de sexo com um adolescente. A obra vinha sendo usada para desacreditar a apresentadora desde que ela declarou seu voto em Lula (PT) no primeiro turno das eleições.
“Antes de qualquer coisa, eu gostaria de dizer para vocês que quem está aqui falando não é aquela menina que tinha 18 anos e fez o papel de uma menina de 15 anos que foi vendida para um prostíbulo para ser dada de presente para um político”, comentou. “Esse filme foi baseado em algumas histórias e acontecia no ano de 1939, 1940. E até hoje a gente ouve e vê situações como essas.”
Porém, lembra que se tratava de uma ficção. “Eu vou falar para vocês de uma verdade: por volta dos meus 3, 4 anos de idade eu sofri o meu primeiro abuso e consequentemente muitos outros aconteceram”, lamentou. “E, por último, foi aos 13 anos de idade, com um velho que me encurralou numa parede.”
“Eu estava apenas de camiseta e com a parte de baixo do biquíni”, contou. “Ele passou a mão dele no meu corpo todo, e eu não falei nada e não fiz nada, mas quando ele tentou me beijar eu empurrei ele e saí chorando.”
Ela prossegue dizendo que tornou a história pública só depois de adulta com o objetivo de ajudar outras pessoas que tivessem passado por algo semelhante. “Como eu e como muitas meninas por aí, acham que a gente estava com a roupa errada, no lugar errado”, disse. “Eu sempre me senti culpada por ser grande, por chamar a atenção, por ser ‘bonitinha’ aos olhos dos velhos, dos homens que se aproximavam de mim. E a nossa cultura, ao invés de colocar o dedo na cara desses velhos, culpa as meninas por elas estarem naquele lugar, daquele jeito.”
Aos seus mais de 12 milhões de seguidores, ela reclamou da declaração do presidente, lembrando que ele afirmou que elas estariam “ganhando a vida”, ou seja, se prostituindo. “Eu queria deixar claro para vocês que nenhuma criança com 13, 14 anos se prostitui”, afirmou Xuxa. “Isso aí é exploração sexual de crianças e de adolescentes.”
Ela ainda citou a ex-ministra Damares Alves, que disse ter visto fotos de crianças que tiveram os dentes arrancados para práticas sexuais, e fez um apelo para que as pessoas denunciem se ficarem sabendo de algo parecido. “Porque ficar com essa informação e não fazer nada, na minha opinião, é tão culpado quanto aquele que faz”, avaliou. “Então eu gostaria de deixar bem claro que se isso aconteceu e essas pessoas viram, ouviram e não fizeram nada, elas também são culpadas.”
Para a apresentadora, não adianta usar camisetas falando que “pedofilia é crime” e não fazer mais nada. “É óbvio, é um assassinato, essas meninas estão sendo mortas, as almas delas estão sendo massacradas”, lamentou. “Quem diz sim à pedofilia? Você, ao não fazer nada, ao não gritar por essas crianças que não podem gritar? Eu não gritei naquele momento, mas hoje eu quero gritar.”
Xuxa disse que a exploração sexual de crianças e adolescentes vai continuar enquanto frases como a do presidente forem normalizadas. “Você pode dizer: ‘Mas ele não fez nada, ele só falou’. Será? Será? Para mim, pensar… Eu não quero me calar, eu não vou me calar. Eu estou aqui como mãe pedindo a você que é mulher, você que é mãe, você que é vó, por favor, não deixe passar isso em branco. A gente não pode continuar passando a mão na cabeça dessas pessoas que falam isso e nada acontece.”
“‘Mas ele não transou, Xuxa, então não é pedofilia’. Será? O que esse cara [seu abusador] fez em mim, ele não transou comigo, mas ele achou que o fato de eu estar de camiseta e bonitinha… pintou um clima”, comparou. “Ele se viu no direito de chegar perto de mim e me tocar. Será mesmo que isso, aos seus olhos, não é crime?”
Ela finalizou declarando que a fala do presidente não pode ser esquecida. “Algumas pessoas estão dizendo ‘mas ele já se desculpou’, ‘ele já falou que não quis dizer isso’, ‘mas ele já falou outra coisa’. Não, eu nunca vou esquecer o que ele falou”, afirmou. “Eu nunca vou esquecer. E você, vai? Meu voto para ele é não. O meu voto ele nunca vai ter. E você, vai dormir com essa? Sabendo que votou nele porque não quis votar em outra pessoa?”
Após a publicação, a apresentadora recebeu o apoio de diversos famosos, como Ingrid Guimarães e Monica Iozzi. O marido dela, Junno Andrade, escreveu: “Te amo!!! Admiro muito sua coragem!!! Conta comigo sempre!!!”. Já a filha, Sasha Meneghel, disse que ela é “um exemplo de força”.