Aplicativos de entrega são protagonistas nessa época de isolamento social e são responsáveis pelo aumento de pedidos feitos aos estabelecimentos durante a pandemia do coronavírus
Com as orientações sobre isolamento social feitas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para combater o avanço do novo coronavírus no país, os brasileiros passaram a utilizar cada vez mais o serviço de delivery na hora de se alimentar. O que antes era uma praticidade para apenas alguns momentos do dia, como o almoço naquela quarta-feira mais corrida ou o jantar do sábado à noite, se tornou uma rotina neste período.
As entregas em domicílio cresceram 33% nestes dois primeiros meses de pandemia no Brasil, segundo a plataforma de pesquisa digital MindMiners. As restrições de circulação e o fechamento de bares e restaurantes fez com que 17% das pessoas começassem a usar o serviço ou adotassem o hábito de pedir comida em casa.
As empresas que fazem a intermediação entre os restaurantes e os clientes também sentiram um aumento expressivo no número de pedidos em seus aplicativos de marketplaces. A 99Food, que começou a operar no Brasil no final de 2019 em Belo Horizonte e iniciou entregas em Curitiba no início de abril, viu as vendas crescerem 20% no último mês.
Para Danilo Mansano, diretor-geral da 99Food, as pessoas viram a importância de se evitar a aglomeração nas ruas e estabelecimentos para conter o avanço da Covid-19. E perceberam que o avanço da tecnologia e o reforço nas medidas de higiene tornaram o delivery mais seguro – além de ajudar os restaurantes da cidade permanecerem funcionando. “A empresa entende que, diante do cenário atual, o delivery de comida exerce um papel social importante ao ajudar a reduzir a circulação de pessoas nas cidades, apoiar funcionamento de restaurantes locais – que têm a atividade restringida por conta das medidas governamentais voltadas para o isolamento – e gerar renda para entregadores parceiros”, afirma.
Mudança de comportamento
Nelson Goulart Junior, presidente da regional paranaense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PR), explica que o delivery já vinha crescendo antes do início das restrições por conta da pandemia da Covid-19, mas apenas com um público mais jovem adepto da tecnologia. “Agora, pessoas de mais idade também passaram a utilizar os aplicativos de entrega em domicílio, e os próprios restaurantes viram uma forma de se manterem funcionando mesmo com os salões fechados”, analisa.
33% é o número registrado de aumento de entregas em domicílio nos primeiros meses de pandemia no Brasil.
17% das pessoas começaram a usar algum serviço de entrega ou adotar o hábito de pedir comida em casa.
FONTE: MindMiners
Segurança na entrega e vantagens para parceiros
O uso do serviço de delivery ainda gera muitas dúvidas por parte dos consumidores, entre elas a segurança na entrega do pedido e até mesmo do preparo na cozinha.
Não há evidências científicas de que o vírus possa ser transmitido através de alimentos. Mesmo assim, os restaurantes orientaram as equipes a intensificar ações como a constante lavagem das mãos antes e depois do manuseio dos ingredientes crus ou cozidos, o uso de máscaras protetoras e desinfetantes nos utensílios, a utilização de diferentes tábuas de corte e facas para cada alimento, entre outros cuidados.
Fernando Caruccio Junior, proprietário da churrascaria Saanga Grill que atende pela plataforma 99Food, conta que tanto os serviços de entrega como os próprios restaurantes atendem aos cuidados exigidos pela atividade de entrega. “O delivery é muito mais prático e pontual. Os pratos são feitos com cuidado e chegam com toda segurança ao destino”, conta.
Desde o início das restrições de circulação pelas ruas e comércio, a 99Food orienta os restaurantes cadastrados a reforçarem os cuidados com a higiene da cozinha, dos pacotes e da entrega. Entre as medidas de prevenção estão o fornecimento de mais de 10 mil kits para os entregadores compostos por máscaras da categoria N95/FFP2 e álcool em gel 70% para higienização de mãos, bolsas e guidão. A empresa também disponibilizou a ‘Entrega sem contato’, em que o consumidor que realiza o pagamento do pedido pelo aplicativo pode combinar com o entregador um local para receber o pedido sem encontrá-lo. Além disso, todos os entregadores parceiros da plataforma recebem orientações para prevenção e proteção durante o trabalho no período de pandemia e são resguardados por um seguro contra acidentes pessoais e um fundo de suporte de US$ 10 milhões em ajuda financeira caso sejam diagnosticados com o novo coronavírus e precisem ficar em quarentena. Já os restaurantes são beneficiados com o repasse semanal dos valores dos pedidos ao invés do ciclo de faturamento tradicionalmente mensal – compromissos que demonstram a preocupação da 99Food com o andamento dos negócios e pagamentos do parceiro.
A empresa também isentou os pequenos e médios empreendedores do custo de ativação do cadastro e deu mais autonomia para que os próprios empresários criem ou alterem os cardápios oferecidos na plataforma.
Alternativa em tempos de isolamento
Embora o serviço de delivery sempre tenha sido algo adotado mais pelos restaurantes, os bares também viram na entrega em domicílio uma oportunidade de manter os clientes por perto – mesmo que à distância.
No curitibano Cho Street Food, o salão foi totalmente fechado também desde o início do isolamento social. No entanto, um dos sócios do bar, Alex Dallagnol, conta que enquanto o movimento presencial zerou da noite para o dia, o delivery deu um salto de 50%, e hoje é responsável por quase 70% do faturamento da marca. “Os clientes que já frequentavam o local migraram para o delivery, pedindo nossos pratos individuais em casa. Também adotamos combos para compartilhar que não tínhamos no bar”, explica.
Outro bar da cidade que se surpreendeu com aumento do delivery foi o Don Max. Conhecido por servir uma premiada feijoada aos sábados, o empresário Paulo Zanatta viu o volume de porções saltar de 60 para cerca de 200 depois que adotou o serviço. “Entrei com toda a força possível no delivery, e até o salão acabou virando depósito de insumos e embalagens. As pessoas estão pedindo muito, a feijoada é entregue bem lacrada e sem perigo de vazar”, detalha o empresário.
Com o cardápio adaptado para a entrega em domicílio, o Saanga Grill pôde levar os cortes de picanha, chorizo e costela como os preparados no restaurante, mas vendidos em combos individuais ou para compartilhar acompanhados de maionese, farofa e arroz branco. No restaurante, o serviço de delivery teve um aumento de 100% desde que o salão foi fechado por conta das regras de isolamento social.
Desde que chegou em Curitiba, no começo do mês de abril, a 99Food conta com mais de 500 restaurantes cadastrados e com mais de 2.500 entregadores.