À beira do perigo | Caçadores de Notícias

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Basta o céu escurecer e ameaçar a chegada de mais uma chuva para que o mestre de obras Romão Rodrigues dos Santos, 58 anos, e sua família fiquem em alerta e com medo. Morando às margens do Ribeirão dos Padilhas, na Vila Rex, no Xaxim, há 35 anos, ele contabiliza os danos que sua casa tem sofrido com a força das águas, especialmente após os temporais e a cheias do rio, que aumentam a erosão do solo sob a moradia.

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“A última chuva forte foi a pior, ela levou o canil e um pedaço do muro, que já tinha sido consertado três vezes. Na hora eu estava trabalhando e, quando cheguei, vi a água bem alta. Antes o rio ficava distante da casa. Este lote tinha 25 metros de frente, mas depois que dragaram o rio, nosso terreno ficou só com 20 metros”, conta Romão.

Ribeirão dos Padilhas é sinônimo de perigo para quem mora às suas margens. Foto: Felipe Rosa

IPTU em dia

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Segundo ele, sua casa foi construída há mais de três décadas em uma área regular, seguindo a legislação vigente na época, em um local onde inclusive, ele recebe anualmente sua conta do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). “Tenho documento do terreno e este ano paguei cerca de R$ 920 de IPTU. Mas tenho medo da água e também de que queiram interditar a casa sem me indenizar. Essa casa é o investimento de uma vida toda, todo o dinheiro que ganho vem para cá, fui fazendo tudo aos pouquinhos”.

Sem parte do muro, e com a garagem e a casa correndo o risco de desabarem, o mestre de obras pede a atenção e a ajuda do poder público. “Eu gostaria mesmo que fizessem um muro de arrimo pra mim. Senão, terei que fazer sozinho e depois tentar cobrar da prefeitura. E um muro de arrimo simples, sem a mão de obra, não sai por menos de R$ 6 mil. Se for de concreto, custa mais de R$ 15 mil. Para sair daqui, só se indenizarem por um valor justo. Não temos para onde ir”, revela.

Romão: última chuva foi a pior. Foto: Felipe Rosa

Rio estreito

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Sobrinho de Romão, o carpinteiro Ademir de Lara, 40, também vive desde sua infância no mesmo terreno, em uma casa construída ao lado da moradia do tio. De suas lembranças de menino, muitas estão ligadas ao Ribeirão dos Padilhas. “Eu pulava de um lado para o outro, esse rio era bem estreito e tinha muitas árvores nas margens. É triste ver isso, estas mudanças, passar a vida construindo aqui, pagando imposto, para agora ver nossa família, meu tio e meus filhos com medo da próxima chuva. Quando chove, vem muita água por este rio”, diz.

Ademir lembra que, na infância, rio era estreito, ele pulava de um lado pro outro e tinha muitas árvores nas margens. Foto: Felipe Rosa

Vistoria

Procurada pela Tribuna, a Prefeitura de Curitiba informou que está estudando os casos de imóveis antigos e em áreas irregulares, construídos em Áreas de Preservação Permanente (APPs), “como é o caso da casa do senhor Romão Rodrigues dos Santos, à beira do Ribeirão dos Padilhas, no Xaxim”.

Segundo a administração municipal, a construção em questão está dentro de faixa não edificável de drenagem e as edificações existentes não possuem alvará de construção. “Já existe uma solicitação de vistoria e avaliação por parte da Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis (Cosedi), o que deve acontecer nos próximos dias”, promete.

Sobre a contenção das margens, a prefeitura ressalta que a execução de uma obra exigiria aprovações de projeto, feito por um profissional registrado no Conselho de Engenharia, junto às secretarias municipais de Obras Públicas e Meio Ambiente, e que qualquer intervenção poderia impactar em outras áreas de margem. Para prevenir enchentes no Ribeirão dos Padilhas, ainda de acordo com a prefeitura, estão previstos recursos de R$ 7,4 milhões. O projeto foi aprovado, licitado e aguarda recursos do Ministério das Cidades.

Rio já “comeu” 5 metros de casa no Xaxim. Foto: Felipe Rosa