Depois que se despede de seus clientes, o barbeiro Walter Butzke, 83 anos, tem uma espécie de ritual: ficar observando como ficou seu serviço até perder a pessoa de vista. “Quando o cliente sai eu fico olhando se o cabelo está bem cortado. Eu gosto de ver um cabelo bem cortado”, revela ele, que está prestes a completar 70 anos na atividade.
A primeira vez que Walter teve contato com uma navalha foi aos 14 anos de idade. “Aprendi na cabeça do meu pai, que me pediu para fazer a barba dele. Depois ele me pediu pra cortar o cabelo. Passou um tempo, a família e os vizinhos começaram a chegar e eu não parei mais. Estou até hoje”, lembra o barbeiro.
Ele nasceu em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, e chegou em Curitiba em 1959. Desde então, conquistou uma clientela cativa que o acompanha por todos os endereços em que já trabalhou. Em 2010, Walter se instalou no terreno de sua casa, na Rua Gardênio Scorzato, divisa dos bairros Vista Alegre e Pilarzinho, onde recebe famílias inteiras.
“Já cortei cabelo de criança que já cresceu, casou e trouxe o filho”, diz o barbeiro, que atende apenas homens, com exceção de uma única cliente mulher. Ele recepciona seus clientes com uma geladeira azul – daqueles modelos antigos, que foi comprada na loja Hermes Macedo por 300 cruzeiros na década de 70 – cheia de cerveja.
Tradição
Todo o trabalho de Walter é baseado em sua experiência, já que ele não fez nenhum curso na área. E é sua prática de quase sete décadas que ele acredita ser o diferencial para conquistar os clientes entre a concorrência. “Tem cabelereiro que não sabe nem pegar numa navalha, a única coisa que sabe é passar a máquina”, avalia.
Também por isso que, com propriedade, garante: a melhor lua para cortar o cabelo é a crescente. “Assim o cabelo não cai. A minguante é a pior lua. E pra lavar a melhor coisa que tem é sabão de coco, tira a oleosidade do couro cabeludo”, comenta. Além disso, máquina para cortar o cabelo é dispensável: “Só se o cliente pedir”.
Habilidoso com a navalha, o método para tirar a barba é o tradicional, com água quente para amolecer o pelo. “Sempre uso espuma com creme. O segredo é ter a mão leve e saber puxar a navalha”, explica.
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