Não é a profissão dos sonhos e até pouco tempo atrás, nem vista como profissão era. Mas cada vez mais os catadores de materiais recicláveis se organizam para melhorar suas condições de trabalho, de renda e reconhecimento.
O associativismo é uma das formas de se fortalecerem. Mas não é fácil: é preciso entender que vão trabalhar em grupo, para que cada um seja beneficiado. E terão novas tarefas e regras a cumprir, como acontece na Associação de Catadores de Materiais Recicláveis Natureza Viva, no Uberaba.
A sede da associação é um grande barracão no trecho final da Avenida Salgado Filho. Hoje, são cerca de 30 associados, a partir dos 18 anos e sem idade limite. A maior parte, mulheres.
A renda mensal é determinada pela quantidade, em quilos, que cada um separa em materiais recicláveis, que podem ter sido recolhidos pelos próprios catadores em parceria com a prefeitura, a associação oferece carrinhos apropriados – ou do que recebem no barracão vindo dos caminhões do Lixo Que Não É Lixo. Ainda, há uma porção doada por empresas.
“A grande vantagem é que aqui se pode trabalhar diretamente na seleção, sem precisar ir recolher o material na rua”, diz a presidente da associação, Rosângela Ribeiro da Silva, 43 anos, há onze trabalhando como catadora e há oito na Natureza Viva.
As regras: todos precisam ajudar nas tarefas de limpeza. Crianças não podem seguir nos carrinhos: o lugar delas é na creche ou na escola. “Queremos estimular que todos se comportem como trabalhadores e deixemos essa imagem de mendicância. E que tem hora de trabalhar e de estar com a família. Muitas vezes é duro, mas é necessário”, diz Rosângela, mãe de uma adolescente de 14 anos.
Renda e “shopping”
A tarefa não é nem um pouco fácil. A prefeitura de Curitiba estima que apenas 30% do material encaminhado pela população como reciclável é de fato reutilizável. Dentro dos sacos, há sempre de tudo uma “caixinha de surpresas”, como diz Rosângela -, com riscos como material hospitalar, dejetos humanos e até animais mortos.
Por isso, os catadores usam luvas e botas que aumentem a proteção dos catadores para trabalhar. Máscaras também estão à disposição. O pagamento mensal varia entre R$ 300 e R$ 1,2 mil, conforme a produção. Em um mês excepcional, há quem atinja R$ 1,9 mil.
Sem contar as “joias” que encontram no que é considerado lixo. Calçados, roupas, acessórios, utensílios para casa recheiam os sacos que esperam a separação e, entre os catadores, a piada é que, há dias em que fazem do trabalho uma ida ao “shopping”.