Fonte de energia

No meio do Uberaba, vários canteiros de verduras e hortaliças chamam a atenção, quase como um oásis em meio à paisagem urbana. Nascida de uma iniciativa de moradores da região, já são pelo menos 15 canteiros na horta comunitária criada no terreno entre as ruas Anna Kloster Guimarães e Maria Medeiros Damas, sob linhas de transmissão de energia de alta tensão. O espaço, onde antes existiam pilhas e mais pilhas de entulhos, virou sinônimo de comida boa e de economia para as famílias envolvidas no plantio.

Laurecy participa do cultivo da horta. Foto: Felipe Rosa.
Laurecy participa do cultivo da horta. Foto: Felipe Rosa.

“Esse terreno era cheio de lixo, tinha caco de vidro e pneu velho. Ficava feio para a gente, dava até vergonha de trazer as visitas. Mas há uns cinco anos um morador fez uma horta e, no começo do ano, eu e outras famílias também começamos a nossa. Eu estava desempregada e aprovei meu tempo ‘livre’. E é muito gostoso, já colhi alface, cenoura, rabanete e pepino”, conta a professora de ciências no ensino fundamental Laurecy Galle, 53 anos.

Moradora do bairro, ela diz que começou a plantar para ter alimentos frescos e orgânicos, para ajudar a comunidade a proteger o meio ambiente e ainda conseguir informações para a pesquisa sobre hortas urbanas, que desenvolve para seu curso de pós-graduação em geografia. “Meu objetivo é ajudar a instruir a comunidade, para que as pessoas se beneficiem e não joguem mais lixo por aqui, para a área ficar mais bonita para todos nós”, revela.

Orgulhoso da filha, o aposentado Lauro Galle, 78, que vive em Santa Catarina, aproveitou a vinda a Curitiba para dar mais dicas para Laurecy, para ela ampliar e incrementar seus canteiros. “Tá bonito (o terreno), melhor do que antes, quando estava abandonado. Não precisa plantar árvore grande, que pode pegar nos fios. Horta é a coisa mais linda. Para ajudar, trouxe mudas de batata doce de Santa Catarina, para a Laurecy plantar aqui”, conta.

Lauro, que veio de Santa Catarina, aproveitou a visita pra dar umas dicas. Foto: Felipe Rosa.
Lauro, que veio de Santa Catarina, aproveitou a visita pra dar umas dicas. Foto: Felipe Rosa.

Grande variedade

Outra moradora, a pensionista Maria Saraiva, 65, também comemora o que tem produzido na horta, como fruto de seu esforço e dedicação. “Já colhemos vários tipos de verduras. Já ‘deu’ alface, couve, tomate e até feijão tenho plantado aqui. Mas minhas preferidas são as alfaces americanas”, conta ela, que também diz ter tirado um sofá velho, um guarda roupa e uma boa quantidade de caliça do terreno, antes de poder começar a plantar.

“Nosso medo agora é que a prefeitura ou a Copel passem com um trator por cima da horta. A gente sabe que tem as torres de energia, mas estamos cuidando do terreno. Antes, com aqueles entulhos, era grande o risco de doenças no bairro, a gente tem medo da dengue”, explica Maria.

“Nosso medo agora é que a prefeitura ou a Copel passem com um trator por cima da horta”, diz Maria. Foto: Felipe Rosa.
“Nosso medo agora é que a prefeitura ou a Copel passem com um trator por cima da horta”, diz Maria. Foto: Felipe Rosa.

O terreno em questão, onde foram plantadas as folhas, verduras e até algumas frutas, é de responsabilidade da Copel. Segundo a empresa, as faixas de segurança sob as linhas de transmissão são delimitadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica e servem para as ações de operação e manutenção da rede. “O mau uso da faixa pode danificar a linha, interromper o fornecimento de energia e causar sérios acidentes”, alerta.

Parceria

Porém, a companhia admite que é possível estabelecer alguns usos controlados da área, com o devido acompanhamento da Copel. “Atualmente, a Copel desenvolve o Programa Cultivar Energia, justamente para regulamentar hortas comunitárias. Essa horta no Uberaba poderá ser incluída no programa, desde que atenda a alguns critérios e siga os procedimentos de segurança.

Nossa equipe entrará em contato com as lideranças locais para avaliar a viabilidade da parceria”, informa, em nota enviada à Tribuna.

De acordo com a Secretaria Municipal do Abastecimento (SMAB), atualmente, essa horta não tem apoio oficial da prefeitura, por estar em um terreno da Copel. Mas a pasta revelou que um convênio entre o município e a companhia de energia paranaense está em estudo, podendo futuramente contemplar esta área de horta no Uberaba.

Programa de apoio

A SMAB dá apoio às hortas comunitárias desde 1986, através do Programa de Agricultura Urbana – projeto responsável pela assistência técnica e apoio organizacional das comunidades. Mesmo programa que deve ser utilizado no possível convênio com a Copel. Segundo a prefeitura, Curitiba tem hoje 24 hortas comunitárias cultivadas por 872 famílias de produtores urbanos, espalhadas por 428 mil metros quadrados sob linhões de energia da Eletrosul, terrenos públicos e áreas da iniciativa privada. Estas hortas estão situadas nos bairros Cajuru, Sítio Cercado, Umbará, Tatuquara, Campo do Santana e CIC.

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