Paciência e esperança têm sido as palavras que confortam moradores e comerciantes que vivem ou utilizam a marginal da BR-277, no bairro Uberaba, em Curitiba. A obra, que deveria ter ficado pronta antes da Copa do Mundo, está praticamente igual desde 2013.
O trecho é rota de passagem diária para os bairros Cajuru e Jardim das Américas e fica entre a fábrica da Coca-Cola e a Sanepar. São menos de 750 metros, entre as ruas Jorge Gomes da Rosa e Doutor Gabriel Pereira Filho. O investimento atual previsto é de R$ 3,6 milhões. O projeto determinava a colocação de galerias de águas pluviais e execução de terraplenagem, pavimentação, paisagismo, sinalização vertical e horizontal e também a instalação de pontos do transporte coletivo.
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Um impasse entre o governo estadual e o municipal foi o responsável por suspender, há três anos, o convênio que sustentaria a obra – à época, orçada em cerca de R$ 2,5 milhões. Por falta de pagamento, a empresa responsável pelo serviço concluiu apenas 23% do prometido e abandonou a obra. No início de 2016, a prefeitura disse que assumiria o problema e finalizaria, sem contrapartidas, toda a revitalização. Em agosto, a ordem de serviço foi assinada e, de lá para cá, pouca coisa mudou. O chão continua batido, muito esburacado e a calçada inexiste.
“A gente vê uma máquina ou outra, encostada, com alguns trabalhadores fazendo pouca coisa ou quase nada. Colocaram o meio-fio e só. O problema é que antes tínhamos o antipó e a situação não era tão ruim. Eles removeram todo o pavimento e virou isso aí. Um monte de buraco. Ficamos prejudicados demais”, desabafa o comerciante Murilo José, que mora perto da marginal. Pai de duas crianças, ele diz ainda que o pó que os carros levantam acaba trazendo doenças respiratórias aos filhos.
Levantou poeira!
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Maria Lúcia mora no mesmo local desde 1991 e ainda não perdeu a esperança, apesar de ter deixado de lado grande parte da paciência. “Há alguns anos veio uma empresa, iniciou a obra e de repente tudo parou. Ficamos reivindicando, fizemos protestos e a prefeitura voltou. Falaram que até dezembro estaria pronto. Mas, sem chances. Olha o jeito que está”, lamenta. Por falta de pontos de ônibus na via, ela precisa atravessar a BR-277 quando precisa utilizar o transporte coletivo.
A empresária Adriane Krupczak também sofre com a situação. Proprietária de uma loja de material de construção, se diz irritada com a condição enfrentada. “Eu limpo a loja e em poucos minutos está tudo empoeirado. Os clientes chegam e acham que é porquice nossa, mas não é. Me perguntam como tenho coragem de trabalhar em meio a tanta sujeira e se tenho vergonha na cara mas, no fim das contas, quem precisa de vergonha na cara é o nosso sistema político, que não dá a mínima para os trabalhadores”, esbraveja.
Ritmo de tartaruga

A Tribuna ficou no local por mais de uma hora e, durante todo o tempo, percebeu a presença de apenas três operários e um trator. Parados, os funcionários da empreiteira que presta serviço para a prefeitura aproveitavam o tempo para conversar, mas deixaram o local ao perceber a presença da reportagem.
Procurada, a prefeitura de Curitiba não trata de prazos. Por meio da assessoria de imprensa, a administração municipal se limita a dizer que já notificou a empresa responsável pela obra quanto ao andamento dos trabalhos. Enquanto a empresa não se manifestar, a prefeitura diz que não poderá emitir um posicionamento ou uma satisfação para quem sofre com os transtornos da obra inacabada.
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