Avenida Sem Torres

A “Avenida das Torres” vai virar “avenida sem torres”, pois a Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel) vai retirar 25 torres e 20 superpostes da via, que liga Curitiba a São José dos Pinhais. As linhas de energia aéreas agora vão ser subterrâneas, em galerias no canteiro central que vão abrigar 42 quilômetros de cabos. Aliás, muita gente não sabe, mas “Avenida das Torres” é apenas apelido. A rua se chama, na verdade, Avenida Comendador Franco.

A obra de oito quilômetros – da Rua Doutor Dário Lopes dos Santos, no Jardim Botânico, até a Rua Rosa Mehl, no Uberaba (esquina do mercado Condor) – será executada pela Copel ao custo de R$ 157 milhões. Apenas uma torre vai ficar sobrando, lá perto de São José dos Pinhais, porque não pertence à linha de distribuição que será mexida nesta obra. O governador Beto Richa deve acompanhar de perto o ato de início da retirada das torres. A cerimônia é hoje, às 11h, na Rua Engenheiro Leão Sounis, ao lado do Viaduto Capanema, no Jardim Botânico.

Trânsito

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

Conforme a Copel, a empreitada deve durar 18 meses e um acordo foi feito com a Secretaria de Trânsito de Curitiba (Setran): as obras ocorrerão das 9h às 18h, para evitar os horários de pico; cada trecho de obra (executado um de cada vez) não se estenderá por mais de 50 metros, para não prejudicar demais o trânsito, visto que será necessária a interdição de uma das faixas de rolagem (para a movimentação dos trabalhadores e maquinário); e nos trechos mais críticos (onde tem viadutos ou cruzamentos de vias importantes) não deverá ser cavada nenhuma vala, pois o buraco deverá ser feito através de sonda.

O atual asfalto – revitalizado para a Copa do Mundo não será quebrado. As obras vão mexer apenas no canteiro central. Apenas um pequeno trecho de 400 metros não será mexido. É a parte do Viaduto Estaiado, onde as linhas já foram enterradas, para viabilizar a construção da ponte.

E o canteiro?

A companhia explica que deixará o canteiro central igual ao que está hoje (com grama), com a diferença é que não terá mais torres. Na época das obras para a Copa já se falava que a prefeitura aproveitaria o espaço para construir uma canaleta para expresso ou VLT (Veículo Leve sobre Trilhos, elétrico), ciclovia ou aumentaria a quantidade de faixas de rolagem ao trânsito. Mas, conforme o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), não há por enquanto nenhum plano para o canteiro.

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

Feito pra durar

A Copel explica que, atualmente, Curitiba vive com um anel energético de 69 kV (69 mil Volts). No entanto, acredita-se que, a partir de 2020, estes 69 kV não conseguirão mais atender a capital, que a cada ano, cresce e demanda por mais energia. Por isto, a nova linha de alta tensão subterrânea terá nova capacidade de 230 kV. Estudos mostram que Curitiba poderia viver tranquilamente com 138 kV nas próximas décadas. Sendo assim, 230 kV é um investimento a muito longo prazo, talvez definitivo.

Conforme a companhia, se a empresa optasse por aumentar a capacidade das linhas de forma aérea, como é hoje, haveria a necessidade de ampliar muito mais as torres e a área de segurança ao redor delas, ou seja, casas e comércios teriam que ficar ainda mais longe das torres.

Sendo assim, 138 kV seria bem provavelmente a capacidade máxima a ser implantada de forma aérea. Já com galerias subterrâneas, é possível ampliar a capacidade de distribuição de energia em até bem mais que os 230 kV que serão implantados, sem precisar de um ‘isolamento‘ tão grande ao redor como é hoje.

Além das galerias subterrâneas, novas subestações vão dar suporte ao sistema. Uma nova será construída no Jardim Botânico, para atender este eixo Curitiba-Centro. Já subestação Uberaba – que atuará integrada com a subestação Jardim Botânico, passará por ampliação e modernização.

Povão questiona

A retiradas das torres causou estranheza e surpresa a muita gente. Alguns acham que a via vai ficar mais bonita e segura. É o caso do vendedor autônomo Enoque de Jesus, 63 anos, que não sabia que “Avenida das Torres” era apenas o apelido da Avenida Comendador Franco. “Vai ficar melhor. Quando tiver tempestades, ventos, evita danos na energia”, diz. Já a artesã Alali Santoro está confusa e não sabe como vai chamar a rua. “Avenida sem torres, ou esse nome aí que você falou (Comendador Franco)”, brincou ela.

Diferente da Alali, o aposentado Vitor Hugo, 62 anos, sabia que “Avenida das Torres” era apelido da Comendador Franco. Ligado no noticiário, ele vinha acompanhando os comentários de que as torres seriam retiradas ainda antes da Copa e que uma canaleta seria construída no canteiro central. “Trabalhei muitos anos em São José dos Pinhais. Vi que começaram uma parte das obras, lá como quem vai par a BR-376, e depois parou tudo”, analisa ele.

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

Contra

O professor de geografia Marcelo de Souza Pereira, 31 anos, acha que, se for apenas por estética, a obra será desnecessária. “Ao lado da avenida tem uma vila com pessoas de baixa renda. Penso que a reforma é interessante, desde que traga algum benefício à sociedade, para esse povo que precisa de uma infraestrutura melhor. A gente reclama da violência, mas ela é fruto da falta de assistência a determinadas populações”, diz Marcelo, que acha que o custo da obra vai ser muito alto e parte dele poderia ser usado em benefício à Vila Torres, por exemplo.

O amigo de Marcelo, o produtor audiovisual Welyton Crestani, também questiona a obra. “Não vejo porque tirar as torres. Não estão atrapalhando em nada”, questiona. Mas, como a obra já é assunto certo, Marcelo defende que seja então construída uma ciclovia no canteiro central. “Não pode ser que nem a Linha Verde, uma obra interminável, um elefante branco jogado de uma gestão a outra, ninguém termina. E que não seja só uma obra eleitoreira, já que ano que vem tem eleição. Se não, o prejuízo fica para a população”, alerta o professor.

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