Um gosto de infância que virou profissão. Nascido em Assis (SP), mas criado boa parte da sua vida no Paraná, Alcides Pileggi, 63 anos, é um artista que cria suas obras no quintal de casa, no Uberaba. Vivendo com a esposa e dois netos, seu Pileggi, como gosta de ser chamado, produz facas além de arcos e flechas com as próprias mãos. “Eu sempre gostei muito de arco e flecha. Desde pequeno eu fazia os meus próprios, mas claro com bambu, de madeira do mato. Eu fazia arcos simples, mas hoje faço profissionalmente e são bem trabalhados. Mas meu sonho também era trabalhar com facas”, explica Alcides.
O sonho ficou na infância e a vida de Pileggi tomou outros rumos. Foi entregador de bobinas, motorista e já teve até estúdio fotográfico. Também já foi dono de lanchonete, restaurante e pizzaria. Chegou a ter três restaurantes ao mesmo tempo, mas um assalto o tirou do ramo. “Durante o assalto eu levei um tiro nas costas e isso quase acabou com a minha vida. Fiquei sem andar por causa do tiro e tive muitos problemas em decorrência disso. Fiquei sem andar por três meses e tive problema nos rins. Com isso, cheguei a pesar 156 quilos”, conta Pileggi.
Em depressão, o artesão ficou parado por três anos, mas o sonho de menino voltou a sua cabeça quando foi passar um tempo na chácara do sobrinho, em Pinhais. Em meio à natureza, ele voltou a fabricar arcos e flechas com as madeiras que sobravam da chácara. “As madeiras são reaproveitas, mas como conheço bem, porque já trabalhei com reflorestamento com o meu pai, sabia que eram boas. Desde então nunca mais parei. Eu faço porque eu gosto”, relata Pileggi.
Todo o processo para fabricar os arcos e flechas também é artesanal e demora cerca de três dias. Cada arco chega a custar cerca de R$ 150.
Facas
Mas a vida impôs outra situação difícil para o artesão. A morte do filho. No entanto, da tristeza da perda do filho há dois anos, Pileggi tirou forças para voltar à ativa e retomar o gosto pelo trabalho. Com o incentivo dos amigos ele desenhou e confeccionou sua primeira faca. “Era simples, mas ela me deu gosto para continuar”, conta o artesão. Sua produção é variada desde facas de caça e sobrevivência até facas para acampamento e cortes de carnes. E um detalhe importante: aprendeu o ofício assistindo vídeos no YouTube. “Eu aprendi tudo sozinho. Mesmo vendo vídeos em outras línguas, até em russo e polonês, eu conseguia captar as imagens e entender. Quando eu me envolvo no processo eu viro um artista. Eu desenho uma faca na mente, por exemplo, e passo para o papel. E assim o processo continua e toma forma”, explica Pileggi.
O processo de produção das facas é todo artesanal e, dependendo do tamanho e do estilo da faca, pode-se demorar até um mês para ser finalizada. Exige muito esforço, habilidade, dedicação e amor por essa profissão que transforma trabalhadores em artistas. Como afirma o próprio Pileggi, “não faço uma única faca parecida com a outra. Cada uma tem sua particularidade”.
Seu próximo objetivo? Montar sua própria cutelaria completa e, através dela, poder viver do seu sonho. “Tudo o que eu tenho hoje fiz com as minhas próprias mãos, inclusive as máquinas onde produzo meus materiais. Queria criar meu nome e ter certeza que viveria da venda das facas, arcos e flechas”, conta, sorridente.
Processo
Pileggi utiliza capas de rolamento que são aquecidas por 12 horas na forja adaptada dentro da churrasqueira. Depois disso ele deixa o aço esfriar naturalmente e então bate o aço na bigorna para tomar forma, faz o desenho da faca e recorta. A etapa mais demorada é a usinagem das facas que consiste em dar um melhor acabamento à peça. Depois disso, ele deixa a faca novamente no fogo e resfria de duas a três vezes para harmonizar o aço e então passa pelo processo de têmpera em parafina ou óleo para endurecer o material. Novamente vai para o forno a uma temperatura de 200 graus. Por último, ele faz os furos para o cabo.
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