Uberaba

A voz do sonho

Um bordão que não dispensa apresentação, afinal, o dono da voz do carro do sonho, Luiz Carlos de Paula, 48 anos, o “Luizão”, ainda surpreende quem o reconhece pelo mesmo timbre da gravação: ‘Alô freguesia, é o carro do sonho que está passando‘. Nascido e criado no Uberaba, ele conta que até no local por onde passou toda a vida não é raro se deparar com pessoas que o abordam para confirmar se ele é o dono da voz. ‘Minha voz ficou mais conhecida que eu, mas é sempre muito gostoso esse reconhecimento, saber que faço parte da história tanto de quem aprecia sonhos quanto de quem conseguiu vender mais e se sustentar com a ajuda da minha gravação‘, avalia.

Mesmo ocupando um lugar cativo na memória de muitas pessoas, que já tiveram a rotina marcada pela passagem de um carro anunciando os sonhos de sabores diversos, ele nunca se preocupou em registrar a autoria da gravação. ‘Tudo começou com o meu pai que tinha um vozeirão, mas não chegou a gravar. Essa chamada a gente fazia no gogó dia após dia‘, conta. A venda de sonho na família de Luizão veio no lugar de frutas e verduras. ‘Meu pai queria mudar de ramo, porque as verduras estragavam muito o carro e a venda de sonho se transformou na fonte de renda dele, minha, e depois do meu cunhado e, hoje, um dos meus filhos também está nesse negócio‘, conta.

Porém ele, no momento, está trabalhando com serviços de manutenção e reforma em geral, como limpeza de terreno, pinturas internas e externas e jardinagem. ‘Aprendi com meu pai a sempre fazer inúmeras coisas para evitar ficar refém de uma só. Mas a venda de sonho sempre está em nossa família‘.

“Rendeu um bom dinheiro”

Quanto a ganhar dinheiro com a própria voz, Luizão explica que na década de 1980, quando tudo começou, ele recebeu para gravar para outros carros de sonho, mas depois da internet, muitos se limitaram a copiar sua voz. ‘Basta observar que a maioria dos carros não trazem os preços dos sonhos, só a chamada inicial‘. Luizão também foi contratado para fazer alguns comerciais.

‘A minha voz já rendeu um bom dinheiro, mas hoje não‘. Segundo ‘Luizão‘, no ano passado, por conta de uma ação contra poluição sonora gerada pelos carros de som, ele ficou sabendo que passam de 400 carros de sonho que usam a famosa gravação. ‘Sei que faz diferença na hora de vender pela tradição de escutar uma chamada familiar, mas a poluição sonora não é culpa da minha voz. Eu sempre baixei o volume perto de escolas, hospitais ou panificadoras para evitar qualquer transtorno‘.

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Sobre o autor

Magaléa Mazziotti

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