A vila rural das Moradias Santa Rita, no Tatuquara, perdeu as características de quando foi entregue, em 1995, nas gestões do ex-governador Jaime Lerner e ex-prefeito Rafael Greca. Hoje, os lotes que antes abrigavam cultivos de gêneros alimentícios estão cheios de entulho, lixo reciclável, ou mesmo “puxadinhos”, construídos pra aluguel. Os pequenos produtores dizem que desanimaram por causa das frequentes enchentes, que destruíam as plantações toda vez que chovia forte.

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A agricultora Maria do Carmo Araújo Cardoso, 59 anos, é uma das poucas que resistem, mantendo uma plantação de milho. Assim que se mudou com a família, cultivava também feijão, mandioca, legumes e hortaliças. Praticamente não tinha que comprar comida no supermercado. “Mas aí começou a alagar. Antes, só inundava a plantação. Agora, a água entra dentro das casas. No ano passado, a água atingiu 80 centímetros. Perdemos tudo”, conta.

Desiludidos

Com os prejuízos, os que ainda plantavam desanimaram de vez. “O povo desistiu de plantar e de esperar a prefeitura vir aterrar os lotes. A maioria jogou caliça para aterrar e passou a mexer com recicláveis”, relata. Isso explica por que muitos lotes estão cheios de entulho. Maria do Carmo relata que até no ano passado a prefeitura fornecia sementes aos agricultores, além de mandar tratores pra roçar os lotes. Mas todos esses serviços pararam.

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O aposentado João Maria de Oliveira, 59, cita que as enchentes começaram há uns quatro anos. “As bocas de lobo inundam. Não posso mais criar galinhas, nem uma vaquinha para tirar leite”, lamenta ele, que é morador da vila. A única vila rural de Curitiba é formada por 30 chácaras, com cerca de 5 mil metros quadrados cada.

Foco é evitar enchentes

“Começou a alagar. Antes só inundava a plantação, agora, a água entra em casa”, diz Maria. Foto: Felipe Rosa.

A Vila Rural foi um projeto do governo estadual que iniciou em 1995 e visava fixar famílias no campo, pra combater o êxodo rural e disponibilizar mão de obra para o agronegócio. Em 1997, foi englobado pelo programa Paraná 12 meses, e teve fim em 2007. De acordo com a Secretaria Municipal de Abastecimento (Seab), anualmente a prefeitura fornecia insumos e realizava o preparo da terra para os agricultores, mas interrompeu os serviços porque os proprietários pararam de cultivar. “Técnicos da unidade de Agricultura Urbana constataram que nada estava sendo colhido, e que parte dos insumos, como calcário, eram deixados no tempo se estragando”, alega.

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Quanto às enchentes, o administrador da recém-criada Administração Regional Tatuquara, Edgar Otto Hauber Júnior, diz que um dos fatores causadores é a própria população, que joga lixo e caliça no canal extravasor da Rua Pedro Prosdócimo com a Rua João Enéas Ramos de Sá. Ele revela que na região foram feitas ações de drenagem e desassoreamento de rios para reduzir o problema.

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