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Eles estão ali, num terreno pertencente ao Colégio Estadual Beatriz Faria Ansay, no Tatuquara, há 40 anos. Os moradores dessa ocupação já sabem que terão que sair dali, para dar espaço a um viaduto que vai ligar de forma adequada e segura o bairro Tatuquara à BR-116, nos sentidos norte e sul. Mas os moradores estão na bronca porque não sabem quando e para onde vão, e também porque serão obrigados a comprar um imóvel da Cohab (Companhia de Habitação Popular).

Na verdade, o “Viaduto da Pompéia”, que passa por cima da BR-116, já está pronto desde setembro de 2015, construído pela concessionária Autopista Planalto Sul. Porém está bloqueado porque falta o alargamento da Rua Francisco Xavier de Oliveira, que dá acesso ao viaduto, e a construção de uma alça de acesso para a pista sul da BR-116 (sentido Fazenda Rio Grande), obras que são de responsabilidade da Prefeitura de Curitiba. Mas bem no local onde serão feitas as obras existem 49 famílias, que precisarão ser reassentadas em outros locais.

José: além da prestação, teremos que pagar condomínio, água, luz, gás. Foto: Felipe Rosa

Furiosos

Os moradores não se negam a sair do local. Mas estão bravos por várias imposições da Cohab. A primeira é a obrigatoriedade de comprar um imóvel da companhia. “Aqui já moramos de graça. Teve gente que gastou 50, 60, até 80 mil (reais) construindo sua casinha ao longo da vida e agora teremos que deixar tudo pra trás pra comprar outro imóvel, como se não tivéssemos nenhum. E além da prestação, teremos que pagar condomínio, água, luz, gás. Não temos condições. Também não falam pra onde vão nos levar e dizem que não pode levar cachorro”, reclama o aposentado José Gomes, 65 anos. Segundo ele, a maioria dos moradores trabalha nas proximidades, principalmente na Ceasa (Centrais de Abastecimento do Paraná), e seria inconveniente irem para longe.

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A outra reclamação é quanto ao tamanho do imóvel que a Cohab quer ceder às famílias. Muitas residem atualmente em imóveis de 60 a 70 metros quadrados. Mas, conforme José, a companhia quer mandá-los a sobrados ou apartamentos de aproximadamente 47 metros quadrados. Há ainda o caso de residências onde moram duas, até três famílias, que não caberiam juntas em 47 metros quadrados e reivindicam um imóvel para cada uma delas.

Paulo: além de me darem uma casa pequena demais, ainda vou ter que pagar? Foto: Felipe Rosa

“Além de me darem uma casa pequena demais, ainda vou ter que pagar?”, questiona o aposentado Paulo Campelo da Silva. Na semana passada, técnicos da Cohab estiveram na comunidade e falaram aos moradores que a prestação dos imóveis deverá ser entre R$ 80 e R$ 115, conforme a faixa de renda de cada família. Mas Paulo teme não conseguir terminar de pagar o financiamento de 30 anos imposto pela Cohab, pois ele já tem 82 anos e também não possui condições financeiras de arcar com prestação e condomínio. Em seu terreno, ele possui três casinhas que conseguiu construir. Para quem não se encaixa em nenhuma destas faixas de renda, a prestação deve subir para uns R$ 600.

Viaduto pronto desde setembro de 2015 não tem previsão de ser liberado. Foto: Felipe Rosa

Pra perto!

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A Cohab informou à Tribuna que ainda não falou com exatidão às famílias para onde elas serão levadas, datas da mudança, nem quanto elas pagarão de prestação, porque os técnicos ainda estão fazendo o cadastramento, levantamento socioeconômico e das necessidades específicas de cada morador (idosos, pessoas com deficiência, se possuem ou não animais, etc), para, em seguida, ver como vai distribuí-los nos imóveis da companhia. Mas garantiu que todos serão levados para unidades habitacionais no próprio Tatuquara. De acordo com o órgão, o reassentamento será feito em etapas e a primeira envolverá 17 famílias.

“É importante salientar que nenhuma família é proprietária ou tem posse daquele terreno, cujo domínio é do município. Foi ocupado irregularmente”, destaca a nota da Cohab, ressaltando que o local não é adequado para habitação. Sobre os animais, a companhia cita que esta “é uma forte diretriz deste serviço, que orienta, estimula e conscientiza sobre a importância dos donos não abandonarem seus animais de estimação”.

Ippuc mostra como vai ficar o viaduto depois de pronto. Divulgação/Ippuc

Obra prevê binário

Segundo o Ippuc, responsável pelo projeto do viaduto, a obra fará funcionar todo o conjunto da estrutura viária por sobre a rodovia, possibilitando não somente o acesso ao sul, mas também ao norte, cruzando por cima da rodovia para quem desejar seguir para Curitiba pela BR. “Ao mesmo tempo serão pavimentadas as vias locais para a ligação da BR-116 com o bairro, pela João Batista Bettega Junior, e será formado o binário das ruas Camilo Bueno e Francisca Ferreira da Luz, para facilitar o acesso com segurança ao Colégio Estadual Beatriz Faria Ansay”, detalha.

Para atender aos moradores da última quadra da Rua Francisco Xavier de Oliveira, antes do acesso à BR haverá ainda uma via que permitirá o retorno ao binário por meio da Rua Francisco Wacherski. Com custo estimado de R$ 3,5 milhões, o conjunto das obras para o funcionamento do viaduto, incluindo o sistema viário dos acessos ao bairro, envolve terraplanagem, pavimentação, drenagem, sinalização, paisagismo e implantação de dutos para fibra óptica.

Liberação do viaduto não tem data para acontecer. Foto: Felipe Rosa