No início de 2013, o vigilante Marcos Roberto Santos, 42, finalmente realizava o sonho de morar em uma casa que podia chamar de sua. A residência, na Rua Clóvis Boving, no conjunto habitacional Cerâmicas, no Tatuquara, em nada se assemelhava à casa onde morava antes. Localizada na Vila São Pedro, bairro Xaxim, a residência antiga ficava em uma área de ocupação irregular. Junto com Marcos, cerca de 73 famílias que moravam no local, também foram transferidas para o Tatuquara por intermédio do programa da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), que na época, entregava 194 novas unidades no bairro.

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Na ocasião, os moradores foram chamados às pressas para ocupar as casas. É que as construções estavam na mira de outras 41 famílias desalojadas, moradoras de outra área irregular, chamada Bela Vista da Ordem, situada às margens de um córrego também no bairro Tatuquara. O problema é que essas famílias, ao contrário dos moradores da Vila São Pedro, não estavam cadastradas no programa da Cohab. Semanas antes da mudança, cerca de 100 pessoas invadiram e depredaram 131 casas do conjunto. Para retirar os manifestantes do local foi necessário o apoio de equipes da Guarda Municipal. Por meio de nota emitida na época, a Cohab informou aos ocupantes irregulares que o cadastro das famílias integrantes do movimento poderia ser feito, contanto que as invasões não voltassem a acontecer.

“Ficamos felizes de vir para cá”, diz Marcos. Foto: Felipe Rosa.

Após a retirada dos manifestantes, os moradores da Vila São Pedro puderam finalmente morar com segurança. “Tudo aconteceu de forma muito tranquila. Ficamos felizes de vir para cá”, lembra Marcos. Antes de ocupar de fato a residência, no entanto, alguns reparos foram necessários. “Foi preciso arrumar as portas e janelas, que tinham sido danificadas na invasão. Tirando isso, consideramos as moradias muito boas. Não tenho do que reclamar”, afirma.

Regina Teixeira, 40, chegou ao conjunto na mesma época. “Veio muita gente naquela ’leva’. Antes de morar nós pudemos visitar as casas e eu escolhi uma ao fim da rua onde moro até hoje com meus dois filhos”, conta.

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Assim como o Cerâmicas, outras centenas de conjuntos receberam famílias provenientes de áreas de risco no Tatuquara. Vila Mariana, Boa Esperança, Santa Rita e Santa Cecília são apenas alguns dos blocos que abrigam os 12,9 mil domicílios pertencentes a programas habitacionais na região, segundo o IBGE. O bairro é, de acordo com a Cohab, composto 80% por unidades oriundas do programa de moradia popular. A situação reflete o que vem acontecendo em Curitiba e Região Metropolitana nos últimos anos.

“Nós pudemos visitar as casas e escolher antes de morar”, relembra Regina.

Números

Dados da Fundação João Pinheiro – ligada ao IBGE – apontam que o número de cidadãos sem moradia adequada em Curitiba (o chamado Déficit Habitacional) diminuiu entre 2013 e 2015. São consideradas inadequadas as construções que necessitam ser integralmente reconstruídas, porque foram feitas com materiais precários ou não duráveis, como as favelas. Outras situações que se enquadram na categoria são os casos nos quais mais de uma família moram na mesma casa, quando o aluguel compromete mais de 30% da renda familiar, ou casos de coabitação – quando mais de três pessoas dividem o mesmo quarto, por exemplo.

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Segundo a fundação, em 2013, 7,3% das habitações em Curitiba e região estavam nessas condições. Ao todo, eram 83.954 lares improvisados na capital. Dois anos depois o índice caiu para 6%, com 69.754 residências em déficit. É mais gente morando com qualidade e menos gente ocupando espaços de forma irregular.

O período médio de espera pra receber uma casa varia de acordo com a faixa de renda da família. Foto: Felipe Rosa.

Mesmo com tantas residências ocupadas, o número de pessoas na fila da moradia ainda é grande. Segundo a Cohab, 51.300 famílias aguardam o sorteio para receberem um novo lar. O período médio de espera varia de acordo com a faixa de renda dos inscritos. Para quem recebe até R$1,6 mil, o tempo em fila dura alguns meses. Já para famílias com renda acima desse valor, a chamada é feita por ordem de inscrição.

Outro bairro que tem recebido novas moradias é o Cachoeira, na região Norte da cidade. Por lá, a promessa finalmente saiu do papel e o Residencial Moradias Maringá I, localizado na Rua David Bodziak, vai abrigar 40 novas famílias até o fim dessa semana. A conclusão das obras enfrentou problemas por conta da falência da construtora responsável pelo conjunto, na gestão municipal anterior, e os serviços foram suspensos por quase 3 anos. Depredadas, as construções viraram abrigo para usuários de drogas e um problema para os moradores.

Prazo

Com a retomada das obras, 21 residências foram entregues em setembro. E agora, às vésperas da nova entrega, o cenário é bem diferente comparado ao de alguns meses atrás. As construções receberam nova pintura e tiveram as portas e janelas trocadas. Roseli Antunes dos Santos, 50, era moradora da Vila Nori – área de risco localizada no bairro Pilarzinho. Há 3 meses ela foi sorteada para morar no Maringá I. “Onde eu morava era um problema até para dormir, principalmente quando chovia ou ventava. O terreno era muito irregular e o piso estava podre. Eu orava a noite inteira para que a casa não caísse. Aqui é o paraíso em comparação com o lugar onde morei”, afirma.

E vêm mais casas por aí. No Cachoeira, a Cohab prevê a entrega de 95 novas unidades, distribuídas em dois lotes, até março de 2018. Já no Tatuquara, um novo conjunto residencial formado por 15 blocos e 240 apartamentos tem estimativa de entrega para o primeiro semestre do ano que vem. Ao todo, 876 famílias foram instaladas em moradias do programa em 2017, e a previsão para 2018 é de que 8 mil novas unidades sejam entregues a curto prazo.

Cohab segue com obras pra entregar novas residências no bairro Cachoeira. Foto: Felipe Rosa.