Quer entrar ou sair do bairro Tatuquara de carro ou de ônibus? Então vá com tempo, porque para enfrentar o trânsito de manhã cedo ou no fim da tarde, você vai precisar de muita paciência. A saída pela Rua João Batista Bettega Júnior trava nos horários de pico e há motoristas que demoram até 20 minutos para andar três quadras. O sinal abre e fecha diversas vezes e a BR-116 “nunca chega”. A fila de carros muitas vezes começa lá na Estrada Delegado Bruno de Almeida, que fica a sete quadras da rodovia.
A Rua João Batista Bettega Júnior é uma, das duas únicas entradas que ligam o Tatuquara com “o resto do mundo”. A outra rua de aceso ao bairro é a Jovenilson Américo de Oliveira, que sai lá na Rodovia do Xisto. Mas chegar ao centro e a outros bairros de Curitiba fica muito mais próximo e “fácil” saindo pela João Batista Bettega Júnior e por isto é o caminho escolhido pela maioria dos motoristas. Os ônibus que circulam pelo bairro, inclusive, passam por ali.
“Todo dia a gente roda atrasado, porque aqui na saída pra BR sempre trava, principalmente nos fins de tarde. Sexta-feira então, é aquele caos. A gente já sabe que vai atrasar todas as viagens. E pra entrar no bairro também é difícil. Faz fila ali na BR-116 pra entrar na João Bettega Júnior, porque a Linha Verde vem em três, quatro pistas, mas chega aqui perto da entrada para o Tatuquara afunila em duas pistas só. Se quebra um caminhão nesse caminho então, a fila começa lá na fábrica da Mili”, diz o motorista Sidnei Benício Pimentel, que conduz uma das linhas de ônibus que abastecem o bairro.
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A nutricionista Heloísa Eidam já incorporou a calma e a paciência no dia a dia do trânsito. Moradora no Xaxim, ela enfrenta aquele trânsito todos os dias para chegar ao Tatuquara, onde trabalha. “Olha, são no mínimo 10 minutos de fila pra sair do bairro, ou mais”, contou a profissional, que seguia pela João Bettega Júnior para pegar a BR-116.
Retorno perigoso
Outra coisa que expõe os motoristas a riscos todos os dias é o retorno que precisam pegar para seguir sentido Curitiba. Depois que saem da Rua João Bettega Júnior, entram na rodovia sentido sul (Fazenda Rio Grande) e já pegam o retorno para seguir sentido norte (Curitiba). Mas o retorno é muito perigoso, falta sinalização adequada e exige muita atenção do motorista, para que não entre na frente ou feche alguém que já venha trafegando na rodovia. Um “enjambre”, enquanto o viaduto da Vila Pompéia não fica pronto por completo.
Obra empacada
O problema do trânsito na entrada e saída do bairro Tatuquara pode se resolver com a conclusão do viaduto da Vila Pompéia. Na verdade, o viaduto, em si, foi construído pela concessionária Planalto Sul e está pronto desde setembro de 2015. Mas está bloqueado para o acesso de veículos porque falta o alargamento da rua que dá acesso a ele, a Rua Francisco Xavier de Oliveira, e a construção de duas alças de acesso: uma que escoará o trânsito do Tatuquara para o sentido sul da BR-116 (Fazenda Rio Grande) e a outra que fará retorno para o bairro (pela Rua Francisco Wacherski). Mas pasmem leitores, apesar do projeto já estar em andamento há mais de dois anos, as alças de acesso só foram incluídas nele no início deste ano. Isto fez o custo da obra saltar de R$ 3,5 milhões para R$ 6,8 milhões, quase o dobro.
Com exceção do viaduto, o restante das obras é de responsabilidade da prefeitura de Curitiba e estão paradas porque é preciso remover cerca de 50 famílias que moram exatamente onde será construída a alça de acesso sul. O terreno onde estão as famílias pertence ao Colégio Estadual Beatriz Faria Ansay e foi ocupado há 40 anos. A Companhia de Habitação Popular (Cohab) já está providenciando as novas moradias para estas famílias. Mas todo este processo, além de demorado (já se arrasta há quase três anos), está deixando muita gente insatisfeita.
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“A Cohab fez o levantamento das famílias, fizeram marcações nos portões das nossas casas. Mas ainda não sabemos quando vamos mudar daqui, nem para onde vamos”, reclama o aposentado José Gomes, 66 anos, contanto que, em março, a Cohab chamou os moradores para uma reunião e este foi o último contato feito. “Na reunião disseram apenas que das 50 famílias, apenas 10 seriam removidas”, disse José, que viu um engenheiro da prefeitura fazendo alguns rascunhos à beira do viaduto, há algumas semanas.
“Pior é que não falam pra onde vão nos levar”, disse o mecânico José Henrique Brum da Silva, 35 anos, que não sabe ao certo se a sua casa será ou não uma das removidas. Enquanto isso, o viaduto, que existe há exatos três anos, já foi pichado diversas vezes e a concessionária tenta mantê-lo limpo.
Orçamento duplicado
Em outubro do ano passado, o prefeito Rafael Greca anunciou que a viabilização das obras estava em processo final. Nesta época, a prefeitura informou um orçamento de R$ 3,5 milhões. Em março deste ano, quando o prefeito assinou a autorização para que o edital de licitação fosse publicado, o orçamento saltou para R$ 6,8 milhões.
O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e a Secretaria Municipal de Obras Públicas (Smop) informaram que, não se sabe por qual motivo, a gestão anterior não havia incluído as alças de acesso no projeto. Agora, a licitação está em prazo final de análise de recursos e a previsão é a de que até o fim de setembro ocorra a contratação da empresa vencedora para a execução das obras.
O conjunto das obras do Viaduto Pompeia, explica a prefeitura, inclui as intervenções no sistema viário das vias envolvidas, com terraplanagem pavimentação, drenagem, sinalização, calçada e paisagismo. Depois de tomar posse, o prefeito Rafael Greca viu que a inclusão das obras e demais melhorais era importante e mandou incorporá-las ao projeto. “O tempo decorrido desde então foi necessário para a aprovação do projeto das alças de acesso, junto a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), a readequação das redes de água e esgoto no local, por parte da Sanepar”, diz a nota da Smop/Ippuc.
Mas e as famílias?
Conforme a Cohab, neste primeiro momento serão removidas 14 famílias, que serão realocadas para as Moradias Creta, casas que vão ser construídas no bairro Tatuquara, a cerca de um quilômetro de onde estão atualmente as famílias. Serão 17 casas e levarão um ano para ficarem prontas. As 14 famílias selecionadas para ocupar as casas irão pagar o financiamento do imóvel conforme a renda que possuem. E caso as obras do viaduto avancem antes das Moradias Creta ficarem prontas, já está garantido às 14 famílias o auxílio moradia, ou seja, uma ajuda com o aluguel temporário em outra residência.
Quanto às outras 36 famílias que vão permanecer no local, a Cohab informou que terão que sair do terreno também, visto que as moradias foram irregularmente construídas numa área pública. Mas isto ainda não tem prazo para acontecer, nem local para onde as pessoas serão realocadas. Ainda é uma ação futura da Cohab a ser definida.
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