Por Maria Luiza Piccoli
Quem já ficou desempregado sabe que procurar trabalho dá trabalho. Pelo menos é assim que tem sido para a Lucilene de Oliveira, 34. Desempregada há 6 meses e mãe de seis filhos, a moradora do Tatuquara se habituou à rotina que começa sempre igual. As 7h30 deixa os caçulas Mauro (6), e Kaio (4) na escola e, enquanto a mais velha, Mirielen (17), faz o serviço em casa, ela segue em busca de uma nova colocação no mercado. De porta em porta, a ex-copeira se apresenta. Currículo em mãos, não faz distinção entre as oportunidades. ‘Já fui a entrevistas em empresas, lojas, casas de amigos, indicação de conhecidos. Onde eu sei que tem chance, eu vou, mas até agora nada‘, lamenta.
Há alguns meses, apareceu uma oportunidade. Na Superintendência Regional do Trabalho e do Emprego (Sine) do bairro, a vaga para auxiliar de cozinha havia sido anunciada por uma empresa no Boqueirão. O desânimo veio na hora da entrevista. ‘Eram 60 mulheres para uma só vaga. Cheguei na empresa e vi toda aquela gente na fila. Na mesma hora desanimei‘, lembra. A busca pela recolocação formal no mercado de trabalho começou há quatro anos, quando a empresa terceirizada na qual Lucilene trabalhava como copeira cancelou o contrato com a multinacional que a hospedava.
Informalidade
Sem renda proveniente do trabalho, a saída que muita gente encontra é o ingresso na informalidade. É o caso de Lucilene, que trabalha como diarista três vezes por semana. A negociação com as clientes é verbal, e o trabalho é feito conforme a demanda. Além dos “bicos”, a ex-copeira recebe R$ 490 por mês, provenientes do programa Bolsa Família. Na ponta do lápis, ela faz contas: só de supermercado são R$ 200. As compras são feitas em uma unidade do Armazém da Família. “Leite, achocolatado, açúcar, café. É só o básico mesmo. Ainda tem a tarifa de água, que dá R$ 160. Aí não sobra pra nada. Quando chega o fim do mês a situação aperta, ainda mais quando precisa comprar remédio ou quando aparece alguma emergência”, conta.
Desocupação recorde
Lucilene está sem emprego com carteira assinada desde 2013, mesmo período no qual, segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), cerca de 4,2% da população economicamente ativa (pessoas de 10 a 65 anos de idade) do Estado estava desempregada e sem nenhuma fonte de renda formal. A partir dali, segundo dados do instituto, a situação só piorou.
De acordo com o Ipardes, a taxa de paranaenses sem ocupação nunca atingiu níveis tão altos como no primeiro trimestre de 2017. Conforme levantamento realizado pelo órgão, de janeiro a março deste ano, 10,3% da população do Paraná estava desempregada – enquanto o índice nacional era de 13,3%. Isso significa um incremento de 2,2 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2016 – no qual 8,1% da população estadual não tinha nenhuma ocupação. A situação espanta ainda mais quando comparada ao primeiro trimestre de 2015. Há dois anos, a porcentagem de desempregados no Estado era de 5,3% da população, o que representa um aumento de 5 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2017.
A passos de formiga, a situação começa a mudar. No segundo trimestre de 2017, a taxa de desocupação no Paraná diminuiu para 8,9% – contra 13% de média no país -, mas a perspectiva é melhor para o ano que vem. A previsão do Ipardes é de que a partir do primeiro semestre de 2018, as demandas de consumo aumentem, fazendo com que surjam novas oportunidades e contratações. Mas até que isso aconteça, muitas famílias ainda terão nos programas sociais de transferência de renda a única fonte fixa de receita.
O jeito é “dar um jeito”
Mesmo com a dificuldade para achar emprego, muita gente usa a criatividade para encontrar soluções até que apareça uma oportunidade. É o caso da professora de inglês Gisele Reuter, 29, moradora do Xaxim. Desempregada há 4 meses, ela começou a dar aulas particulares para complementar a renda. Além da questão financeira, a adaptação à nova rotina de trabalho exigiu algumas mudanças. As aulas são dadas à noite e na residência dos alunos. Antes, com 6 turmas, a professora trabalhava de segunda a sábado em uma escola de inglês. “Era mais prático, e o volume de alunos bem maior. Agora trabalho só às terças e quintas. A renda diminuiu, mas é melhor que ficar parada”, afirma.
Como diz o ditado, tudo tem seu lado bom. De acordo com Gisele, a perda do emprego representou um divisor de águas na vida profissional, e agora, com mais tempo livre, ela se dedica a buscar oportunidades na área com a qual sempre quis trabalhar. “Há muito tempo eu sonhava em mudar para a área de auditorias, porém estava estagnada na carreira de professora. No fim das contas, isso acabou me impulsionando a buscar o trabalho que sempre quis”, comenta.
Em marcha lenta
Segundo o diretor de pesquisas do Ipardes, Daniel Nojima, os altos índices de desocupação no Paraná são um reflexo da crise de 2015, ano em que o Brasil viveu a pior recessão econômica da história. Com o forte recuo no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, o mercado de consumo foi o mais afetado. Com isso, a taxa de desemprego aumentou exponencialmente não apenas aqui, mas em todo o país, e a situação demora a mudar. Dados do IBGE mostram que a taxa de desocupação nacional esteve na margem dos 12,8% entre maio e julho deste ano. De acordo com Nojima, a reação do mercado à crise existe. Mas caminha a passos lentos. “A demanda no mercado de consumo começa a aumentar, porém não a ponto de justificar novas contratações. O PIB reagiu, mas isso ainda não alcançou o mercado de emprego”, afirma.
Alguns fatores – também reflexos da crise – agravam ainda mais a situação para quem está procurando uma oportunidade no mercado de trabalho. Um deles é a revisão, por parte das próprias instituições, das políticas internas de produtividade. “As empresas tiveram que dar um jeito de distribuir mais serviço para menos funcionários. Com isso, quem não foi demitido acabou cumulando funções, e agora essa é a realidade do mercado.
Para que haja necessidade de contratações, é necessário que haja mais demanda de serviço”, explica Nojima. O ingresso de novos trabalhadores no mercado de trabalho, a cada semestre, também tem servido para engrossar o caldo do desemprego, uma vez que o número de desocupados se mantém estagnado.