Por que parou?

Clube perdeu plantel, arrendou parte da área e está impedido de realizar provas até obter nova autorização. (Giuliano Gomes)

Amantes das corridas de cavalo como o corretor de imóveis aposentado Rolim de Moura, 75 anos, estão preocupados. E não é para menos. O Jockey Club do Paraná, segundo hipódromo mais antigo do Brasil, não promove novas corridas desde o dia 20 de junho do ano passado. “A gente não sabe o que aconteceu. As corridas acabaram? O clube vai fechar?”, questiona Rolim.

Alvará para construção do shopping deve sair até fevereiro. (Giuliano Gomes)
Alvará para construção do shopping deve sair até fevereiro. (Giuliano Gomes)

Além da perda de público de todo o turfe brasileiro, no caso do Hipódromo Tarumã ainda existe outro agravante. As corridas foram canceladas depois que a carta-patente, concessão do Ministério da Agricultura, foi cassada há quase oito meses. Segundo a assessoria do clube, um funcionário da comissão de corridas perdeu o prazo para solicitar a renovação do documento e o clube foi notificado. No entanto, com a eleição da nova diretoria em março deste ano, a expectativa é conseguir a liberação novamente.

jockey_03Para o ex-treinador Silvio Batista Piotto, 74 anos, desde a inauguração do hipódromo até 2012, o clube tinha uma média de 900 cavalos por mês, o que rendia reuniões semanais quase ininterruptas, sendo que no auge dos anos 80 o Jockey chegou a ter 1.240 animais e duas reuniões semanais. “A partir de 2012, porém, com a negociação do clube para a construção do shopping foram demolidas cerca de 800 cocheiras, o que reduziu o plantel para 400 animais. Isso tornou difícil manter uma frequência maior de corridas”, explica Silvio, que também trabalhou por mais de 40 anos como administrador do setor 5 de treinamentos das cocheiras do Jockey Club e tem na história da família o amor pelas corridas. De acordo com a assessoria de imprensa do clube, porém, a área arrendada para o shopping não interferiu no número de animais, uma vez que os espaços já estavam vazios.

Jockey chegou a ter 1.240 animais e duas reuniões semanais. (Giuliano Gomes)
Jockey chegou a ter 1.240 animais e duas reuniões semanais. (Giuliano Gomes)

Salvação?

Para tentar restabelecer as contas e conseguir atrair novos investimentos, parte da área do clube foi arrendada por investidores por 30 anos para a construção do Jockey Plaza Shopping, formada pelo Grupo Tacla, Casteval e Paysage. O empreendimento terá cerca de 200 mil metros quadrados de área construída e a previsão é que o alvará para construção do shopping saia até fevereiro.

O Jockey irá receber 10% do faturamento líquido das lojas, o que resultaria em uma renda mensal de R$ 600 mil. De acordo com a assessoria de imprensa, com esse valor será possível pagar todas as contas do clube. Cerca de R$ 200 mil serão destinados para pagamento da folha de funcionários e todas as manutenções e o restante será investido em melhorias, como a aquisição de novos materiais, aumento da premiação e melhoria nas corridas.

Clube perdeu plantel, arrendou parte da área e está impedido de realizar provas até obter nova autorização. (Giuliano Gomes)
Clube perdeu plantel, arrendou parte da área e está impedido de realizar provas até obter nova autorização. (Giuliano Gomes)

Programa da elite

A história do Jockey Club do Paraná, segundo mais antigo do país, começou com a eleição da primeira diretoria no dia 2 de dezembro de 1873 e o primeiro Grande Prêmio do turfe paranaense foi instituído em fevereiro de 1886. Grandes provas surgiram no início da década de 40, como a Grande Prêmio Paraná.

Durante 56 anos as instalações e as corridas promovidas pelo Jockey estavam localizadas onde hoje é o terreno da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), no Guabirotuba. Depois o espaço mudou para o bairro Tarumã, onde está até hoje. A inauguração do tão sonhado hipódromo aconteceu em dezembro de 1955, com a presença de personalidades ilustres como o então governador do Estado Bento Munhoz da Rocha Netto e o prefeito de Curitiba Ney Braga. Neste dia, foi dada largada para a primeira corrida no Hipódromo do Tarumã.

As corridas que aconteciam nas tardes de domingo eram o grande programa das famílias curitibanas, especialmente da alta sociedade paranaense. “As corridas eram eventos sociais importantíssimos frequentados por um público diferenciado e elitizado. Tinha até a presença de políticos. As pessoas desfilavam com seus trajes de gala, muitos iam para ganhar dinheiro e outros para se divertir”, conta Rolim.

Sem público, sem aposta

O período de ouro do turfe brasileiro, que aconteceu entre as décadas de 50 e 80, perdeu brilho e força. As corridas glamorosas perderam público e sem grandes investimentos, o esporte se tornou pouco lucrativo. “Nos anos 60 o valor de uma vitória pagaria o custo para manter um animal por 10 meses. Hoje, por exemplo, esse valor daria conta de pagar os custos por apenas três meses”, explica Silvio.

Segundo ele, o turfe sofreu muito com a concorrência de outras apostas, como os diversos jogos da loteria, e também devido às casas de apostas. Além disso, a partir do momento que as corridas passaram a ser televisionadas, o público parou de ir ao hipódromo. “Sem público e com tanta concorrência tivemos uma forte redução no movimento de apostas e o clube vive disso. Centenas de pessoas estão envolvidas pois o clube é um grande empregador, sejam criadores, tratadores, jóqueis, entre outros”, comenta Silvo.

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