Unidos do Salgueiro

Há 35 anos, a Associação de Moradores do Conjunto Salgueiro, no Sítio Cercado, concentra o pessoal do bairro em torno de iniciativas comunitárias e atividades diversas, e pressiona o poder público para obter melhorias para a região. Às quartas-feiras e sábados, a meninada joga futebol. Às quintas, idosas se reúnem para fazer tricô, crochê e artesanato, além de lancharem e trocarem um dedo de prosa. Voluntários organizam oficinas de teatro e fotografia, promovem saraus culturais e juntam esforços para a sede da associação, que fica na Rua Netuno, 63.

O engajamento e a vontade de fazer as coisas acontecerem é uma característica dos moradores da região. Tanto é que o Conjunto Salgueiro foi a comunidade que participou mais ativamente do projeto “Nosso bairro, Nossa Casa”, que os Caçadores de Notícias desenvolveram em 2013 e ganharam uma festa e a revitalização da associação. Na época, a Tribuna mostrou histórias de protagonismo, de gente que melhora o local onde vive através de pequenas atitudes.

“O projeto foi muito bacana, serviu como um espelho para que outros moradores façam e continuem fazendo coisas positivas”, diz o presidente da associação, Claudio Antônio de Oliveira, morador do bairro há 40 anos. Ele conta que neste ano o pessoal se juntou para trocar o telhado da sede, aparou a vegetação em volta das quadras de futebol e retirou resíduos de material de construção das imediações. “Infelizmente, tem pessoas que acham que o Ribeirão das Padilhas é um valetão e jogam caliça”, lamenta.

Rua limpa

Foto: Felipe Rosa
Associação oferece oficinas de crochês, pinturas, teatro e futebol. Foto: Felipe Rosa

Os maus hábitos de uns acabam fazendo com que outros tenham de se mexer pra deixar tudo ajeitado. Uma das que põem a mão na massa é a dona de casa Abegail Simplício Rodrigues, de 82 anos. Todos os dias ela varre a Rua Netuno, do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Salgueiro até a quadra de areia da associação de moradores. “Nos fins de semana o povo vem e deixa garrafa de bebida, os donos trazem os cachorros pra passear e não trazem sacolinha. Alguém tem que limpar, né?”, diz ela, que aproveita a varrição para fazer exercício físico.

Dona Bega, como ela é conhecida no bairro, relatou um episódio que prova sua tese de que “abrir a boca” para reivindicar dá resultado. “Semana passada eu cheguei naquela polícia azul [Guarda Municipal] e perguntei se eles é que faziam a ronda. Quando disseram que sim, pedi para descobrirem quem era o dono de uma caminhonete que ficava fazendo barulho de madrugada, atrapalhando os idosos e doentes a dormirem. Eu disse que não precisava dar bordoada nem xingar, era só pedir para parar a barulheira. Deu certo, foi um santo remédio!”, comemora.

Tricotando

Foto: Felipe Rosa
O grupo Amigas do Salgueiro se encontra na associação todas as quintas para bordar, fazer peças de tricô e crochê. Foto: Felipe Rosa

O grupo Amigas do Salgueiro se encontra na associação todas as quintas, às 14h, para bordar, fazer peças de tricô e crochê, móveis de boneca e objetos de decoração. As 25 idosas são orientadas por uma assistente social da Fundação de Ação Social (FAS) e fazem bingos com o que produzem, para arrecadar fundos para o lanche. “A gente vem aqui e costura, borda, conversa, as que gostam de expor os problemas pedem conselhos, trocamos receitas de bolo, é uma terapia. Bem melhor do que se aposentar e ficar em casa comendo e dormindo, depois dá depressão, diabetes…”, diz a aposentada Mônica Chiste, 55.

“Pra mim toda quinta-feira é sagrada, não assumo nenhum compromisso porque é dia de grupo. Todas gostam e dizem a mesma coisa, que não veem a hora de vir. E de vez em quando trago chimarrão pra dar uma animada”, diz a aposentada Márcia Weinhardt, 73.

Segundo a prefeitura, construir quadras cobertas e bibliotecas nas escolas municipais onde houver espaço é uma das metas do plano de governo desta gestão, mas não há previsão para CMEIs. A administração reforça que é importante a comunidade participar das audiências públicas para discutir e propôr sugestões do bairro para o orçamento.

Quadra molhada

Foto: Felipe Rosa
Jogadores reclamam da condição da quadra. Foto: Felipe Rosa

Às quartas-feiras e sábados, é realizado o projeto de futebol com os meninos do bairro. Vinícius Miguel Borges, 13, e Yohan do Pilar Jesus, 12, gostariam de poder praticar seu esporte favorito toda semana, mas nem sempre é possível. “Quando chove, o jogo é cancelado, a quadra fica toda encharcada”‘, contam. De acordo com o presidente da associação de moradores, a quadra de piche onde os rapazes treinam tem mais de 25 anos, e nunca foi reformada. “Fizemos um ofício conjunto para as secretarias municipais de Cultura, Educação, Esporte e Lazer e Obras, para pedir uma quadra coberta que atendesse ao CMEI e também à comunidade. Seria o ideal”, diz Claudio. Ele observa que as telas de metal da quadra estão passando da hora de serem trocadas.

Segurança

O presidente da associação dos moradores comemora que há tempos a sede não é alvo de criminosos. “Desde 2007 não entram pra roubar nada. Da última vez, entraram por cima e tivemos que trocar a telha. Pegamos o dinheiro que seria usado para uma festa para fazer o conserto, e eles viram que prejudicaram a comunidade toda. Nunca mais invadiram”, conta. A associação faz três festas grandes por ano: na Páscoa, no Dia das Crianças e no Natal.

A falta de manutenção nos arredores, no entanto, prejudica a segurança, diz Claudio. “O mato alto em volta do CMEI é um problema, é perigoso”, observa. Para a presidente do Conselho de Segurança (Conseg) do Sítio Cercado, Palmira de Oliveira, a principal demanda da região é um trabalho de prevenção ao uso de drogas e tratamento de dependentes. “A violência em si é por conta da desestrutura familiar gerada pelas drogas. Tem muitos pais e mães desesperados, que não sabem o que fazer com seus filhos usuários. Por esses matos na beira dos córregos fica muita gente usando droga”, afirma.

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